Papo de Mãe

Como é ser mãe e educadora

Roberta Manreza Publicado em 26/04/2016, às 00h00 - Atualizado em 28/06/2016, às 07h57

Imagem Como é ser mãe e educadora
26 de abril de 2016


Docentes contam como organizam essa relação em prol dos filhos

Raphaela de Campos Mello ([email protected]) – Nova Escola

Ter pai ou mãe docente é um diferencial positivo na vida escolar de crianças e jovens. E, quando os familiares lecionam na mesma escola em que eles estudam, essa relação se intensifica. É o que mostra o artigo Efeito Pai Professor: o Impacto da Profissão Docente na Vida Escolar dos Alunos, publicado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e assinado por Marlice de Oliveira e Nogueira, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com o estudo, pais que também são professores costumam acompanhar de perto as atividades escolares e incentivar as extracurriculares. São responsáveis também por incutir nos filhos o apreço pela escola, pelo aprendizado e pela convivência dedicada e respeitosa em sala. No entanto, em alguns casos, tamanho zelo pode acarretar conflitos, como a vigilância excessiva em casa ou a intervenção exagerada no programa didático do professor. Por isso, é preciso haver tato e limites para entender o que cabe a cada um.

Um exemplo comum de como essa relação interfere na rotina escolar é o docente averiguar a sala destinada ao filho antes do início das aulas e, se desaprovar o professor ou preferir outro docente, pedir a transferência da criança, conta Maria Inês Miqueleto, coordenadora pedagógica na EE Professora Maria Aparecida dos Santos Oliveira, em Ibitinga, a 358 quilômetros de São Paulo.

Ela alerta para o perigo de a participação desmedida acabar limitando a autonomia tanto de quem ensina quanto de quem aprende. “Conheço casos de mães que são professoras que só enxergam problemas e reclamam demais em vez de buscar um diálogo construtivo”, exemplifica. Não é errado demonstrar interesse pelo desenvolvimento da criança ou mesmo questionar o objetivo de uma tarefa, desde que a liberdade do profissional responsável seja respeitada. Confiança é fundamental nesse caso.

Outro perigo corriqueiro é o excesso de cobrança sobre o filho, visto como exemplo e estimulado a apresentar disciplina e desempenho impecáveis. “A busca pelo perfeccionismo coloca muita pressão sobre o aluno tanto no ambiente doméstico quanto no escolar”, alerta Maria Inês. Há casos em que ele cria a fantasia de que precisa ser notável para agradar aos pais docentes. Nesse cenário, afirma a psicóloga escolar Joyce Russo, é preciso suavizar a carga emocional. “Se o adulto reduz as próprias expectativas em relação ao que considera o comportamento infantil ideal, autoriza a criança a fazer o mesmo.”

Parceria acima de tudo

Felizmente, na EMEB Professora Regina Maria Tucci de Campos, em Mogi Mirim, a 160 quilômetros de São Paulo, a harmonia prevalece. Professora da pré-escola e mãe de Laura, 5 anos, matriculada na mesma etapa, Dejanira Ferreira de Melo preferiu não lecionar para a turma da filha e procura ter um diálogo aberto com Irene Garcia, educadora da menina. “Expliquei à Laura que, se tivesse alguma dificuldade ou conflito em sala, deveria falar com a professora, não comigo”, diz a mãe, que faz questão de seguir as mesmas regras impostas a outras famílias. “Na entrada, deixo minha filha no portão com todas as crianças.”

Germana Coelho, professora de inglês e mãe de Rafael, 13 anos, aluno do 7º ano da EMEF 28 de julho, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, é adepta do lema “quanto menos interferência, melhor”. “Minha maior preocupação é não invadir o espaço dele nem interferir na rotina pedagógica.” Ela se policia para preservar uma distância adequada do filho. “Se o encontro no corredor, não paro para cumprimentar ou beijar”, revela, enfatizando que orienta o garoto a evitar reagir quando ouve elogios ou críticas a ela. A educadora também não interfere no trabalho de outros docentes. Como explica Neuriberto Pinheiro, professor de Matemática do garoto, “esse é o cenário ideal, com confiança e respeito mútuos”.

Ser mãe e educadora. Foto: Julio César Costa e Sílvia Zamboni

No grupo à esquerda: Irene, professora, e Dejanira, mãe (à dir.), com Laura. No grupo à direita: Germana, mãe de Rafael (sentado), e o professor Neuriberto (em pé)

Diálogo franco

Estar aberta a ouvir críticas sobre a filha e conversar é fundamental. “Se tenho de chamar a atenção de Laura, sei que Dejanira vai entender porque vive a mesma realidade na sala dela”, afirma Irene. Para a dupla, diálogo e solidariedade contribuem com o bom andamento da rotina. “A parceria é essencial mesmo para as mães que não são professoras. Do contrário, o processo educativo não evolui como deveria”, observa Irene.

Respeito ao colega

Ser discreta e dar espaço ao trabalho dos demais docentes traz bons resultados. “Germana não mistura as coisas. Por isso, nunca interferiu na minha prática”, diz Neuriberto. Na sala dos professores, ela evita dar vazão a perguntas e curiosidades sobre o filho, deixando-as para a reunião de pais. A boa relação produz mais um efeito. “Parece que o aluno respeita mais o professor quando sua mãe é colega de profissão”, comenta ele.

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