Meu filho repetiu de ano. E agora?

Roberta Manreza Publicado em 07/12/2017, às 00h00 - Atualizado às 11h17

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7 de dezembro de 2017


Por Viviani Zumpano, neuropsicopedagoga
O ano letivo acabou e agora chegou o momento em que alguns pais irão se deparar com uma notícia não muito boa: a reprovação do filho na escola. Como agir em uma situação dessa? Os pais devem castigar ou consolar a criança? Como superar este momento difícil?

Uma reprovação nunca é uma notícia que pega a família desprevenida. Hoje, graças à tecnologia, a comunicação entre a família e a escola acontece em tempo real. Muitas escolas usam aplicativos, e-mail, mensagens e reuniões para se comunicar com os pais.

Portanto, ao longo do ano letivo, é perfeitamente possível ter um cenário do que vai acontecer no final das aulas. Mas, de qualquer maneira, quando a notícia vem, muitos pais podem ter dificuldade em gerenciar a situação.

O lado cheio do copo

Segundo a neuropsicopedagoga, Viviani Zumpano, parceira da NeuroKinder, a reprovação pode ser negativa ou positiva, depende da maneira como é vista, tanto pelos pais como pelos educadores.

“Eu, como educadora, vejo a reprovação como uma oportunidade de resgatar conteúdos não aprendidos de anos anteriores, é uma chance de amadurecimento e fortalecimento da autoestima, já que este aluno será o mais forte entre os que estão chegando. Então, tudo depende do significado que se dá, tanto da parte da escola como da família”.

Quanto ao castigo, Viviani comenta que a reprovação é o castigo suficiente para o aprendizado do aluno sobre as consequências de não ter se dedicado aos estudos. “Reprovar significa que a criança ou o adolescente não tem os requisitos básicos para passar para o ano seguinte, portanto, o aspecto negativo a criança já tem. Brigar, ofender e agredir, seja verbalmente ou fisicamente, não tem nenhuma valia neste momento”.

É preciso entender que a reprovação é o resultado final de um processo e não está ligada apenas às notas, nem ao último mês de aulas, está ligada à jornada deste aluno e aos seus comportamentos também”, comenta Viviani.  Segundo a especialista, os pais devem procurar trazer o que é positivo desta experiência reforçando que será uma nova chance de fazer tudo melhor, com mais dedicação e empenho. O novo ano será útil para a reafirmação e a sistematização do conhecimento. Os pais devem acolher o filho e empoderá-lo para enfrentar o ano seguinte.

Reter pode ser inevitável

Mas, é possível evitar a reprovação? Para a especialista, o mais importante é que tanto a escola quanto os pais percebam a tempo os problemas na aprendizagem. “Se o aluno tem dificuldade em algumas matérias, por exemplo, o ideal é estabelecer estratégias para resgatar ou reforçar os conteúdos não aprendidos em sala de aula. Os pais podem procurar tutores, neuropsicopedagogos ou ainda professores particulares para isso”.

Por outro lado, a reprovação muitas vezes é inevitável. “A partir do segundo ano, o aluno é reprovado por notas. O reforço escolar para melhorar seu desempenho pode evitar retê-lo. Porém, na educação infantil e no primeiro ano, reprovar o aluno é algo discutido com a família. Isso porque é nestas séries que o aluno faz a consolidação do processo de alfabetização. Algumas crianças, por imaturidade, não conseguem alcançar a prontidão para a leitura e para a escrita. Portanto, avançar para a série seguinte só causará sofrimento”, explica Viviani.

Anos difíceis

A probabilidade de reprovação é maior nas viradas de ciclo. “Quando o aluno vai para o sexto ano passará por uma adaptação. Além de ter mais professores, o conteúdo será novo, é uma nova rotina e um novo ritmo de estudo. O mesmo acontece na entrada para o ensino médio. Então, estes são anos em que percebemos um maior número de alunos retidos, devido à dificuldade de adaptação. Assim, a recomendação é que os pais fiquem ainda mais atentos nessas séries para evitar a reprovação”, comenta a neuropsicopedagoga.

Perfil do aluno x Perfil da escola

Outro ponto é que uma das primeiras ideias dos pais é trocar a criança de escola depois de uma reprovação. Viviani comenta que os pais devem fazer uma avaliação com calma. “Muitas crianças pedem para mudar de escola, mas antes de tomar essa decisão os pais precisam avaliar se o pedido não está por trás do medo de enfrentar situações desafiadoras, por exemplo. A criança precisa aprender a lidar com a frustração e a se esforçar para ter um bom desempenho, não podemos ceder apenas por conta da criança querer as coisas de modo mais fácil”.

“Agora, claro que é importante que a escola se enquadre no perfil da criança. Cada pessoa tem um perfil e isto impacta diretamente no aprendizado. Se a criança é mais criativa e mais agitada, por exemplo, e estuda numa escola tradicional, pode enfrentar mais dificuldade no aprendizado. Uma investigação junto a um neuropediatra e a um neuropsicólogo pode ser útil para descartar transtornos do neurodesenvovimento ou de aprendizagem ou ainda para ajudar os pais na escolha da escola”, reflete Viviani.

“Os anos escolares são fundamentais na formação do ser humano. É essencial encontrar uma escola que seja adequada ao perfil do aluno e também aos valores da família. A parceria com os professores e coordenadores pedagógicos, a presença dos pais nas reuniões e o acompanhamento do desempenho ao longo do ano são estratégias preciosas para evitar a reprovação. Mas, se ela aconteceu, o que se pode fazer é incentivar a criança a ter bom ano por meio de dedicação e mudança de comportamento”, finaliza a especialista.




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