pmadmin Publicado em 31/01/2010, às 00h00 - Atualizado em 08/01/2015, às 13h14
RS: Carreira e maternidade. Conciliar isso é um dilema para mulher moderna?DK: Sim. É um grande dilema e as mulheres, muitas vezes, acabam fazendo opções que as deixam muito frustradas e machucadas. Elas acabam escolhendo abandonar algo muito precioso, que elas vinham se dedicando há muito anos, que é a carreira, em nome de ser uma mãe maravilhosa, em nome de um ideal, que é quase impossível. Ideal não existe. A gente tenta o que é possível – que é ser boa mãe, cuidadosa. Mas para isso acontecer, o sonho pessoal da mãe também é importante. Se este sonho for ter um trabalho que vai significar algo, se ela vai se sentir potente, ganhando dinheiro, sendo reconhecida, no momento em que ela abandona isso, nem sempre ela consegue se sentir feliz e realizada.RS: Como conciliar?DK: É difícil, mas é possível. Se ela não tiver expectativa altíssima de que tem que tirar nota 10 em tudo. Se ela puder entender que o filho pode ficar em alguns momentos sem ela, que o filho sobrevive com alguma ajuda (neste caso pode ser funcionária em casa, avó, escolinha, creche), que ela pode estar passando o melhor que ela tem na qualidade (que nem sempre significa quantidade) e que no trabalho dela, ela pode ser boa, mas não tem que ser perfeita. Se ela for buscar o máximo, ela acaba se exaurindo e adoecendo. Acho que é possível. Passei por esta experiência na minha vida. Tive que driblar algumas coisas. Em alguns momentos, eu precisei faltar no trabalho. Em outros momentos, tive que faltar em casa. Então, acho que a gente convive com a falta. Nem sempre se consegue estar em tudo e o filho aprende a valorizar que a mamãe está dormindo ou a mamãe está estudando e trabalhando. Ele aprende a ficar perto desta mãe que trabalha, estuda, desenvolve uma tarefa e é bom isso. Isso estrutura uma família.RS: Como administrar a culpa?DK: Analista, padre, confessionário… (risos). A culpa acompanha um pouco, mas a gente pode pensar em co-responsabilidade. Se essa mãe tem marido, se o companheiro entender que ela está fazendo o máximo, o melhor, e nem sempre ela vai dar conta de tudo, e que se ela escolheu estar neste momento no trabalho ou num seminário, isso é importante pra ela. Em outro momento, ela vai estar com filho no cinema, nas férias. Então, ela consegue viver amplamente cada momento. Sei que isso não é possível o tempo todo. Eu lembro de muitos momentos da minha vida em que era meio-dia, estavam todas as mães na porta do colégio e eu não estava. Isso quer dizer que eu era a pior? Não, não era a pior. Eu não podia fazer isso…Tem uma somatória nas relações. A vida entre filhos e pais é constituída de muitas situações. Vai se formando uma teia de amor, de carinho, de limites, de “minha mãe não é tão maravilhosa”. Pais precisam suportar a idéia de não ser tudo. A gente vive numa sociedade, numa cultura, que é como se os filhos não pudessem ter frustrações e é péssimo isso. E o que acontece? A gente vê tantos jovens infelizes, dependentes de drogas, com depressões – porque é como se precisassem ter tudo, um playground de motivações o tempo todo. Acham que precisam ter tudo e não é isso que é bom. Lembro que alguns anos atrás para criança ter alguma coisa era mesada, tinha limites. Nem ter todas as férias, nem todas as festas. A mãe que dá um pouco talvez esteja dando muito e é importante que esta mãe saiba que esta quantidade dela pode ser não tão grande, mas pode ser preciosa.RS: Muitas mulheres quando ficam grávidas enfrentam problemas no trabalho. Tem que haver uma divisão?