Seu filho bebê água o suficiente? Metade das crianças e jovens, não!

Roberta Manreza Publicado em 20/01/2016, às 00h00

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20 de janeiro de 2016


Pesquisadores constataram que cerca de uma a cada quatro crianças nunca bebe água “pura”, apenas outros líquidos, como sucos e refrigerantes

Por Naíma Saleh Crescer

Uma pesquisa publicada no American Journal of Public Health, nos Estados Unidos, constatou que mais da metade das crianças e adolescentes no país não bebe água o suficiente. O estudo foi realizado pela Escola de Saúde Pública de Harvard com base nas estatísticas do National Health and Nutrition Examination Survey, que reúne dados de 4 mil crianças de 6 a 19 anos, registrados entre 2009 e 2012. “Essas descobertas são importantes porque chamam a atenção para um problema de saúde em potencial ao qual não foi dada muita atenção no passado”, explicou a autora do estudo Erica Kenney, pós-doutoranda do Departamento de Ciências Sociais e Comportamentais da Harvard Chan School.

Normalmente, mães e pais se preocupam em manter as crianças hidratadas no verão, mas se descuidam durante o inverno. É claro que o risco de desidratação durante as altas temperaturas é maior, uma vez que o calor faz com que as pessoas transpirem mais e, consequentemente, eliminem mais água do organismo. Porém, no inverno, a transpiração também acontece, só que por meio de outros mecanismos. “Quando a criança fica muito agasalhada em uma temperatura que não está tão baixa, ela também vai suar e desidratar”, alerta a pediatra Neuma Kormann, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). O uso de aquecedores, que tem se tornado cada vez mais comum, contribui para isso, sem contar que deixa o ar mais seco.

Outro ponto fundamental é que o frio também aumenta a incidência de problemas respiratórios, o que pode complicar a vida de algumas crianças. “Doenças como asma, que causam taquipneia (que é o aumento do número de respirações por minuto), fazem com que o organismo perca mais líquido para o meio ambiente. É uma perda que não se mensura, mas acontece”, explica a pediatra. Também por conta da diminuição das temperaturas, é necessário haver um maior esforço metabólico para manter o calor do corpo, o que aumenta o consumo de água do organismo.

Pouca água = desidratação

Os pesquisadores observaram que uma boa parte das crianças que tomava menos água do que o recomendado tinha pelo menos um grau leve de desidratação, o que pode deixar o organismo mais debilitado e propenso a infecções. “A água é o soluto para reações que acontecem no organismo, por isso ela é essencial”, explica Neuma. “Cerca de 60 a 70% do corpo humano é composto por ela. Perder esse líquido gera desequilíbrio, levando a distúrbios metabólicos”, completa o pediatra Cid Pinheiro, do Hospital São Luiz Morumbi (SP). Como a água é um elemento essencial na maioria dos processos do metabolismo, a falta de hidratação adequada pode causar prejuízos, tanto nos sistemas circulatório e excretor até na regulação da temperatura do corpo. Nos casos extremos de desidratação, há possibilidade de crise convulsiva e óbito.

Para saber se a criança está bem hidratada, a melhor maneira é observar a urina, avaliando a cor, o volume e a frequência com que seu filho vai ao banheiro. O ideal é que o xixi seja claro, abundante e eliminado muitas vezes ao longo do dia. Outro sinal é observar a mucosa da boca: “A saliva tem que estar fluida, líquida, não espessa, como um chiclete”, diz Neuma. Olho encovado (conhecido como “olho fundo”) com pouco brilho e choro sem lágrimas também serve de alerta.

Só suco não vale!

Surpreendentemente, o estudo revelou que cerca de um quarto das crianças e adolescentes relataram que não bebem água “pura”. “Hoje, as pessoas estão substituindo a água por outros líquidos, que contêm grande quantidade de sais e glicose, como os sucos”, explica Pinheiro. Sim, eles podem fornecer energia e vitaminas importantes ao organismo, principalmente se forem preparados na hora de tomar. Mas, assim como chá e leite, não substituem a ingestão de água. “As crianças não querem beber água porque ela não tem sabor, e então os pais passam a ofertar outros líquidos. A criança percebe que são mais doces, saborosos e então param de tomá-la”, completa o pediatra.

A questão é que a função da água no organismo é justamente equilibrar a quantidade de sais. Se o corpo perde água, ele está aumentando a concentração de sais no organismo, o que pode provocar uma série de problemas, como já mencionado. Do mesmo modo, quando o líquido ingerido já contém uma grande quantidade de sais, como acontece com sucos industrializados e isotônicos, o corpo vai precisar de muito mais água para equilibrar o organismo. Assim, em vez de suprir a necessidade de líquido, ela aumenta.

Dicas para ingerir mais líquidos

A quantidade de água que bebês e crianças devem consumir varia de acordo com o peso e a idade da criança. Algumas dicas podem ajudar seu filho a se manter sempre hidratado:

– A família deve dar o exemplo. Se os pais estão acostumados a ingerir água, a criança também vai aprender;

– A criança não vê muita graça em parar a brincadeira para se hidratar (principalmente as pequenas), por isso é preciso oferecer o líquido regularmente ao longo do dia;

– Na hora do almoço ou do jantar, a criança normalmente acaba se satisfazendo com o suco em vez de comer – porque é mais fácil e doce. Para não prejudicar o apetite, melhor oferecer líquidos entre as refeições;

– Deixe sempre uma garrafa d’água à mão: seja na bolsa, no carro, na sala de brincar ou no quarto da criança.

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