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Câncer de pele: Entrevista com Dr. Ivan Dunshee

pmadmin Publicado em 03/01/2016, às 00h00 - Atualizado às 11h46

Imagem Câncer de pele: Entrevista com Dr. Ivan Dunshee
3 de janeiro de 2016


Uma das mais graves doenças de pele é o câncer de pele. O Brasil conta com altos índices de raios ultravioletas e, apesar disso, a população nem sempre segue à risca as recomendações para se proteger do sol corretamente. Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 2009 indica que a população brasileira usa metade da quantidade recomendada de protetor solar.

Confira a entrevista feita pela repórter Rosângela Santos para o Papo de Mãe sobre Problemas de Pele com o  Prof. Dr. Ivan Dunshee, presidente do GBM – Grupo Brasileiro de Melanoma, e entenda a importância da prevenção.

dr ivandunshee

Créditos: Programa Papo de Mãe

ROSÂNGELA – Quais são os sintomas de um câncer de pele? Quando as pessoas devem procurar um médico?

DR IVAN – Os sintomas são difíceis de perceber porque praticamente não doem, a pessoa raramente sente, mas existem. Por exemplo, uma ferida que não cicatriza por mais de 3 meses; uma lesão de pele que forma uma bolinha que continua crescendo; qualquer lesão de pele que não está cicatrizando, que está evoluindo, já é um sinal de alerta. Mas em relação ao melanoma, que tem a possibilidade de ser bastante grave se não atendido a tempo, ele aparece como se fosse uma pinta, uma mancha assimétrica, de bordas irregulares, geralmente com várias cores, um diâmetro maior que 0,6 milímetros, e que vai crescendo, se modificando. Esse é o ponto principal em relação ao melanoma, que na verdade é um tumor. Embora não seja o mais frequente, é o mais perigoso.

ROSÂNGELA – No caso do melanoma, há risco de metástase? Por quê?

DR. IVAN – Exatamente. Porque ele pode se expandir. Pode ir para os gânglios e para outros lugares como pulmão. Mas isso quando a lesão não é acudida a tempo. Por isso a gente sempre faz campanhas para prevenir não só todos os câncer de pele mas, principalmente, o melanoma.

ROSÂNGELA- Para o leigo, olhando uma pinta que aparece no corpo… A forma mais fácil é ver se ela se modifica, quando ela é uma ferida que não cicatriza?

DR. IVAN – Em relação ao tumor das pintas que é o melanoma, existe até uma regrinha que a gente ensina que é a regrinha do “ABCDE”. “A” de assimetria, “B” de bordas irregulares, “C” de cor variada (duas ou mais cores), “D” de diâmetro (um diâmetro maior que 06 milimetros) e “E” de evolução. Então, se você tem uma pinta que está se modificando, mostre para o médico. Outra coisa importante é que, algumas vezes, chegam pacientes que falam que a pinta está coçando. É um sintoma importante. O câncer de pele na fase inicial pode provocar prurido, embora na maioria dos casos não provoque. Mas quando tem prurido (coceira) há necessidade do médico dar uma olhada. O carcinoma basocelular é o mais frequente de todos. 75% dos casos de câncer de pele são basocelulares. Felizmente, este é o menos agressivo porque e não provoca raízes para outros lugares, fica sempre no mesmo ponto e tem progressão lenta. Mas exatamente por ter uma progressão muito lenta, as pessoas normalmente o negligenciam e deixam crescer mais do que deveria.

cancer de pele

ROSÂNGELA- Os sinais são os mesmos?

DR. IVAN – Não. No carcinoma basocelular o sinal é um nódulo róseo, de borda meio translúcida, perolada e que cresce lentamente. Dificilmente ele é pigmentado. Pode ser pigmentado, mas normalmente não é. Ele nasce como se fosse uma bolinha que com o passar dos anos pode ulcerar (formar ferida), formar uma casquinha e ficar ali no mesmo lugar de 3 a 6 meses sem cicatrizar. Já o carcinoma espinocelular caracteriza-se por uma ferida que não coça e não dói. É uma ferida que continua crescendo lentamente. Existe um fator de hereditariedade e de tipo de pele a considerar. A frequência numa mesma família ou numa mesma raça é pelo tipo da pele. As mais propensas a ter câncer de pele são as pessoas de pele clara.

