Papo de Mãe

Vamos falar sobre a morte? Sim, é necessário, ainda mais na pandemia

A morte na pandemia está mais presente. O brasileiro não gosta muito de falar sobre esse assunto, mas o tema, a nossa finitude, está mais em pauta agora. As notícias de falecimentos estão nas páginas dos jornais todos os dias ou vêm através de conhecidos e até familiares.

Roberta Manreza Publicado em 03/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h12

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3 de julho de 2020


Getty Images
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O isolamento social, os ritos fúnebres e as redes sociais
A morte na pandemia está mais presente. O brasileiro não gosta muito de falar sobre esse assunto, mas o tema, a nossa finitude, está mais em pauta agora. As notícias de falecimentos estão nas páginas dos jornais todos os dias ou vêm através de conhecidos e até familiares. Milhares de pessoas não estão sobrevivendo ao coronavírus e a falta de uma cerimônia de despedida tem sido outro aspecto difícil de se lidar. Como explicar todas essas perdas para as crianças?

Uma hora a finitude chegará. E qual é a nossa percepção sobre a morte?

As homenagens foram reduzidas por causa do risco de contágio e os velórios praticamente proibidos. Os enterros estão acontecendo rapidamente, com a mínima presença no último adeus. Muita gente está tendo dificuldade de elaborar o luto assim. O psicanalista Leonardo Goldberg, autor do livro “Das Tumbas às Redes Sociais – Um Estudo sobre a Morte e o Luto na Contemporaneidade”, explica que esta fase ficou realmente mais complicada. “Esse momento geralmente é marcado por um funeral que estabelece bem um antes e um depois. Sem isso é absolutamente impossível pensar em uma vida conclusa e em um luto bem elaborado e bem trabalhado.

Quando a gente pula essa etapa, pode produzir um efeito de um luto inacabado”, afirma Leonardo.

O psicanalista acrescenta: “Todo mundo que já participou de um enterro sabe da importância da despedida. Isso fica faltando. A pessoa vai tentar de algum outro jeito realizar esse rito fúnebre”.

A despedida nas redes sociais

O luto tem ocupado também as redes sociais. Perfis de mortos se tornaram um espaço de memória de quem já se foi. No Facebook, por exemplo, as páginas dos falecidos são transformadas em memoriais. As homenagens são mantidas por tempo indeterminado. Houve um deslocamento dos tradicionais obtuários. São novas formas de comunicar e atravessar o luto. Uma mudança de comportamento da sociedade com ritos fúnebres virtuais, mais acessíveis ao nosso dia a dia corrido. Basta clicar para mandar os sentimentos e dar os pêsames pela morte de alguém. O sofrimento é compartilhado e ajuda a minimizar a dor, mesmo que esse apoio venha pela internet. Um espaço no cotidiano para preservar os entes queridos. Ajuda tecnológica ainda mais necessária em tempos de isolamento social.

A morte está mais presente e está sendo tratada mais naturalmente. A finitude como parte da vida. Leonardo lembra que ela é algo inerente a todos. “Toda a nossa relação com o passado é uma relação com aquilo que já se foi, é uma relação com a morte”, finaliza o psicanalista.

Estamos passando por um luto coletivo. A gente precisa sofrer a dor, não tem como denegar isso. Estamos refletindo mais sobre a finitude e a ressignificação.

Falar sobre a morte pode ser, sim, uma boa maneira de garantir uma vida com mais presença e melhor.

No Papo de Mãe já conversamos algumas vezes sobre como abordar o luto com as crianças. Não deixe de assistir aos programas.



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