Os segredos da criança esperta

Conheça os alimentos que ajudam no desenvolvimento cognitivo do seu filho

Roberta Manreza e Maria Cunha* Publicado em 08/11/2021, às 15h31

Qual deve ser a alimentação saudável para ajudar no desenvolvimento do cérebro? -
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Para esse bate-papo, a nossa convidada é a nutricionista Elaine Mosquera, especialista em nutrição materno-infantil. A Elaine é mãe do Lucas, de 7 anos, e do Lorenzo, de 5. Como a alimentação pode deixar os nossos filhos mais inteligentes? Segundo Elaine, a alimentação tem um papel fundamental. Ela explica que a gente discute muito a questão da janela de oportunidade que começa ainda na fase intrauterina, tudo que vai acontecer, sejam fatores genéticos ou externos, impactarão desde a fase intrauterina até os cinco anos. “Falava-se muito da questão dos 1000 dias, que avançou para os 1100 dias, e agora as evidências têm mostrado os 2200 dias, que é justamente esse período da fase intrauterina, até um pouco antes, a fase preconcepção, 100 dias até os 5 anos de vida”, esclarece a nutricionista. A especialista conta que a nutrição, hoje, dos fatores externos, é o mais bem documentado que tem influência direta, e com alguns nutrientes chaves que contribuem para a questão do desenvolvimento cognitivo e o crescimento cerebral adequado. Então, o desenvolvimento neuromotor é muito específico. 

A gravidez

Elaine orienta que é importante a mãe grávida se alimentar adequadamente, porque vai passar isso para o crescimento e desenvolvimento do feto no útero, e também, após o nascimento, por meio do leite materno e depois na alimentação complementar. 

Qual deve ser a alimentação saudável para ajudar no desenvolvimento do cérebro?

Ela diz que essa alimentação saudável não necessariamente precisa ser restritiva, porque a gente está muito em uma era de ‘corta isso e corta aquilo’, a privação não é saudável, isso não é adequado. “É normal a criança passar por uma fase seletiva. Então, se você trabalha essas restrições, a chance dela ficar seletiva é maior. Uma gestante, muitas vezes, pode passar por um período de enjoo, então já tem uma certa restrição por causa desse mal-estar que acontece. É legal você trabalhar, ter uma alimentação equilibrada, o que a gente fala do colorido. Ter vários grupos alimentares. Se você tem uma fonte de cada grupo alimentar, você já consegue ofertar boa parte dos nutrientes”, relata a especialista. Para Elaine, quando a gente fala da gestante, o que é importante, além da alimentação equilibrada, é fazer algum tipo de suplementação, de polivitamínicos e minerais, dependendo do trimestre que ela se encontra, justamente por estar gerando um bebê, então ela precisa de algumas quantidades de nutrientes a mais. E acrescenta, que quando a gente fala de desenvolvimento cognitivo, o DHA, que é o famoso Ômega 3, ele tem um papel fundamental, já com diretrizes e consensos indicando pelo menos a recomendação de 200 miligramas, no mínimo, de DHA por dia para a gestante. E essa suplementação, explica a nutricionista, deve permanecer durante o período de amamentação porque já é comprovado também, em literatura, que o perfil do leite materno é moldável à alimentação da mãe, então, os nutrientes passam. Se é uma alimentação rica em nutrientes, vai passar um aporte de nutrientes, se é uma alimentação pobre, esse leite materno vai ser deficitário em quantidades de nutrientes chaves para esse desenvolvimento. Elaine resume, quando a gente pensa em gestantes, além dessa alimentação equilibrada, o consumo de pescados, três vezes ao dia, vai garantir um aporte bom de DHA, mais a suplementação diária, que se faz necessária, principalmente no segundo e terceiro trimestres, para garantir o desenvolvimento e até os mecanismos, toda a metabolização interna do organismo.

Assista `a entrevista de Roberta Manreza com a nutricionista Elaine Mosquera sobre os segredos da crianças esperta

O pré-natal

Esse acompanhamento é fundamental, ressalta a especialista. Segundo ela, para a mulher que pensa em engravidar e gostaria de se programar antes, é interessante já fazer todos os exames, não só exames bioquímicos, mas avaliar como estão os marcadores de alguns nutrientes no organismo para ver se precisa de alguma suplementação antecipada, ou antioxidante, pensando em vitamina C, vitamina D, vitamina E e o ácido fólico. O ácido fólico, orienta a nutricionista, deve ser tomado geralmente três meses antes e continua nos próximos três meses após a fecundação. E acrescenta: “E então, passado esses três primeiros meses, vai do médico, varia de obstetra para obstetra, mudar o ácido fólico por um polivitamínico, que também vai conter esse ácido, que é importante para a formação do tubo neural. Aquela mãe que está ouvindo e diz: ‘Ai, mas eu não fiz o preparo, eu não tomei ácido fólico antes de engravidar, o que eu faço?’ Não se preocupa, se você tomar nesse comecinho de gestação já é um ótimo aporte, não precisa ficar desesperada se você não se programou, não suplementou, vamos tentar corrigir, a partir do momento que soube que está grávida”. A nutricionista diz para seguir as orientações, não só polivitamínico, mas pensando em desenvolvimento cognitivo. O DHA tem um papel fundamental nessa parte de gestação e manter por esse período de amamentação é importante, porque é uma rotina diferente quando você tem um filho: amamentar, a questão de livre demanda, de sono reduzido, curto, espaçado. “Eu falo que o pessoal romantiza muito a amamentação, e não é tão simples. O que eu indico é que a mãe continue com a suplementação estava seguindo no último trimestre da gestação, que ela siga nesse período de amamentação para garantir um aporte adequado de nutrientes para passar pelo leite materno”, alerta.  

