Ana Furtado revela que está em tratamento contra um câncer de mama

Roberta Manreza Publicado em 29/05/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h59

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29 de maio de 2018


Em depoimento nas redes sociais, a apresentadora Ana Furtado revelou que está em tratamento contra um câncer de mama em estágio inicial. Segundo a apresentadora, ela já passou por uma cirurgia para a retirada do tumor e iniciará o tratamento de quimioterapia. Ana contou que só soube do tumor depois de um autoexame seguido de uma mamografia. “Foi um baque muito grande quando eu recebi a notícia, mas apesar de tudo eu busquei de todas as formas toda a minha coragem, toda a minha fé e toda a minha esperança para conquistar a minha cura”, disse ela.

O ginecologista Cláudio Basbaum fala sobre o passo a passo para a detecção dos primeiros sinais da doença

Câncer de mama: cuidados básicos para o diagnóstico precoce

O câncer de mama é o tumor mais comum entre as mulheres e representa 25% dos tumores malignos diagnosticados  anualmente no Brasil. A cada hora cerca de 6 mulheres recebem este temível diagnóstico. O maior problema é que uma parcela significativa destas mulheres, só descobre a doença quando sua progressão já alcançou um estágio avançado. Salientemos que mesmo quando diagnosticada e tratada precocemente, dependendo de várias condições, como o fator genético, quase 1/3 das pacientes evolui para as metástases.

Esclareço abaixo as principais dúvidas sobre o câncer de mama:

Sim.  Cada vez se diagnostica com mais frequência e maior precocidade. Isto se deve ao maior  reconhecimento da existência da doença, através dos métodos de imagem (ultrassonografia mamária, mamografia, mamografia digital ou mesmo ressonância magnética das mamas), que dão maior precisão na identificação da formação suspeitada.

O autoexame não dispensa a necessidade da mamografia, sempre orientada e solicitada por um especialista após cuidadoso exame clínico das mamas.

O momento ideal para a autoavaliação das mamas é  logo  após o final de um fluxo menstrual, fase em que os hormônios ovarianos estão em níveis mais baixos. Para as mulheres que não menstruam, seja em função de histerectomia já realizada, as menopausadas ou as que estão sob uso de medicação hormonal para suspender a menstruação, deverão observar qual o momento em que notaram alterações em uma ou em ambas as mamas e repetir o mesmo tipo de controle com 30 dias de intervalo, observando se persistem as alterações.

O autoexame deverá sempre ser orientado pelo médico especialista. Em termos gerais, deverá obedecer a um certo “ritual”:

  1. As mamas deverão estar umedecidas ou melhor ainda, ensaboadas, o que dá uma maior precisão para o reconhecimento de algum eventual “caroço” ou assimetria; Durante o banho fica mais facil.
  2. Elevar o braço do mesmo lado da mama que se pretende examinar, colocando a mão na nuca, com a finalidade de permitir que a mama ” se espalhe” sobre o tórax;
  3. Com a outra mão, deslizar a palma com suave pressão, desde a base para o centro da mama, em direção ao mamilo, ” no sentido dos raios de uma roda”;
  4. Com a mesma mão, prosseguir em um “alisamento” da mama, fazendo movimentos circulares, girando em torno da mesma, de fora para dentro até a região da aréola mamária.

Alterações na forma, mudança de cor, textura e/ou temperatura na pele das mamas, presença de nódulo, superfície com aspecto de “casca de laranja”, diferença no tamanho  das  mamas, surgimentos de sulcos ou depressões em áreas localizadas. A saída de qualquer líquido através dos mamilos, sobretudo de sangue, pode ser um sinal importante de alerta. O reconhecimento de qualquer um ou mais de um destes sinais ,  requer a visita imediata ao especialista.

Absolutamente não. Toda alteração visível ou observada pela palpação da mama durante o autoexame deverá ser avaliada com muito critério por um ginecologista ou de preferência por um mastologista, que são os profissionais habilitados à complementação do estudo da alteração  existente para o seu diagnóstico preciso.

Sim. Como o tecido mamário é muito rico em glândulas,  não é incomum o surgimento de nódulos isolados ou múltiplos (lesões benignas chamadas adenomas ou fibroadenomas), sobretudo nos dias que precedem as menstruações.  As inflamações (mastites) não são comuns durante a vida. Surgem mais associadas ao período de lactação, em consequência da má higienização dos mamilos, com consequente penetração de bactérias pelos ductos mamários do leite, podendo infectar e causar a formação de abcessos . Pode também ser notado ocasionalmente em consequência de escoriações ou picadas sobre a pele das mamas.

