A maternidade e o resgate da própria identidade

Roberta Manreza Publicado em 26/06/2016, às 00h00 - Atualizado em 27/06/2016, às 09h03

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26 de junho de 2016


Por Renata Soifer Kraiser, psicóloga

Você gosta de dormir juntinho com seus filhotes? Quer continuar fazendo isso? Ou está na dúvida e quer voltar a ter seu espaço? Sente saudades de poder namorar seu marido na hora que dá vontade? Não, esse texto não pretende ser uma briga entre teorias. É apenas um convite à reflexão.

Os filhos são uma preciosidade. É fácil se apaixonar pelas bolotinhas de amor que nos olham com uma dependência fascinante. É amor, é cansaço, medos, dúvidas e um processo longo onde vamos aprendendo a conhecer nossos filhos e a nós mesmas.

O amor é algo construído. Alguns já vão começando o processo antes mesmo de conhecer o bebê, ao sonhar com a criança. Mas é lá pelos 2 meses e meio, quando começam os sorrisos sociais, que a coisa realmente acontece.

Relacionar-se é trocar. É normal e esperado que haja uma certa simbiose nesse comecinho de vida. Queremos mesmo ficar próximos. Mas até quando? De que forma? Ser próximo é o mesmo que fundir? Como fica a identidade da mãe, que também é mulher e profissional? É amiga, irmã, prima, filha, chefe, amante, namorada e confidente…

Nestes quase 20 anos trabalhando com mães e mulheres, tenho observado uma constante: auto exigência. A mulher compete o tempo inteiro para provar que é a melhor. Sua teoria, seu estilo de vida, seus filhos, sua casa, tudo tem que ser perfeito. Só que somos humanos. E precisamos descansar. A mãe que dá colo, também precisa de colo.

A mãe que é mãe também tem outros papéis na sociedade. A mãe humana precisa ir ao supermercado, visitar suas amigas, contar seus segredos, fazer piada, ir ao dentista, ginecologista, psicólogo, fazer a unha, dar um corte no cabelo… Mas como fazer isso tudo se a criança fica grudada em você 24 horas por dia 365 dias por ano? Até mesmo para dormir? Não há paz nem mesmo para tomar banho ou… fazer xixi! Será que é esse o ideal de maternidade perfeita? É isso que sonhamos para nossas vidas?

Ser simbiótico tem um preço alto que pagamos com a sanidade mental. Ficar sem dormir é cruel. Ficar sem dormir deixa a pessoa exaurida, agressiva, desesperada. A mulher brasileira vive um momento muito peculiar. Ela descobriu que pode ser apenas mãe e este é seu trabalho. Mas ela nunca é apenas mãe. Sua identidade está associada a outros papéis que não podem ser abandonados. É muito importante que a mãe busque o direito ao sono. O direito ao lazer.

Quando a mãe entende que pode e deve cuidar de sua identidade, como pessoa inteira, e não abrir mão de todas as suas outras funções sociais (filha, amiga, esposa, namorada, etc) para viver exclusivamente a maternidade, ela mergulha temporariamente na simbiose, assim que o bebê nasce, mas emerge após um tempo, criando espaço para a independência da criança e a sua própria.

Esse movimento em direção à independência é fundamental para a saúde mental da mãe e do bebê. É fundamental para a saúde do casamento e da sociedade. Temos o direito de sermos humanas e não apenas mãe.

Um grande abraço!

Renata

*Renata Soifer Kraiser é psicóloga, mestre em Psicologia Clínica sobre tema “Relação mãe e filho e o sono do bebê” e autora do livro “O sono do meu bebê” (Ed.CMS). Participou como especialista convidada no Papo de Mãe sobre  “Distúrbios do sono”. Contatos: www.terapeuta.psc.br. Fone (11) 3031-4043.

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