Pelo fim dos julgamentos. Respeito e responsabilidade

Roberta Manreza Publicado em 31/08/2016, às 00h00

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31 de agosto de 2016


Por Mariana Kotscho*

Já há muito tempo temos falado no Programa Papo de Mãe sobre como é chata a onda de julgamentos que acontece hoje em dia, principalmente em relação às mães.

A mulher que teve cesariana é julgada porque não teve parto normal. A que não consegue amamentar no peito, é julgada por dar a mamadeira. A que não demonstra autoridade quando o filho faz birra no shopping é julgada por não saber impor limites e por aí vai.

Ora, ninguém é mais mãe ou menos mãe por causa do tipo de parto ou porque amamentou assim ou assado.

E atire a primeira pedra quem nunca ficou sem ação diante de uma birra do próprio filho. Falar do filho dos outros é fácil, já dizia minha avó.

Em mais de 300 programas Papo de Mãe (que já foram ao ar pela TV Brasil e agora irão pela TV Cultura), sempre dissemos que nós não estamos aqui para ditar regras. O que podemos é tentar ajudar. Até porque o que funciona para uma família nem sempre funciona para outra.

As redes sociais oferecem um risco e um espaço aberto aos ditadores de regras. Daí, você que não consegue cumprir com o que determinam as tais regras, se sente a pior mãe do mundo.

Por isso tudo que é muito legal a campanha da Revista Crescer #julguemenos #apoiemais

Quem nunca passou por situações de julgamento ou ouviu alguma história?

Vou deixar aqui dois relatos que ilustram bem tudo isso.

Uma mãe que participou do programa sobre adoção nos contou que a filha chegou com duas semanas de vida. Um dia a família estava num restaurante e esta mãe começou a dar mamadeira para a bebê. Uma mulher do outro lado do salão se deu ao trabalho de levantar, ir até a mesa onde a bebê mamava e fazer um discurso aos gritos dizendo que aquilo era uma vergonha, ela deixar de dar o peito para dar a mamadeira. A mãe, então, simplesmente disse: “minha filhinha é adotada, infelizmente não tenho leite no peito.”

A outra história aconteceu comigo e com meu filho caçula.

Na hora de dormir, André, que tinha pouco mais de um aninho e estava aprendendo a falar, entrou no banheiro para escovar os dentes. Ao tentar pegar a escova, bateu com a boca na pia. Com dor e a boca sangrando, ele repetia chorando muito:

– Mamãe, bateu. Mamãe, bateu.

Enquanto eu tentava acalmar o menino e conter o sangramento, o interfone tocava insistentemente.

E André continuava:

– Mamãe, bateu. Mamãe, bateu.

– Eu sei que bateu filho, sei que você bateu a boquinha, já vai passar.

Com ele no colo, fui atender ao interfone. André ainda chorava.

Do outro lado da linha estava a vizinha do apartamento de cima:

– Sua louca, você está batendo no seu filho. Eu estou ouvindo ele gritar dizendo que você bateu nele. Vou ligar para a Vara da Infância e te denunciar.

Eu fiquei arrasada. O menino ali machucado e chorando e as irmãzinhas olhando pra mim. Eu ainda tentei argumentar, explicar que ele tinha batido a boca, mas era pequeno, que queria contar pra mim que havia batido ao dizer “mamãe bateu”, claro que ele queria dizer “mamãe, eu bati minha boca”. Quando me dei conta, percebi o absurdo da situação, eu estava preocupada em ficar me explicando de um grande julgamento e de uma enorme maldade. Até hoje não me conformo com o que aquela vizinha fez. O que ela podia era ter me perguntado se eu estava precisando de ajuda, isso sim.

E, pra terminar, gostaria de ressaltar duas palavrinhas que começam com “R” e estão em desuso, mas poderiam entrar na moda: Respeito e Responsabilidade.

Então é isso, julgue menos e apoie mais. Ou, melhor ainda. Não julgue. E, sempre que possível, apoie.

*Mariana Kotscho é mãe de 3 filhos, jornalista e apresentadora do Programa Papo de Mãe da TV Cultura.




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