PAPO DE MÃE ENTREVISTA

pmadmin Publicado em 26/10/2010, às 00h00 - Atualizado às 13h18

26 de outubro de 2010


Olá! Hoje trouxemos para vocês uma entrevista exclusiva com a geriatra Dra.Tânia Vannucci Vaz Guimarães*, especialista convidada pelo programa Papo de Mãe deste último domingo. Confiram o que ela tem a dizer sobre os cuidados na terceira idade.
Dra. Tânia
Papo de Mãe: Qual é a idade certa para procurar um geriatra e a freqüência das consultas? Dra Tânia: A definição de idoso varia conforme o país. No Brasil, consideramos idosa uma pessoa com 60 anos ou mais. Porém, como um dos grandes objetivos da geriatria é a prevenção de doenças e perdas funcionais frequentes com o envelhecimento, constuma-se dizer que um indivíduo deve procurar o geriatra a partir do momento em que está preocupado com o seu envelhecimento. Todo geriatra tem como formação básica a clínica geral e, como tal, está apto a cuidar de adultos de todas as idades.Papo de Mãe: Quais as principais mudanças no aspecto emocional e físico que ocorrem durante processo de envelhecimento?Dra Tânia: O envelhecimento é uma fase da vida como qualquer outra (infância, adolescência etc) e, como tal, implica alterações em todas as dimensões do ser humano: física, psíquica-emocional, social etc. Existem alterações consideradas “normais” do envelhecimento, às quais denomina-se senescência e alterações patológicas, que são as doenças propriamente ditas, denominadas senilidade. Com o envelhecimento normal ocorre uma perda na reserva funcional de órgãos e sistemas. Ou seja, nosso corpo funciona normalmente, desde que não seja submetido a algum evento estressor. Frente a uma intercorrência, o organismo de um idoso pode não ter reserva suficiente para responder ao evento estressor, desenvolvendo, então, alguma doença. As mudanças físicas mais comuns do envelhecimento são a diminuição da agilidade motora, envelhecimento da pele, diminuição da densidade óssea, discreta lentificação do raciocínio e diminuição da atenção. Já alterações como perda de memória, depressão e problemas cardíacos não são considerados “normais” do envelhecimento e devem ser avaliadas e acompanhadas adequadamente. Diferentemente da esfera física, no âmbito emocional não há alterações específicas do envelhecimento. Cada pessoa envelhecerá emocionalmente de forma muito individual e dependente de outras alterações além do envelhecimento.Papo de Mãe: Qual a importância da família? É importante para o idoso conviver com filhos, netos e bisnetos?Dra. Tânia: Na maioria das vezes, a família tem um papel fundamental na vida do idoso. A convivência familiar e, principalmente, com indivíduos de outras gerações auxilia o idoso a se manter ativo e preocupado com a própria saúde. Papo de Mãe: É importante estimular a independência do idoso? E quando isto não é possível, qual a melhor alternativa: um cuidador ou uma casa de repouso?Dra. Tânia: Envelhecimento saudável e independência estão intimamente relacionados. É fundamental o acompanhamento médico objetivando a prevenção e controle adequado de doenças para se manter a funcionalidade e, assim, evitar a perda da independência. Infelizmente, alguns indivíduos desenvolverão doenças que poderão acarretar na perda de funcionalidade, como síndromes demenciais, acidentes vasculares encefálicos, problemas vasculares periféricos, insuficiências cardíacas, pulmonares ou mesmo osteoartrose grave. Frente um idoso dependente a melhor alternativa de cuidado irá depender de inúmeras variáveis, devendo sempre ser individualizada. As instituições de longa permanência para idosos (conhecidas como casas de repouso) são locais onde, muitas vezes, proporciona-se o melhor cuidado possível para aquele idoso. Em outras situações, a contratação de um cuidador para auxiliar nos cuidados em domicilio é a melhor opção. Não se pode generalizar, pois cada idoso e sua família terá