Papo de Mãe

Entrevista com Lúcia Rosenberg sobre muitos filhos e a relação entre irmãos

pmadmin Publicado em 30/10/2009, às 00h00 - Atualizado às 02h38

30 de outubro de 2009


Oi, gente!Gostaram do programa de hoje? Estava especialmente divertido com aquela garotada toda no estúdio, não é verdade?Bem, conforme sempre fazemos, segue mais uma entrevista com um especialista. Desta vez, a repórter Rosângela Santos conversou com a psicoterapeuta Lúcia Rosenberg sobre o tema da semana: muitos filhos nos dias de hoje e a relação entre irmãos. Confiram o que ela tem a dizer e façam seus comentários! RS: Filhos múltiplos ou muitos filhos: existe segredo para esta mãe para que tudo dê certo?
LR: A primeira regra é não generalizar. É não fazer regras. Mas acho que existe um ingrediente básico que eu chamo de aceitação do prazer em conhecer cada um desses filhos que compõem esta família. A tendência de quando se tem muitos filhos é de uniformizar, fazer um pacote de filhos e tratá-los todos da mesma maneira. Os pais criam regras que facilitam suas vidas. Mas complicam a vida dos filhos, pois a compreensão do sentido das regras não é oferecido, é regra e pronto. Então, as crianças só podem usar tal quarto, comer em tal hora, ir para o colégio, fazer esporte… Há pouco espaço para cada filho se apresentar e se revelar com toda a sua natureza. Seria como plantar um monte de árvores todas grudadinhas. Elas não têm espaço para crescer e se expandir… O grande segredo é ter o prazer de conhecer cada um dos filhos que você trouxe ao mundo.RS: Existem pais que falam “nossa, está vendo, eu crio todos iguais, mas eles são tão diferentes”. E eles são diferentes?
LR: Fundamental esta pergunta. Criar os filhos da mesma maneira, oferecer auxílios e as mesmas coisas parece justo, mas é tornar os filhos “tamanho único”. Cada um é um. Cada um tem sua natureza, seu jeito, seus limites, seus recursos, suas potencialidades, suas mágoas… Não se deve tratar todos iguais. Ao contrário, acho que o grande gesto de amor é ter espaço, curiosidade, compreensão e aceitação para que cada um possa ser como é.RS: Como lidar com o ciúme?
LR: O ciúme é muito motivado pelo filho sentir que o irmão tem necessidades preenchidas e ele não. Então, se os pais conseguirem olhar individualmente para cada filho, a chance de preencher a necessidade de cada um, os desejos de cada um, aumenta muito. Diferentemente de você uniformizar ou tomar um como exemplo: “Ah, deu tão certo com o primeiro, eu fazia assim e ele respondia da maneira que eu queria… Eu vou fazer assim com todos porque, afinal de contas, filho se trata assim…” Não é verdade!!! Filhos são pessoas e a gente não pode esquecer que não existe um ser humano igual ao outro no mundo. Então, mesmo que você crie da mesma maneira, as pessoas são diferentes – um é tolerante, o outro é bravo, a outra é carinhosa, um é atento, o outro é avoado… São características da natureza de cada um. Isso deve ser respeitado.RS: Como fica no caso de gêmeos e trigêmeos?
LR: Acho muito importante não vestir igual. Já basta ter o mesmo rosto. Continuam sendo duas pessoas diferentes. A gente percebe isso em gêmeos logo bebês. São diferentes – um mais dorminhoco, um tem mais fome. E as diferenças só tendem a se desenvolver. Se tudo der certo, cada um vai ser diferente do outro. Isto é sinal de que estamos oferecendo condições para que aquela criatura se expresse do jeito que é. A única coisa que é para sempre é filho. Não conheço mais nada que seja para sempre. É um projeto de longa duração. Projeto de vida. Temos que reconhecer as diferenças e aprender com elas. Filho é uma grande escola e a gente não sabe ser mãe antes de ter filho. RS: Muitas mães dizem que não conseguem se dividir e ficam com muita culpa. Como mulher deve fazer?
