Papo de Mãe

Hipertensão em crianças e adolescentes

Existe uma alta correlação entre hipertensão e obesidade. Quando não tratada, a hipertensão de longa duração pode afetar o coração, os rins e o cérebro.

Roberta Manreza Publicado em 08/06/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h55

Imagem Hipertensão em crianças e adolescentes
8 de junho de 2018


Por Dr. Moises Chencinski*, pediatra e homeopata

Uma abordagem mais eficaz: há cinco novas recomendações contidas em relatório americano

Novas diretrizes nacionais (as anteriores eram de 2004) sobre a identificação e o tratamento da hipertensão em crianças e adolescentes (entre 3 e 18 anos de idade) foram publicadas pela Academia Americana de Pediatria (AAP), que reuniu um painel de especialistas para produzir as novas recomendações.

O relatório, Clinical Practice Guideline for Screening and Management of High Blood Pressure in Children and Adolescents, reúne uma série de recomendações baseadas em evidências para pediatras, derivadas de uma revisão abrangente de quase 15.000 estudos médicos publicados desde 2004.

“O tratamento de primeira linha permanece centrado nas mudanças no estilo de vida, pois existe uma alta correlação entre hipertensão e obesidade. Quando não tratada, a hipertensão de longa duração pode afetar o coração, os rins e o cérebro”, explica o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Medições rotineiras de pressão arterial

Entre as novas recomendações está a recomendação para realizar apenas medições rotineiras de pressão arterial, em consultas anuais de cuidados preventivos, em oposição às diretrizes de 2004, que recomendavam testes de pressão arterial sempre que uma criança estivesse em um ambiente de saúde, como em emergências, tratamento domiciliar ou durante uma consulta odontológica.

“Esse grande volume de testes para aferição da pressão arterial produziu alguns falsos positivos. Às vezes, as crianças sentem dor ou têm outros problemas que fazem com que sua pressão arterial fique alta, por um  curto prazo, mas não têm hipertensão, o que leva a preocupações desnecessárias sobre a pressão sanguínea elevada por parte dos pais e das próprias crianças”, destaca Chencinski.

Pacientes obesos e com sobrepeso

Uma segunda grande diferença é que o novo relatório removeu pacientes com sobrepeso e obesos ao calcular os padrões para pressão arterial normal em jovens – mantendo o valor de referência da pressão arterial alta no início do percentil 95 e categorizado por idade, sexo e altura.

“Como sabemos que aqueles que são obesos ou que apresentam sobrepeso têm maior probabilidade de ter pressão alta, removê-los do pool de cálculo ‘normal’ significa que vamos pegar mais crianças com peso médio com pressão arterial mais alta do que com o modelo antigo, potencialmente prevenindo sérios problemas de saúde no futuro, através do diagnóstico precoce”, explica o pediatra.

“Hipertensão do jaleco branco”

Uma terceira diferença é a recomendação para diagnosticar a hipertensão arterial usando um monitor de pressão arterial ambulatorial, que é anexado ao corpo e usado em situações reais. Isso substitui a antiga diretriz que resultou em um diagnóstico de hipertensão, após três leituras da pressão sanguínea elevadas, sucessivas, em um consultório médico.

“Ao fazer esta recomendação, o relatório cita evidências significativas da ‘hipertensão do jaleco branco’,  leituras elevadas da pressão arterial no consultório do médico, mas muito mais baixas em casa, ligadas ao medo e à ansiedade em um ambiente clínico”, diz o pediatra Moises Chencinski.

Menos ecocardiogramas

Uma quarta diferença é a recomendação de solicitação de um ecocardiograma para jovens hipertensos, apenas se o paciente estiver usando medicação para tratar a pressão arterial. De acordo com as antigas diretrizes, os ecocardiogramas eram rotineiros em casos de pressão arterial anormal, independentemente de o paciente estar ou não sob o uso de medicação.

“As evidências geralmente não mostram benefícios para a saúde de ecocardiogramas em pacientes jovens cuja pressão sanguínea está sob controle através de mudanças no estilo de vida: dieta e exercícios”, conta o médico.

Comparação com as recomendações para adultos

Uma grande diferença final é que as novas recomendações foram desenvolvidas por meio da harmonização com as novas diretrizes para adultos. “Por exemplo, sob as novas diretrizes, pacientes com 13 anos de idade ou mais têm as mesmas definições de pressões arteriais anormais do que as diretrizes de hipertensão para adultos da American Heart Association e do American College of Cardiology”, diz Moises Chencinski.

De acordo com as antigas diretrizes, que foram desenvolvidas isoladamente dos critérios adultos, aos 17 anos de idade, os pacientes poderiam ser rotulados como hipertensos porque sua pressão arterial era maior que 120/80, mas quando completassem 18 anos, essas mesmas leituras poderiam ser consideradas elevadas ou pré-hipertensivas, não levando a um diagnóstico de hipertensão.

De acordo com o novo relatório, 3,5% de todas as crianças e adolescentes, nos Estados Unidos, têm hipertensão – de 1,5 a 2 milhões de jovens. Mas devido às leituras elevadas da pressão arterial, muitas vezes, a doença passa despercebida e fica sem tratamento. As novas diretrizes fornecem melhores ferramentas para identificar e gerenciar a pressão arterial elevada em jovens.

*Site: http://www.drmoises.com.br

Email: [email protected]



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