Papo de Mãe

Batalha interior: doenças autoimunes podem se instalar antes do nascimento

Roberta Manreza Publicado em 05/07/2015, às 00h00

Imagem Batalha interior: doenças autoimunes podem se instalar antes do nascimento
5 de julho de 2015


Alteração em gene desencadeia doença autoimune em bebês durante a gestação

Agência Fapesp

Revista Pesquisa FAPESP – As doenças autoimunes, nas quais o sistema de defesa se volta contra o próprio organismo, podem surgir mais cedo do que se imaginava. Em casos raros, descobriu-se agora, podem se instalar antes mesmo do nascimento. Pesquisadores brasileiros identificaram em duas famílias – uma do interior de São Paulo e outra do interior do Paraná – casos de crianças que logo após o parto já apresentavam sinais de uma enfermidade autoimune incomum e grave: a síndrome da imunodesregulação, poliendocrinopatia e enteropatia ligada ao cromossomo X (IPEX).

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Células de defesa da própria criança atacam múltiplos órgãos que deixam de funcionar adequadamente (ilustração: Pesquisa FAPESP)

Nessa síndrome, células de defesa da própria criança atacam múltiplos órgãos, que depois de semanas ou meses de agressão contínua deixam de funcionar adequadamente e geram os sinais clínicos reconhecidos pelos pediatras. Como os bebês de São Paulo e do Paraná manifestaram os sinais da IPEX nas primeiras horas de vida, os pesquisadores concluíram que o ataque imunológico só poderia ter começado muito antes, ainda na gestação.

O achado foi publicado em dezembro de 2014 na Clinical Immunology e surpreendeu os especialistas. “Não pensávamos que doenças autoimunes pudessem ocorrer durante a vida intrauterina”, conta a pediatra Magda Carneiro-Sampaio, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenadora da pesquisa.

Doenças imunológicas do feto iniciadas durante a gestação não são incomuns. A mais conhecida é a eritroblastose fetal, causada pela incompatibilidade entre o grupo sanguíneo da mãe e o do bebê. Nessa enfermidade, porém, o problema é provocado por anticorpos produzidos pelas células de defesa maternas, transferidos para a criança por meio da placenta e do cordão umbilical.

A diferença com os casos descritos pelo grupo de Magda na Clinical Immunology é que, nestes, são as células do sistema imunológico do próprio feto que lesam o organismo. “Até onde se sabe, esses são os primeiros casos comprovados de doença autoimune iniciada na gravidez”, diz Magda.

Os casos descritos na Clinical Immunology são decorrentes de alterações em um gene que comprometem o amadurecimento de um grupo específico de células de defesa: os linfócitos T reguladores. Responsáveis por coordenar a ação de outras células de defesa, esses linfócitos passam por uma fase de maturação no timo, órgão situado no alto peito, durante a qual aprendem a identificar as células do próprio organismo e preservá-las do ataque de organismos invasores. Problemas nessa etapa de amadurecimento levam esses linfócitos a desencadear agressões contra o próprio corpo.

Desde 2008 o grupo de Magda investiga as doenças autoimunes que acometem bebês e crianças nos primeiros anos de vida. Os pesquisadores só não esperavam chegar aos fetos – embora alguns imunologistas já trabalhassem com a ideia de que os problemas autoimunes pudessem começar na fase fetal. “Há casos na literatura médica de bebês com imunodeficiências graves ao nascer”, conta Magda. “Uma doença dessa natureza não se instala de um dia para outro.”

Leia a reportagem completa em revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/batalha-interior/.




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