ROSÂNGELA – É comum o câncer de pele em crianças?

DR. IVAN– Não. O câncer de pele é raro em crianças. Quando tem câncer de pele em crianças, normalmente é porque existe alguma síndrome, algum problema da própria criança, como por exemplo o “xeroderma pigmentoso” – quando a criança nasce sem defesa nenhuma para reparar os danos da pele, faltam enzimas na pele dessa criança, ou quando a pessoa é albina, quando a pele não tem melanina que faz a proteção normal da nossa pele.

ROSÂNGELA – A prevenção nas crianças é importante?

DR. IVAN – A prevenção em crianças eu acho que é fundamental. A Organização Mundial da Saúde recomenda que as crianças devem ser bem alertadas. Se nós pensarmos, até um pouco mais da puberdade, 17, 18 anos, que a gente já tomou mais de 50% do sol que nós vamos tomar na vida inteira, e esse sol é que vai fazer pequenas lesões no DNA das nossas células que propiciam, mais tarde, o aparecimento de outras lesões com o acúmulo dessa infiltração do raio ultravioleta. As crianças não têm consciência e nem podem ter de que o raio ultravioleta faz mal. Então a obrigação é dos pais, das mães, quer dizer, elas não podem realmente ficar ao sol em demasia, sem uma proteção, sem uma roupa adequada, sem um chapéu adequado. Eu sempre falo que a melhor proteção é a proteção da roupa, chapéu, roupa mesmo. Mas existem também os filtros solares que a gente pode fazer uso.

ROSÂNGELA – Que fator de filtro solar na praia ou piscina para criança o senhor recomenda?

DR. IVAN- O fator que a gente normalmente recomenda é de 15 a 20, o normal. Evidentemente, se a pessoa tem pele muito branca, o 30 seria recomendável. O mais importante que o fator de proteção solar é você saber passar o filtro solar. Quer dizer, passar o filtro antes de chegar na praia, alguns minutos antes (15 a 20 minutos antes), e não esperar para passar quando chegar na praia. E se a pessoa for nadar, se estiver suando, se estiver praticando esporte, é importante refazer essa proteção sempre que possível.

ROSÂNGELA- De quanto em quanto tempo é o ideal repassar o filtro?

DR. IVAN- O ideal é de 2 em 2 horas na praia. Durante o dia, no dia a dia a gente recomenda é pela manhã e à tarde. É importante também lembrar do horário. Das 10 às 4 da tarde são os piores horários. Nesse horário a gente deve ficar mais na sombra. O ideal é ficar sob a barraca. Mas é bom lembrar que mesmo dentro de uma barraca, 25% do sol que a gente toma é o sol refletido. Quer dizer, mesmo debaixo de uma barraca de praia tem que passar o filtro solar. Há necessidade também de proteção. Se você ficar sem proteção nenhuma debaixo de uma barraca por 4 horas é a mesma coisa que ficar uma hora no sol. As crianças normalmente tem uma certa aversão a isso daí. E isso num dia que está um pouco nublado, que é aquele dia que a gente fala que só tem o mormaço, a criança fala “olha, não tem nem sol, porque eu vou passar?” Mas é o dia que mais queima. É o dia que mais aparece gente com insolação. Por quê? Porque a numa nuvem de mormaço só 20% dos raios ultravioletas ficam parados nessas nuvens. O resto vem tudo. O raio infravermelho também pára na nuvem, então não esquenta a pele. O infravermelho é um outro tipo de raio, é aquele raio que simplesmente esquenta a pele e não faz a gente ficar tanto tempo na praia. Eu acho que a prevenção na criança, principalmente das mães, é fundamental. Porque criança, como eu falei, não tem noção de quanto é prejudicial. Além disso, o envelhecimento da pele é decorrente da quantidade de raio ultravioleta que a pessoa toma. A melhor ajuda que as mães fazem, não só em relação ao câncer de pele mas, inclusive, em relação ao envelhecimento precoce dos seus filhos, é saber usar o sol. O sol não é um vilão. O sol é fundamental para nossa vida. É uma fonte de vida. É fundamental também para não haver osteoporose e outras doenças no futuro também.

Para maiores informações sobre o Grupo Brasileiro de Melanoma acesse: http://www.gbm.org.br/.

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