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Elaine conta que muitos desses nutrientes a gente encontra nos alimentos, mas a grávida e a mulher que está amamentando vão precisar ver com o seu médico se precisa dessa suplementação ou não. Exatamente, porque tem que avaliar como está a alimentação dela e o organismo metaboliza muita parte desses nutrientes. A especialista diz que é interessante ver como está o organismo dela, o funcionamento, se está em perfeita ordem, avaliar a alimentação dela , quanto de nutrientes ela está ingerindo no final do dia. E tem aquela questão: “Ah, mas eu não consumi hoje , consumir amanhã vale? Não é compensatório, é dia. Então, é por dia. Esses nutrientes devem ser ofertados diariamente”. 

As crianças 

Qual a alimentação para turbinar o cérebro dos pequenos? Em qual faixa etária é importante os pais se preocuparem com o que vai à mesa? Quando a gente fala de cérebro, explica Elaine, até os dois anos de idade, 80% foi desenvolvido, até os 5 anos, de 90 a 95% do cérebro foi desenvolvido. E relembra: “Por isso essa janela de oportunidade se estendeu até os 2200 dias, porque até os cinco anos a gente tem um crescimento máximo do cérebro e também das suas funcionalidades. Então, pensando que a criança foi amamentada exclusivamente até os seis meses, a partir do sexto mês ela começou a introdução alimentar. Dessa introdução até os 5 anos é importante verificar nutrientes chaves”. Aí pode parecer coisa pequena, relata ela. O ferro, segundo Elaine, tem um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, muitas vezes está associado apenas a anemia ferropriva, só que um dos prejuízos, das causas negativas da anemia ferropriva é o impacto negativo no desenvolvimento cognitivo. Ela conta que saiu uma metanálise bastante recente mostrando que o Brasil tem crianças com uma prevalência de 33% de anemia: “É um percentual muito grande”. 

Como deve ser o prato da criança

Elaine orienta que para aquela família que não é vegetariana, a carne é um ótimo alimento, seja a carne vermelha ou a branca. E tem também vegetais para a família que é vegetariana e não come carne, vegetais verde-escuros são muito importantes. E acrescenta: “A gente tem que trabalhar com dois tipos de ferro. Fontes animais possuem o férrico, que garante uma boa absorção, e fontes vegetais, folhosos, leguminosas, também possuem o férrico. Então, é preciso ter alguns mecanismos específicos. Juntar, sempre folhosos, colocar um suco cítrico, um suco de laranja, de tangerina ou de limão, precisa ser um suco que seja rico em vitamina C, porque a Vitamina C potencializa, colabora na absorção desse ferro de origem vegetal. Mas a gente tem alguns gatilhos, como por exemplo cafeína e cálcio, que são nutrientes importantes, mas que prejudicam e competem na absorção do ferro”. A nutricionista explica que se a criança vai almoçar ou jantar, o ideal é que não se tenha um iogurte de sobremesa. É um alimento rico em cálcio e esse cálcio vai competir com o ferro da alimentação. Então, enfatiza Elaine, o ferro é um alimento, um nutriente muito importante, que a criança precisa consumir em quantidades adequadas: “A gente precisa ter um olhar para quais são os alimentos e ver se esses gatilhos não estão sendo consumidos juntos”.  

Consumir da forma correta

Para a especialista, o DHA, que é importante para a gestante e para a lactante, também é importante para a criança. Segundo ela, a criança também precisa consumir fontes que ofereçam esse Ômega 3 . “Em crianças, estudos têm mostrado que um consumo de 450 miligramas por dia tem efeito bastante positivo para a cognição. Aquelas crianças que não comem, vão ser menos inteligentes? Não significa isso. Quem consome vai ter um desenvolvimento diferenciado. Óbvio que todo o contexto vai influenciar. Se é um nutriente que tem relatos mostrando esse benefício diferenciado, então vale a pena apostar”, afirma. Todos os peixes? Posso dar qualquer peixe?  Infelizmente, não, esclarece Elaine. Segundo ela, tem alguns peixes que se destacam. Preciso só comprar peixes mais caros? A sardinha, conta a especialista, é um pescado com um preço adequado, não é um preço elevado, e que garante um bom aporte de Ômega 3: “Então, já é um pescado que você pode inserir na alimentação. A gente tem a questão do atum, do salmão, mas a sardinha, por si, já seria o suficiente para ser inserido”. 

A nutricionista alerta: “Pais não fiquem preocupados, garantam uma alimentação adequada e equilibrada, colorida, diversificada, para não ficar sempre no mesmo alimento. Hoje nós temos suplementos, a criança pequena deve ser entupida de suplementos? Não necessariamente. Somente quando se fizer necessário. Hoje, a gente tem suplementação. Recentemente o consenso pela Sociedade Brasileira de Pediatria pela quantidade de ferro a ser ofertada mudou. Já é um suplemento que consta desde o momento do nascimento até as crianças um pouquinho maiores, a indicação é quando necessário, quando realmente for deficitário. Já existem várias marcas em formatos diferenciados para as crianças”. 

O futuro

Elaine finaliza que a janela de oportunidade bem aproveitada vai fazer a diferença no futuro dessa criança, vai fazer uma mudança geral porque ela programa o organismo, então é a programação metabólica. E destaca: “Ela vai programar para o bem ou para o mal. E essa programação vai ser por toda a vida, porque essa programação vai ter influência na célula, no DNA. É uma programação que vai ter efeitos a curto, médio e longo prazos. Construção de uma base sólida para o resto da vida. 

A nutricionista, especialista em nutrição materno-infantil, sugere o site www.nestlebabyandme.com.br  para mais informações.

*Roberta Manreza e Maria Cunha são repórteres do Papo de Mãe

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil. 

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