Não.  Infelizmente, a doença maligna da mama, sobretudo no seu início, não provoca nenhum alerta de dor. Os sintomas dolorosos normalmente só se fazem presentes quando a doença já está muito avançada. A dor que surge nas mamas (mastodinia) são relativamente comuns,  desde a adolescência,  no período pré-menstrual ou durante a menstruação, momento no qual o tecido glandular mamário fica mais “ativo” e ingurgitado em função das mudanças hormonais do ciclo menstrual.

O aparecimento e a persistência de prurido, feridas, lesões crostosas e secreção ( descarga mamilar), especialmente com  sangue, são importantes sinais de alerta.

A realização de mamografias deverá seguir o protocolo determinado pelas sociedades médicas da especialidade, tanto em relação à faixa etária quanto de acordo com as alterações encontradas no exame clínico especializado e que requeiram um diagnóstico mais preciso. Diferentemente do que ocorre em países como EUA, Canadá e Escandinávia, onde a incidência do câncer de mama em mulheres de 40 / 45 nos fica na casa dos 10-15%, no Brasil, sua frequência quase dobra (25%) nesta mesma faixa etária, razão pela qual  tem sido recomendado o início das avaliações das mamas por imagem  já  a partir dos 40 anos de idade . É fato conhecido que as chances de cura são cada vez mais reduzidas quanto mais se demora para fazer o diagnóstico e o tratamento. Por isso, não aceitar simplesmente a informação  que “na mamografia não deu nada grave “. Como todo método ou técnica para o diagnóstico, existe a possibilidade de falso-negativo (quando a doença existe, mas não chega a ser reconhecida nas imagens) ou de falso-positivo (quando sugere que a doença maligna existe) conduzindo  a um tratamento radical, traumático  e desnecessário. Assim, mamografias de má qualidade poderão retardar o diagnóstico,  com piora do prognóstico ou “reconhecer” a doença que não existe. A chance de redução da mortalidade pelo câncer de mama não depende exclusivamente de “qualquer” mamografia, mas sim das avaliações clínicas periódicas realizadas por ginecologista ou mastologista (semestrais ou anuais) e dos exames realizados em centros de imagem altamente capacitados e, portanto, confiáveis.

Em princípio, não há qualquer restrição da mamografia. Em condições especiais como gravidez e amamentação, mamografias só deverão ser realizadas em casos mais duvidosos e após a mulher ter sido submetida a um primeiro rastreamento por ultrassonografia de alta resolução com Doppler colorido. Nas gestantes, quando estritamente necessário, deverá ser usado o avental de chumbo protetor sobre o seu abdome.

Quando já existir casos da doença na família, sobretudo mãe, irmã, tia ou avó materna, recomenda-se iniciar o controle anual a partir dos 25 anos. Importante polêmica surgiu no final de 2015, em consequência à decisão da Associação Americana de Câncer (ACS), que passou a recomendar a realização das mamografias a partir dos 45 anos de idade, anualmente e  até os 54 anos, prosseguindo com intervalos de 2 anos, com exceção das mulheres com alto risco para o desenvolvimento da doença.

No Brasil, em função do reconhecimento do  elevado número  de  mulheres que morreram    de  doença mamaria maligna   na faixa etária entre 40 e 49 anos de idade, as sociedades médicas no nosso país, entre as quais a Sociedade Brasileira de Mastologia, defendem que “a realização de mamografias de rastreamento anuais a partir dos 40 anos de idade deve ser direito de toda mulher“.

O diagnóstico precoce e o tratamento criterioso da doença têm sido fundamentais para a sobrevivência de quase dois terços das mulheres com câncer de mama, nos países desenvolvidos. Já a  taxa de sobrevida nos países em desenvolvimento não chega a um terço.

No Brasil, recomenda-se a realização da mamografia anualmente, e sem limite máximo de idade.

*Dr. Cláudio Basbaum é médico, com especialização na Universidade de Paris, França. 

Professor-Doutor em Ginecologia e Obstetrícia, pioneiro da laparoscopia no Brasil (1967), defensor de técnicas menos agressivas à mulher e ao bebê (como o parto de cócoras ou “Parto das Índias”),  foi introdutor do Parto Leboyer (o “Nascimento sem Violência”)  e da técnica Shantala de massagem para bebês no Brasil .

Membro do Corpo Clínico do Hospital e  Maternidade São Luiz / Grupo D’Or, em São Paulo, o ginecologista tem  53 anos de profissão e defende a população feminina de cirurgias mutiladoras desnecessárias desde há 21 anos, quando criou a Pró- Matrix (Unidade de Orientação, Preservação e Tratamento da Mulher) e a campanha permanente  “Mulheres, Salvem seus Úteros!”  (www.claudiobasbaum.med.br) .




Câncer de mama