características e necessidades específicas. Existem sim muitas instituições de longa permanência de altíssima qualidade onde se oferece ótimo cuidado ao idoso, fazendo-se necessária a desmistificação destas instituições e a diminuição do nosso preconceito frente esta forma de cuidado.Papo de Mãe: Como podemos ajudar uma pessoa que esteja passando por depressão, ou que já não escute e enxergue mais da mesma maneira? Dra. Tânia: As síndromes depressivas são doenças frequentes com o envelhecimento. Elas devem ser avaliadas, tratadas e acompanhadas por profissionais competentes (geriatras, psiquiatras e psicólogos). São doenças que tem tratamento e cura e não se pode negligenciá-las. As medicações antidepressivas atualmente trazem pouquíssimos efeitos colaterais, são extremamente seguras e não causam dependência, sendo, muitas vezes, a melhor opção de tratamento. Todo idoso deve, periodicamente, fazer avaliações de sua visão (com o oftalmologista) e audição (com o otorrinolaringologista). Perdas auditivas e visuais são muito frequentes com a idade, apesar de frequentemente neglicenciadas. Se não tratadas adequadamente, podem trazer inúmeras consequências deletérias, como aumentar risco de quedas, de depressão e até de perda de memória.Papo de Mãe: E a perda de memória? É possível tratá-la ou preveni-la? Existem exercícios indicados? Quais?Dra. Tânia: Muitos idosos se queixam de perda de memória. Sempre que há tal queixa deve-se procurar um profissional para avaliação, como o geriatra, neurologista ou psiquiatra. Algumas alterações são consideradas normais com o envelhecimento, como a diminuição da atenção. Entretanto, se a perda de memória está trazendo prejuízo funcional ao idoso, com comprometimento em tarefas que previamente eram realizadas sem dificuldades, levanta-se a suspeita de uma sídrome demencial. As síndromes demencias são doenças que podem ter várias causas, sendo a mais frequente a Doença de Alzheimer. As demências, em sua maioria, têm tratamentos que trazem o controle dos sintomas e diminuem a progressão da doença. Para se prevenir a perda de memória deve-se, antes de tudo, ter hábitos de vida saudáveis como dieta balanceada, prática de atividade física regular, controle adequado de doenças e, principalmente, manter atividades mentais prazerosas. Deve-se estimular atividades como leitura, escrita, atividades sociais e culturais, frequentar cinemas, teatros, enfim, procurar manter a mente ativa, sempre buscando uma atividade que o idoso goste.Papo de Mãe: Para terminar, o que é qualidade de vida na terceira idade? Quais os principais cuidados a serem tomados?Dra. Tânia: Não existe uma definição de qualidade de vida, pois ela é absolutamente individual. Cada um deve procurar o que considera qualidade de vida para si mesmo e, então, tomar as atitudes adequadas para atingi-la. Para a maioria das pessoas, ter saúde, independência e autonomia são fundamentais para se ter uma boa qualidade de vida. Para tal, todos os idosos devem, periodicamente, passar em consulta médica para prevenir/controlar doenças, manter hábitos de vida saudáveis como dieta balanceada e procurar manter-se físicamente ativo. Tais medidas certamente auxiliam na manutenção da independência e da autonomia, podendo o individuo envelhecer de forma saudável.Papo de Mãe: Gostaria de indicar algum livro, artigo, site ou outro material para nossos telespectadores?Dra Tânia: Sugiro acesso ao site do Serviço de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP, o GEROSAUDE, que disponibiliza material e informações referentes ao envelhecimento de altíssima qualidade: http://www.gerosaude.com.br/*Dra. Tânia Vannucci Vaz Guimarães é médica geriatra, formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e participou como especialista convidada no Programa Papo de Mãe sobre “mães com mais de 80 anos” exibido em 24/10/2010.


Mães de 80 anos