Quando tudo isso passar: livro infantil mostra os dilemas da pandemia na ótica de uma criança

Escritora Sara Puerta fala sobre inspiração e de Pedro, personagem principal que lida com os primeiros dias de isolamento por conta da Covid-19

Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 08/06/2021, às 07h00

O olhar do menino Pedro sobre a pandemia - (Foto: Divulgação )

Março de 2020. Crianças, adultos, idosos, todos foram surpreendidos com a chegada da pandemia da Covid-19, que naquela época ainda era uma nébula de dúvidas sem respostas. "Quando tudo isso vai passar?". Essa pergunta inspirou a escritora Sara Puerta a criar um livro infantil escrito sobre a ótica de um garoto de 7 anos.

"Lembro de ler muitas notícias dizendo que aquele mundo que tínhamos antes não existiria mais, que 1/3 da população mundial estava em casa e todas as imagens de ruas vazias, os profissionais de saúde em hospitais lotados, manifestações na janela. Tudo isso foi fonte de inspiração pra escrever e deixar documentado, como um marco desse tempo, que mudou o rumo do mundo todo, e ainda, nem sabemos os totais efeitos dele", conta Sara ao Papo de Mãe.

Apesar de todo o contexto pandêmico, a autora explica que o livro ilustrado pode ser considerado "atemporal", já que traz um olhar para as atitudes diante de mudanças e do tédio, dois temas complexos quando tratamos de crianças. Entretanto, ela ressalta: existe um recorte positivo que mostra a resposta das crianças diante do período. "No Brasil, a educação, o aprendizado e a alfabetização na pandemia estão sendo muito impactados, ainda mais desafiadores do que antes, com ensino remoto, falta de conexão de milhares de famílias e as dificuldades que envolvem o ensino à distância."

Sara Puerta. (Foto: Arquivo Pessoal)

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A obra "Quanto tudo isso passar" conta a trajetória de Pedro, personagem principal, que se depara com a separação dos amigos, a saudade da escola, e a necessidade de aprender a lidar com o isolamento social. Para Sara, enxergar sob a ótica das crianças não foi muito difícil, ela é mãe de Leonel, 5 anos, e tem bastante proximidade com seus sobrinhos, principais responsáveis pela inspiração do pequeno Pedro.

"A inspiração veio de um dos meus sobrinhos, que desenvolveu a leitura na pandemia - antes ele apresentava dificuldade e com o isolamento passou a se concentrar mais", explica. A autora também se certificou de perguntar para outras mães o que elas sentiam sobre os seus filhos. Segundo Sara, a resposta foi a mesma: as brincadeiras em casa davam asas à imaginação e o desenvolvimento para outras atividades.

Mesmo sendo um tema complexo, Sara Puerta conseguiu traduzir de um jeito leve para as crianças. Ela conta que suas principais ferramentas para fazer isso foram olhar para o próprio filho e também para si mesma. "Primeiro, olhar o meu filho, o seu modo de ver o mundo, como ele o entende e se comunica, facilita essa 'tradução'. Em segundo, acho que eu também busquei dar a mim mesma, depois de um tempo, uma resposta mais leve, já que estava afundada em preocupações, ansiedade e medo. O comportamento positivo e alegre das crianças me chamou mais a atenção", afirma.

As ilustrações do livro são assinadas por Fábio Almeida.
(Foto: Arquivo Pessoal

Sara não descarta a possibilidade dar continuidade à obra. Isso porque a pandemia e o isolamento social, especialmente no Brasil, permanecem bem atuais, mesmo após mais de um ano de quando se iniciou. Na opinião da escritora, um volume 2 seria interessante porque traria as adaptações e questionamentos que surgiram nesse "segundo ano da pandemia", como a busca pela vacina.

"Um volume 3 traria o fim da pandemia. Aliás, essa questão é bastante curiosa na imaginação das crianças; algumas delas me falaram que quando a pandemia acabar, acreditam que terá uma grande festa na rua, com fogos, uma comemoração coletiva", completa.

Atualmente o livro está disponível gratuitamente em PDF (clique aqui). E pensando nos professores e crianças que estão no ensino remoto, a versão digital foi a melhor ideia que Sara e a editora Rota Imaginária encontraram para contribuir em um momento tão delicado para a educação.

"Disponibilizá-lo gratuitamente permite compartilhamentos e amplia o acesso também. Acredito que o livro nas escolas, além do registro histórico, permite conversas em aulas sobre o tema, leituras coletivas e, para as crianças, um meio de identificar e reconhecer as emoções que estão atravessando nessa fase. Além disso, é a maior crise que atravessamos, acredito na força de compartilhar, doar, contribuir no que for possível", finaliza.

Divulgação

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*Sara Puerta é jornalista formada pela Universidade Anhembi Morumbi, com atuação na área desde 2002, desenvolvendo reportagens sobre saúde, música, comportamento e sustentabilidade. Há oito anos, atua com conteúdo voltado para a Educação. É também formada em Produção Executiva pela AIC (Academia Internacional de Cinema) e uma entusiasta e admiradora da literatura infantil.


*Ana Beatriz Gonçalves é jornalista e repórter do Papo de Mãe

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