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Coronavírus, informações duvidosas e o medo

Com a chegada do coronavírus existem três epidemias em andamento: uma de fatos, outra de informações e uma de medo

Por Denise Lellis* Publicado em 17/03/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h43

É muito importante se manter informado porque as recomendações sociais estão mudando
É muito importante se manter informado porque as recomendações sociais estão mudando
Imagine-se num avião em que a tripulação de repente começa a mostrar sinais de preocupação.  O que acontece? Você imediatamente passa a se preocupar também e conclui que algo ruim pode estar acontecendo.  Sem que você possa controlar, sua imaginação começa a traçar cenários terríveis. Se alguma informação tranquilizadora não chegar logo, em minutos você estará com medo e isso o faz falar com a pessoa do lado que vai compartilhar do seu medo e em mais alguns minutos o avião todo está em pânico. Mesmo que nenhuma palavra seja dita todos foram capazes de sentir a “ameaça” e reagir a ela. Nas últimas semanas fomos passageiros de um avião cuja tripulação está quase descontrolada.
Uma forma de lidar com o contexto atual é reconhecer que existem três epidemias em andamento: uma de fatos, outra de informações e uma de medo e que é importante saber se proteger de todas elas.
A primeira é a mais importante. É fato que a espécie humana está conhecendo um novo vírus chamado Coronavírus ou COVID-19 e que ele tem um comportamento muito parecido com o vírus da gripe, o Influenzae, sendo mais grave que este em pessoas idosas. É fato também que ele já se espalhou pelo mundo e que medidas para reduzir sua transmissão são muito importantes porque, se muitas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo, nosso sistema de saúde pode não dar conta e foi essa preocupação de médico para médico que “viralizou”, causando pânico na população.

Sugestão: Assista ao vídeo sobre covid em crianças

Também é fato que dezenas de outros vírus estão no ar, inclusive o Influenzae, e que ainda são as causas mais comuns de quadros gripais e de casos graves. Mesmo que você pegue Coronavírus isso está longe de ser uma sentença de morte, já que a mortalidade está em 0,2% em quem não é idoso. Portanto, proteger os idosos é uma prioridade real.
Também é fato que as medidas para reduzir transmissão são muito importantes e efetivas e devem ser adotadas por todos e ensinadas às crianças:
– Etiqueta respiratória, como não espirrar na mão e sim na dobra do cotovelo
– Higienização com água e sabão ou álcool gel a 70% mais frequente das mãos
– Manter ambientes arejados, em especial nas escolas
– Evitar aglomerações e ambientes públicos fechados
– Evitar a circulação de pessoas em especial as crianças que estiverem com sintomas gripais. A intenção não é “parar” o vírus porque isso não é possível, mas reduzir sua velocidade de transmissão.
A segunda epidemia é um pouco mais difícil de evitar, já que a informação invade nossas vidas sem que estejamos procurando por ela. Nesse caso, também há dicas para se proteger:
  • É muito importante se manter informado porque as recomendações sociais estão mudando.
  • O comportamento do Coronavírus a gente já conhece e é provável que não mude.
  • Deligue as notificações de celular. Com isso, você ganha algum controle pelo menos de intervalos de informações e alguma autonomia na busca pelo que é importante.
  • Escolha um meio de comunicação que você confie.
  • Procure um profissional que seja disponível para tirar suas dúvidas.
  • Tente se desconectar das demais informações.
Resumindo: escolha quem você vai ouvir.

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A terceira epidemia em andamento é a do medo. Aos que estão surpresos com o pânico das pessoas, as reações das empresas, escolas, famílias, governos e, principalmente, da economia ficam as conclusões. Somos seres sociais emocionalmente entrelaçados e, portanto, sentimos e se nos comportamos com base no ambiente em que estamos inseridos. Nossas ações se baseiam naquilo que nos rodeia. Desejamos e tememos de acordo com fortes influências que nos fazem parte de um grupo. Grupo este que hoje se tornou infinitamente grande por não contar mais com barreiras físicas. Informações que envolvem nossa saúde ganham muita atenção em contrapartida, o excesso de informação gera medo. Por sua vez, o medo não administrado gera pânico e o pânico gera caos o que prejudica muito ações de prevenção e solidariedade que são as maiores armas contra qualquer epidemia.
Para se proteger da epidemia de medo seguem algumas dicas:
  • Siga sua vida normalmente acatando as decisões de afastamentos necessárias.
  • Se estiver com sintomas como febre, tosse ou coriza, fique em casa e use máscara para reduzir a transmissão e procure um médico para esclarecer seus sintomas.
  • De unfollow em perfis sensacionalistas ou de excesso de informação, assim você não fica sob controle deste assunto.
  • Bloqueie perfis de WhatsApp que invadem seu celular com informações que você não está procurando e aproveite para dar um tempo nos grupos que promovem o medo.
  • Aproveite o momento para frequentar lugares abertos, como parques e praças, e aproveite para se exercitar.
  • Dormir bem, comer bem, descansar e tomar muito líquido são excelentes aliados da imunidade e da saúde emocional.
  • Procure atividades, filmes, séries e livros sobre assuntos que você goste, isso vai te acalmar, te relaxar e essa é a melhor maneira de se proteger do stress.
  • Lembre-se que o medo e o stress prejudicam sua imunidade e sua saúde emocional, portanto o autocuidado no momento é a melhor “vitamina” que existe.
E voltando ao nosso avião, podemos evitar o pânico. Tudo bem, a tripulação do avião parece tensa, mas já sabemos que é uma forte turbulência e que cabe a cada um de nós acalmar os passageiros, porque a turbulência vai passar e pode passar com menos sequelas e mais aprendizados, dependendo de nossas atitudes agora. O momento pede escuta, calma e solidariedade. Pensar no todo é mais inteligente e uma das únicas coisas que nos diferenciam de outras espécies. O medo e o pânico são os maiores aliados do COVID-19 e os maiores inimigos da nossa saúde.
* Dra. Denise Lellis é PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), pediatra da Liga de Obesidade Infantil da FMUSP e Coordenadora do curso de Nutrologia Pediátrica para consultório do CAEPP (Centro de Apoio ao Ensino e Pesquisa em Pediatria).
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