A cartilha é voltada para crianças com e sem deficiência, de 0 a 8 anos, e pode ser lida pela criança com pais, mães, outros parentes ou educadores
Patrícia Almeida* Publicado em 29/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h42
Um dos maiores medos de mães e pais é o de que seus filhos sejam abusados sexualmente na infância. Quando vemos uma reportagem ou sabemos de algum caso de violência, aquele frio corre pela espinha e tentamos rapidamente afastar o pensamento de que poderia acontecer com nossas crianças.
Só que sim, poderia acontecer. E acontece. Dados de 2019 sobre denúncias feitas pelo Disque 100 revelaram que 55% eram registros de violações contra crianças e adolescentes. Um crescimento de 14% em relação a 2018. E esses números ainda não refletem os casos da pandemia. Sabemos que o confinamento de vítimas junto com seus agressores e a impossibilidade de pedir ajuda só piorou a situação.
Mas o que fazer diante dessa realidade?
Educar para a prevenção contra a violência. Esta é a melhor saída e a menos traumática para todos.
Muitos familiares não sabem quando nem por onde começar. Ficam constrangidos em tocar no assunto com as crianças e acabam adiando essa conversa.
Um grupo independente e voluntário de mais de 50 especialistas de diversas áreas como psicologia, educação, direito, segurança, saúde e comunicação se reuniu para oferecer uma ferramenta poderosa para famílias e educadores enfrentarem esse desafio de frente.
A cartilha “Eu Me Protejo” ganhou o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos 2020. Ela é clara e vai direto ao assunto.
A partir da cartilha é possível ensinar às crianças quais são as partes íntimas do corpo e que elas não devem ser tocadas por outras pessoas, como se proteger e respeitar o corpo dos outros, alertar para possíveis situações de risco e orientar sobre o que fazer, caso elas ocorram.
Desenvolvida em linguagem fácil e ilustrada, a cartilha é gratuita e tem versões em Libras, audiodescrição, videolivro, espanhol e inglês.
Agora você não tem mais motivos para ficar adiando a conversa. Ensine sua filha ou seu filho a se proteger. Prevenir é sempre melhor do que remediar.
Saiba mais sobre o projeto “Eu me protejo” clicando aqui.
*Patrícia Almeida:Graduação em Comunicação Social – Jornalismo – PUC/RJ; MA in Disability Studies, CUNY City University of New York (2020). Funcionária pública federal – oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores. Ativista dos direitos das pessoas com deficiência e palestrante nacional e internacional.
Estima-se que a exploração sexual infantil afete cerca de 500 mil crianças e adolescentes ao ano no Brasil. Isso significa que em média, são mais de mil casos por dia. No entanto, apenas 10% são notificados às autoridades, segundo a Childhood Brasil.
Neste momento de distanciamento social, instituições alertam para o aumento de violência contra grupos vulneráveis em todo o mundo, especialmente para mulheres e crianças. No Brasil, a agressão contra a mulher aumentou em 44,9% só em São Paulo, de acordo com relatório divulgado no dia 20 de abril pelo Fórum de Segurança Pública– FBSP. Assim como o aumento de feminicídios no Estado, de 13 para 19 casos – 46,2%. O mesmo aumento também acontece quando se trata de exploração sexual infantil neste período, com um crescimento de 50% apesar das subnotificações e silenciamento da vítima, já que o principal espaço de denúncia, a escola, está fechado.
Este cenário ressalta a importância de iniciativas como o documentário Um Crime Entre Nós, produzido e idealizado pela Maria Farinha Filmes, Instituto Liberta e Alana e dirigido por Adriana Yañez.
O filme investiga os motivos que posicionam o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de ocorrências de Exploração Sexual Infantil, segundo a The Freedom Fund.
“O documentário tem como propósito jogar luz sobre um dos mais graves e invisibilizados problemas sociais brasileiros, que é a violência contra crianças e adolescentes, em especial a exploração sexual. Fechar os olhos para esta questão além de ser uma enorme violação de direitos humanos, tem um custo social gigante. O Brasil precisa acordar para isso”, explica Luciana Temer, Diretora Presidente do Instituto Liberta.