Papo de Mãe

Como a dor da endometriose afeta o psicológico de uma mulher?

Roberta Manreza Publicado em 23/09/2016, às 00h00 - Atualizado às 23h22

Imagem Como a dor da endometriose afeta o psicológico de uma mulher?
23 de setembro de 2016


Por Caroline Salazar*

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Já falamos no blog A Endometriose e Eu sobre o perfil psicológico de uma portadora de endometriose escrito pela psicóloga Ana Rosa Detílio Mônaco, mas numa enquete na fanpage do blog muitas leitoras pediram para falar sobre como a endometriose afeta nosso emocional. Como portadora da doença e como aquela que sofreu 21 anos com as dores severas – 18 deles sem saber o que eu tinha – vou falar como é viver 24 horas do dia com dores. Eu vivi assim por muitos e muitos anos e é assim que vivem muitas das 10 milhões de portadoras brasileiras. E que dores são essas? Elas começam com uma cólica no período menstrual – podem ser como pontadas de facas, agulhadas, cortante, dilacerante – e vai aumentando, aumentando até chegar a tomar conta da nossa vida, mesmo nos dias fora da menstruação. Com o tempo vão surgindo outras dores, nas pernas, na lombar, até um momento em que tudo no nosso corpo dói. Dói para urinar, para evacuar, para transar, ou seja, nossa vida se transforma num pesadelo de dores. E aí quem tem dor sempre está com um semblante estranho, mais triste, e é aí que as pessoas que convivem conosco começam a perguntar: “Nossa o que você tem que está com esta cara?”.

Quando a mulher ainda não tem o diagnóstico, a gente fala o que: que estamos com dor, e como não sabemos de onde vem a dor tem momentos que pensamos que estamos loucas. Se tiver o diagnóstico somos sempre aquela que está com dores, que é fraca ao ponto de não aguentar uma cólica, que é preguiçosa e por aí vai… A outra pessoa não pensa que dentro daquela mulher que sofre tem um sentimento, que corre sangue, que é um ser humano. Como fica o nosso psicológico, o nosso estado emocional? Péssimo! E péssimo em vários sentidos, pois como a outra pessoa não sabe o que é viver com dores incapacitantes e acha que a endometriose é uma doença que se dá apenas quando a mulher está menstruada, recebemos desprezo e xingamentos. Acham que a doença é frescura, temos de temos de escutar baboseiras do tipo: engravida que passa, quando casar melhora, mulher tem de sofrer mesmo…

Sentir dores diariamente pode nos deixar em depressão. Aliada à incompreensão das pessoas também podem nos levar à depressão, e eu passei por isso. A endometriose é uma doença que afeta a mulher num todo. Muitas vezes não conseguimos levantar da cama. Ter dores por todo o corpo afeta nossa qualidade de vida, nos deixa muito nervosa, impaciente. Muitas endomulheres não conseguem viver sua vida profissional, muito menos a pessoal e isso é muito grave. Quem quer viver numa cama? Quem não quer trabalhar? Quem não quer estudar? Quem não quer namorar? Quem não quer sair com os amigos? Tudo isso, coisas comuns do nosso dia a dia, são roubadas pela endometriose.

Tudo isso mexe muito com nossa cabeça, muitas não têm mais ânimo para a vida e até pensam em morrer. Muitas chegam a cometer algo contra sua própria vida. É uma fase difícil e precisamos ser muito fortes para superar, mas acredite: você irá superar assim como superei. Em primeiro lugar acredite no que você sente e busque ajuda especializada. Não ouça terceiros, deixe-os falar, mas se escutar não alimente isso dentro de você. Sim, você tem um problema muito sério, em muitos casos não será na primeira cirurgia que você ficará sem dor, talvez, nem na segunda. Então, mesmo após a cirurgia você poderá continuar com dores. Retirar os ovários e o útero não significa que você ficará livre da doença. Se ficar algum foco no seu corpo, mesmo sem os ovários a doença poderá continuar e aumentar dentro do seu corpo.

Manter mente sã quando estamos diante da dor e da ignorância humana é muito difícil. Eu sei disso, mas se eu consegui você vai conseguir também. O meio estressante o qual uma endomulher vive também influência e muito em suas dores. Nosso estado emocional afeta muito a qualidade não só da nossa vida, mas das dores também. Sempre que possível procure fazer algo que te dê prazer.  Procure espairecer, mesmo que seja sozinha. Eu saía muito para caminhar sozinha, principalmente, quando vivia momentos de tensão, seja de dor ou de incompreensão das pessoas. Eu realmente aprendi a viver comigo mesma. Comigo e com Deus, pois saiba que Ele nunca nos desampara e que Ele vê tudo.

Outro fator muito importante é o médico especialista entender e tratar sua paciente como um todo, não apenas a doença ou o órgão afetado. Quantas e quantas vezes eu chorei no consultório do meu. Ninguém me entendia, eu parecia uma E.T. no mundo, mas ali eu tinha alguém que compreendia o que eu passava. Ter um profissional que te escute, que entenda seu sofrimento ajuda a melhorar nossa autoestima, o nosso psicológico e a entender melhor sobre a doença. Se você precisar de ajuda psicológica não hesite em procurar ajuda, mas ache um profissional que entenda sobre a doença.

Não é fácil viver com dores incapacitantes, postergar planos, ter um corpo inchado por conta das altas doses de medicamentos para conter as dores. Não é fácil viver e conviver com a endometriose. Por isso você, endomulher, tem de acreditar naquilo que você sente. Cada endometriose é de um jeito, cada organismo reage de um jeito, mas você tem de ser forte para reagir sobre a sua vida e não esmorecer até o fim da batalha. Quem vive com as dores da endometriose enfrenta uma guerra diariamente. Somos guerreiras por natureza. Acredite em você! Eu acredito em você. Beijo carinhoso!!

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*Caroline Salazar é jornalista, idealizadora do blog ‘A Endometriose e Eu’ e capitã brasileira da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose.   Blog: http://aendometrioseeeu.blogspot.com.br/  Facebook:  https://www.facebook.com/aendometrioseeeu

Assista ao Papo de Mãe sobre Endometriose:




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