Papo de Mãe

Cansada de ler sobre garotos, menina reúne 4.000 livros com garotas negras

Roberta Manreza Publicado em 13/04/2016, às 00h00 - Atualizado às 15h50

Imagem Cansada de ler sobre garotos, menina reúne 4.000 livros com garotas negras
13 de abril de 2016


ISABEL SETA-  FOLHA DE SÃO PAULO
Marley Dias, 11, começou uma campanha para reunir 1.000 livros com protagonistas negras

Marley Dias, 11, começou uma campanha para reunir 1.000 livros com protagonistas negras. Divulgação

Cansada de ler livros na escola sobre “garotos brancos e seus cachorros”, Marley Dias, 11, resolveu começar um desafio ousado: reunir mil livros cujas personagens principais fossem meninas negras.

Com ajuda de sua mãe, Janice, a garota, que vive em New Jersey, nos Estados Unidos, começou a campanha na internet em novembro do ano passado com a hashtag #1000blackgirlbooks (1.000 livros de garotas negras).

“Eu estava na quinta série e fiquei frustrada porque só líamos livros sobre garotos brancos e seus cachorros. Daí, eu falei com a minha mãe e ela me disse: ‘ok, mas o que você vai fazer sobre isso?’ E eu decidi que ia colecionar mil livros”, contou ela em entrevista à Folha.

“Não me entenda mal, eu gostava daquelas histórias, eu só queria algo que eu pudesse me relacionar com”, explicou.

Para Marley, se ver em um personagem é muito importante, porque ajuda a entender e a lembrar melhor da mensagem dos livros.

No começo, conta Janice, foi difícil. Elas receberam algumas doações, mas em janeiro, depois de aparecerem em um jornal, os livros começaram a chegar –e muitos, muitos deles.

Até agora, o projeto já reuniu mais de 4.000 livros (neste índice on-line, você pode dar uma olhada em 700 deles), muitos dos quais Marley e a organização social de sua mãe, a Grass Roots Foundation –que acabou participando ativamente da campanha e da organização dos livros–, doaram para a antiga escola da garota, além de outros colégios nos Estados Unidos e na Jamaica, onde Janice nasceu.

“Eu fiquei orgulhosa de mim por ter conseguido atingir o objetivo e depois ultrapassa-lo”, contou Marley. “E mil era um número grande para mim, porque eu só tenho 11 anos”, brinca.

Ela e sua mãe esperam continuar recebendo doações. “Acho que nós não tínhamos noção do dilema internacional que é essa questão da falta de diversidade e a Marley teve a chance de dar voz a um desafio que muitas pessoas preferem não falar”, disse Janice.

Marley Dias, 11, começou uma campanha para reunir 1.000 livros com protagonistas negras

Marley Dias escreve sua hashtag #1000blackgirlbooks em quadro.  Divulgação

Entre os favoritos de sua grande coleção, Marley destaca o livro Brown Girl Dreaming (não há traduções em português), que conta, em poemas, a história de uma garota afro-americana criada no sul dos Estados Unidos durante os anos 1960 e 1970, em um contexto de segregação racial.

“Eu gostei, porque foi um desafio ler esse livro, já que era poesia”, conta ela. “Foi bom para eu desenvolver minhas habilidades de leitura e foi muito divertido. Poesia é mais misterioso, porque os autores não tentam te contar o significado direto, você pode ir lendo e fazer o seu caminho.”

Agora, Marley já tem planos de formar um clube de leitura de livros sobre garotas negras. A ideia, explica ela, é que os participantes leiam o volume escolhido durante o verão e depois discutam por Skype ou na internet.

“São livros sobre garotas negras, mas, na verdade, os livros são para todas as pessoas que quiserem ler e você pode aprender muito neles sobre racismo e cultura”, diz ela.




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