Como anda a alimentação dos brasileirinhos?

Pesquisa mostra que muitas crianças brasileiras estão comendo mal, dormindo pouco e fazendo menos exercício do que deveriam. Como melhorar a alimentação?

Rodrigo Moraes* Publicado em 24/09/2021, às 11h07

A alimentação equilibrada é fundamental para um crescimento saudável -
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Aos 5 anos, Catarina é a “formiguinha” da casa. A irmã mais velha, Helena, de 9, também gosta muito de doces, claro. Mas Cat é quem tem verdadeira adoração por balas, pirulitos e bolachas.

Isso, no entanto, não quer dizer que a mãe, a advogada Priscila Pontes, permita que as irmãs, que moram em Belém, no Pará, tenham livre acesso às guloseimas. “Não gosto de proibir, mas também não libero geral. Acredito que, com equilíbrio, dá para manter uma alimentação saudável e comer uns docinhos de vez em quando”, diz Priscila.

Ela também tem que ser linha dura quando o assunto é acrescentar legumes e verduras na alimentação. “Procuro sempre incluir nos pratos básicos, como cenoura, brócolis, couve no arroz, e abóbora e quiabo com o feijão. Eu apresento o alimento e peço para provarem. Se elas não gostam, eu tento incluir em alguma outra receita”, conta a mãe das meninas que, se não são assim tão fãs dos vegetais, no esporte e no sono, ganham nota dez.

Reveja o programa Papo de Mãe sobre os 'vilões da alimentação'

Catarina começou a nadar ainda aos 9 meses de vida e, atualmente, faz aulas de judô, natação e dança 3 vezes por semana. Helena, por sua vez, pratica taekwondo de segunda a sexta-feira. E nenhuma das duas dispensa uma boa brincadeira ao ar livre, como andar de bicicleta, patins e patinete.

Talvez tantas atividades façam com que Helena e Catarina estejam sempre em dia com o sono. Priscila conta que é bem rigorosa com o horário de dormir, já que as duas estudam de manhã e precisam acordar descansadas. “A Helena dorme às 20:30 e acorda às 6:20. A Catarina dorme um pouco mais tarde porque ainda gosta de descansar à tarde. Ela dorme às 21:00 e acorda às 7:00. Após o almoço, ela tira uma soneca e levanta super disposta para as atividades vespertinas”.

Com tantos cuidados, Helena e Catarina estão no peso ideal para a idade, bem distantes de um problema que cada vez mais afeta parcela maior de crianças no Brasil.

Como mostra a pesquisa KNHS 2020 (Kids Nutrition and Health Study), cerca de 40% das crianças brasileiras estão com sobrepeso ou obesas, enquanto 5% estão abaixo do peso.

Realizado pela Nestlé Nutrition Institute, o estudo trabalhou com uma amostra de 983 crianças, em um recorte representativo da sociedade brasileira. Elas foram escolhidas entre dois diferentes grupos de faixa etária: o primeiro entre 4 anos a 8 anos e 11 meses (52%), e o segundo na faixa que vai de 9 anos a 13 anos e 11 meses (48%). Somadas, elas pertenciam a 3 diferentes classes sociais: D+E (30%), C (51%) e A+B (19%).

Além da constatação de que cerca de 40% das crianças estão com sobrepeso ou obesas, e 5% abaixo do peso, o levantamento mostrou também que menos da metade comem frutas, verduras e legumes regularmente. E o consumo de leite e laticínios também está abaixo do recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

O resultado disso é que boa parte das crianças brasileiras ingerem uma quantidade inadequada de vitaminas e minerais importantes para seu desenvolvimento, o que pode resultar em impacto no risco de doenças nutricionais.

As irmãs Catarina e Helena. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por fim, a pesquisa mostrou também que um terço das crianças fazem menos exercícios do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de pelo menos 60 minutos diários de atividade física, além de dormirem menos do que deveriam. O recomendado é para que crianças de 3 a 5 anos durmam entre 10 e 13 horas diariamente; entre 6 e 12 anos, o ideal é de 9 a 12 horas; dos 13 anos 18, a crianças deve ter uma noite de sono que varie entre 9 e 12 horas.

Para a gerente sênior de nutrição, saúde e bem-estar da Nestlé, Gisele Pavin, as informações coletadas trazem à tona a necessidade de uma discussão mais ampla sobre a saúde das crianças brasileiras.

Segundo Pavin, os resultados negativos mostram uma teia de relações que envolvem a relação das famílias com a nutrição e a saúde no dia a dia. “O contato com mães e pais nos permitiu aprender lições nos âmbitos cultural e social”, diz a nutricionista, que lista alguns fatores observados no estudo.

O primeiro mostra que o contexto socioeconômico tem peso, ou seja, a qualidade da alimentação das crianças tem relação direta com a estrutura familiar e a faixa etária.

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Em segundo lugar, foi observado que há um peso excessivo sobre as mulheres. Isso quer dizer que as cuidadoras são, quase sempre, mães, avós, tias e irmãs, sobre quem recai a maior parte da responsabilidade com a nutrição das crianças, faltando a elas uma rede de apoio.

O terceiro ponto destacada por Gisele Pavin diz respeito às longas jornadas de trabalho, somadas às tarefas domésticas, o que reduz o tempo para o preparo das refeições.

Em quarto lugar, falta aos cuidadores tempo e disposição para fazer um planejamento alimentar, ponto em que os profissionais de saúde podem prestar auxílio às famílias. E, por fim, a importância da chamada comensalidade, de onde surgem outros números preocupantes.

A pesquisa mostrou que 64% das crianças veem TV durante as refeições, 35,5% usam o celular, e 10,3% utilizam tablets.

O ato de comer com outras pessoas envolve regras, comprometimento e reciprocidade. Partilhar a mesa cria um laço social. Dedicar tempo a refeições conjuntas ensina às crianças o valor da nutrição saudável e também as prepara para a vida em sociedade”. (Gisele Pavin)

Ou seja, os números preocupantes envolvendo os hábitos alimentares e a saúde das crianças é um problema dos governos, mas não apenas, diz a nutricionista. “É uma questão de ecossistema. Todos possuem um papel relevante para mudarmos o cenário: governos, indústria e sociedade”.

Nesse cenário, Pavin faz um alerta aos pais e cuidadores: “Cuidar da alimentação é cuidar do bem estar e do futuro das crianças, e, nesse sentido, o exemplo que os pais e cuidadores proporcionam a elas é fundamental. Como uma criança vai aprender a comer frutas, legumes e verduras se a família, no geral, não compra, não come e não estimula o consumo? Como a criança vai criar o laço social na hora das refeições e deixar a TV ou o celular de lado se os próprios pais estão vendo TV e não interagem com a criança?”

Taí um bom assunto para ser discutido nesta noite, à mesa do jantar.

*Rodrigo Moraes é jornalista e colaborador


**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.

Conheça mais no site do programa

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