LR: Primeiro ter calma, muita calma. Depois, ter ajuda, muita ajuda. Acho que em torno de uma mãe de 3 filhos deve-se fazer uma ciranda de mulheres – mãe, avó, tias, irmãs… Acho que a gente deve lançar mão deste recurso antigo. Eu não estou falando de serviçais. No meu livro, Cordão Mágico, falo do umbilical, mas nós mulheres temos uma ciranda mágica que nos une e que, antigamente, a gente aproveitava mais. Não é fácil você ter mais de um. Dois, ainda segura, mas 3 não é fácil! Mas a gente tem que se adequar à realidade que a vida nos presenteou. A mãe não pode ter culpa de não conseguir dar para 3 o que ela conseguiria dar para um de cada vez. Mas ela vai aprender a ter calma, vai ensiná-los a esperar. A vez dele vai chegar. Não vai faltar o colo, o seio, o leite… Mas há tempo de espera. Quando a mãe não é aflita, com culpa, se sentindo atrasada todo tempo, o filho espera ali na chupeta, no colo da vovó… Os meus filhos têm uma diferença de idade muito pequena. Então, na hora de dar de mamar, eu dava para um de cada vez. Mas é um momento que gera ciúme no mais velho. Então, na hora, eu chamava o mais velho, colocava o nenê no peito e maiorzinho no colo durante toda mamada até ele dizer que queria brincar. Ok, não fui eu que o tirei, ele que não quis mais… Quando nasceu o terceiro, o banquinho usado para escovar os dentes virou banquinho da ordenha. Então, sentava o mais velho no banquinho com cabeça no colo, o nenê no peito e aí a do meio ficava deitada no ombro – temos foto disso! Não tinha exclusividade, nem exclusão. Tem que inserir um irmão com o outro, tem que ser assim…RS: E o papel do pai hoje em dia?
LR: Eu acho que vem crescendo muito. Ele vem ampliando atributos. Antigamente, o papel do pai era prover e punir. “Deixa seu pai chegar que você vai ver…” Isso mudou muito. Tem um livro de um italiano que a capa é o pai segurando o filho como a mãe segura: perto do peito. No filme Rei Leão, o filho nos braços do pai era mostrado… O pai vem abraçando a paternidade. Hoje se vê mais pais trocando fralda, buscando na escola, levando para o tênis, participando de reuniões… Atributos que antes eram estritamente maternos. RS: O filho mais velho é exemplo?
LR: Filho é escola de mãe. No primeiro filho, a gente rascunha bobagens. É importante saber se retratar, pedir desculpas, saber onde exagerou, onde exigiu demais. O mais velho só veio antes, mas é tão filho quanto o caçula. Exemplos somos nós: pai e mãe. Esta é a nossa responsabilidade. Irmão mais velho não nasceu para ser exemplo para ninguém. O que eu recomendo é estimular o mais velho que ele seja um irmão muito legal, que dê apoio, seja parceiro, cúmplice, que goste de ensinar o mais novo – se tiver paciência. Mas ele não foi feito para ser exemplo para ninguém. RS: As mães quando engravidam do segundo filho ficam com culpa, não sabem o que dizer… Como preparar a criança para chegada de um irmão?
LR: Lembro quando estava grávida da minha segunda filha… Eu olhava para o Mateus e pensava “meu Deus, não vou gostar de ninguém que nem eu gosto dele, como vou fazer???” Esse milagre do tamanho do coração de mãe é tão legal de perceber, né? Acho que todas as mães passam por isso. Poucas revelam, mas todas passam. A barra de chegar e encontrar um nenê não é fácil, não. A criança precisa de compreensão e cumplicidade diante da dificuldade que vai enfrentar para reencontrar seu lugar. O que atenua o ciúme é não deixá-lo de escanteio com a chegada do bebê. Tem que ter ajuda. O pai deve sair com o mais velho. A mãe pode deixar o pequeno com alguém e sair com o mais velho…RS: Mãe tem receita?
LR: Aceitação, amor, curiosidade, criatividade… Acho que não é receita, né? São dicas fundamentais. A calma, muita calma… Não tentar forjar o filho, fazer com que ele seja o que você quer ou que realize o que você não conseguiu. Você é você e cada um dos seus filhos é um indivíduo. Acho que a grande receita é lembrar disso… É isso aí!!! E para quem não conseguiu assistir, tem reprise do programa no domingo (13h30), na segunda (12h30) e na terça (18h30). Não percam!!!