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O impacto da pandemia na visão das crianças

Os casos de miopia aumentaram na pandemia e, entre as causas, está o excesso de telas. Além disso, há outros problemas. E existe prevenção

Dra.Marina Roizenblatt* Publicado em 07/07/2021, às 08h00

Aumentaram os casos de miopia entre crianças
Aumentaram os casos de miopia entre crianças

O ano de 2020 era promissor para os oftalmologistas, pois invocava o “20/20”, termo técnico usado para descrever uma visão perfeita. Entretanto, os acontecimentos não ocorreram exatamente como planejado e 2020 marcou o início da pandemia do coronavírus, um momento histórico que, ao contrário do previsto, impactaria negativamente na acuidade visual da população global por todos os anos subsequentes e, infelizmente, as crianças também não ficaram fora dessa onda.

Aumento da miopia

Em primeiro lugar, aumentou significativamente a prevalência de miopia entre as crianças. Segundo estudo da revista JAMA Ophthalmology publicado em 2021, notou-se em 2020 um aumento de até 3 vezes na prevalência de miopia entre crianças de 6 a 8 anos. A prevalência de miopia já vinha aumentando e as estimativas eram que, em 2050, pelo menos metade da população mundial já seria míope.

Um dos principais responsáveis por esse fenômeno é aumento do tempo despendido em atividades para perto e a consequente diminuição da duração das atividades ao ar livre. Como consequência da pandemia, as crianças se viram obrigadas a migrar das salas de aula para as telas de seus computadores, cuja distância de trabalho era significativamente menor.

Impossibilitadas de sair de casa frente às razões sanitárias, o período após as aulas se tornou preenchido por atividades no celular, videogames, televisão e outros eletrônicos, todos estímulos sabidamente associados ao aumento do grau de miopia.

Olho seco

Outra condição que tem se tornado cada vez mais frequente entre as crianças nesse período de pandemia é o olho seco, algo que antes era raramente diagnosticado no exame de crianças. Aqui, novamente, o vilão é o tempo excessivo de exposição às telas eletrônicas, uma vez que é descrito na literatura uma diminuição da frequência de piscadas quando se está mexendo no computador, quando comparado à leitura de um livro, por exemplo. Vale também citar o aumento da prevalência de distúrbios de acomodação do cristalino, que nada mais é do que um problema na contração dos músculos oculares.

O que fazer?

Uma boa recomendação para lidar com esses impactos da pandemia é tentar fazer pausas a cada aproximadamente 1 hora nas atividades extracurriculares realizadas em telas eletrônicas, que devem ser intercaladas por leituras de folhas impressas ou, se possível, atividades externas em que a criança precise focar distâncias maiores que 1 metro. Além disso, deve-se atentar para quando a criança se queixar de olho vermelho, sensação de areia nos olhos e, principalmente, baixa visão. Frente a esses sintomas, a recomendação é que seja realizado um exame oftalmológico completo, a fim de se estabelecer o diagnóstico e consequente tratamento adequados para cada criança.

A oftalmologista Marina Roizenblatt

Referências biográficas

Wang J, Li Y, Musch DC, et al. Progression of Myopia in School-Aged Children After COVID-19 Home Confinement. JAMA Ophthalmol. 2021;139(3):293–300. doi:10.1001/jamaophthalmol.2020.6239

@dra.marina.roizenblatt

*Dra Marina Roizenblatt é médica oftalmologista especialista Retina Cirúrgica, Doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo, Brasil, Postdoctoral fellow pela Johns Hopkins University, EUA.

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