Papo de Mãe

Quando você fala seu filho te escuta?

Muitas vezes trocamos o pedido por reclamações, partimos do pressuposto que o outro deve saber, como se por intuição, o que queremos deles.

Roberta Manreza Publicado em 01/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h42

Imagem Quando você fala seu filho te escuta?
1 de dezembro de 2020


Sabemos pedir ou estamos sempre reclamando?


Seu quarto vive uma bagunça, você não ajuda em nada, é muito preguiçoso… Quantas vezes repetimos para os nossos filhos reclamações sobre o que eles deixam de fazer no dia a dia? Na quarentena foram brigas e mais brigas em casa, para que as crianças deixassem de lado as redes sociais, as séries de TV, o videogame e o TikTok, para se concentrar no homeschooling ou começar a ajudar nas tarefas de casa. Se para nós pais a rotina mudou, para as crianças a mudança foi maior ainda. Mas quando você fala seu filho te escuta? A quantidade e a qualidade da informação que você passa é suficiente para ele te obedecer?

Muitas vezes trocamos o pedido por reclamações, partimos do pressuposto que o outro deve saber, como se por intuição, o que queremos deles. A correria e a quantidade de coisas que temos para fazer e pensar, nos impede muitas vezes, de sermos claros nas nossas intenções e pedidos e com isso, o que recebemos como resposta, nem sempre cumpre com as nossas expectativas. Agora você já parou para pensar como transformar reclamações em pedidos claros?

Para isso em primeiro lugar precisamos parar e nos observar. Será que sabemos mesmo o que queremos dos nossos filhos? Conseguimos ser claros na mensagem que estamos passando para eles? Por exemplo, para alguns o videogame em excesso é ruim pois prejudica a visão, para outros pois está atrapalhando os estudos e para um terceiro pode ser pois ele quer que o filho pratique mais esportes. Se sabemos a nossa real intenção, nosso real incômodo, somos mais assertivos na nossa comunicação e com isso temos uma maior chance de sucesso. Se falo para o meu filho: “Chega de videogame, você não sai daí fazem horas!” Qual a chance dele largar o jogo?? Praticamente zero. Agora se eu mudo a forma que eu falo: “Filho, você está jogando faz 2 horas e eu me preocupo que está deixando de se exercitar e fazer suas tarefas, isso tem me deixado angustiada. Será que você poderia desligar agora para fazer outras coisas?” Sendo claro nas nossas intenções temos mais chances de ter uma resposta positiva dos nossos filhos.

E isso vale para tudo. Mas para podermos pedir direito, temos que ter clareza do que queremos e porque queremos. Devemos gastar um pouco do nosso tempo nos perguntando o que estamos sentindo e qual a nossa necessidade que não está sendo atendida, e a partir dessa resposta, partir para a ação. Depois desta parada e reflexão, precisamos pensar na forma e conteúdo do nosso pedido, se conseguimos nos entender, agora temos que fazer com que nossos filhos nos entendam e também percebam que a questão é deles também. Ao colocamos nossos sentimentos e angústia de maneira que eles entendam temos mais chances dele cumprirem com o desafio. Aí, é claro que temos que ter certeza que a opção pedida é viável para ele também.

Vamos usar um exemplo para ser mais claro.  Se queremos que nossos filhos não joguem mais videogame, e se nesse caso é porque queremos que eles pratiquem esporte. Já vimos que ao invés de chegar e falar:

“Você está sempre no videogame !”, vamos trocar por: “Fico preocupado pela sua saúde de te ver tanto tempo no videogame, queria muito que você fizesse mais esporte.” A frase não é mágica e nem sempre vamos ter um sim como resposta, podemos ouvir dos nossos filhos:

  1. Não vou sair.
  2. Todos meus amigos estão jogando, mais tarde eu posso fazer esporte, mas quero continuar jogando.
  3. Não tem nenhum esporte que eu goste.
  4. Já joguei bola ontem o dia todo com meus amigos e por isso hoje estou no videogame.

Enfim, são inúmeras respostas, mas que podem ser uma boa oportunidade para abrir uma conversa e tentar uma solução mais definitiva. Afinal não queremos ter que reclamar todos os dias da mesma coisa.

Agora temos uma oportunidade, de conversar! Se aprofundar na resposta e entender o que seu filho está dizendo. Olhando para os exemplos acima, na primeira situação vemos que a criança não quer sair, e vai ser necessária mais curiosidade e talvez voltar em outro horário, onde ele não esteja jogando, para entender a posição tão firme e a escuta tão fechada. Já nas opções 2 e 3 podemos aproveitar a situação para tentar JUNTOS construir um cenário melhor do que o atual. Talvez não vai ser 100% do nosso jeito, e até porque vamos perceber que não precisa ser. Mas podemos, a partir dessa conversa, achar uma solução confortável para você e para ele. Já no último exemplo podemos perceber que a situação não está tão grave quando estávamos imaginando.

Na próxima vez que for reclamar de alguma coisa, tente fazer esse exercício, pare, pense o que você realmente quer, e transforme a sua necessidade em um pedido claro, colocando os seus sentimentos, a sua necessidade e a ação que gostaria que ele fizesse. Comece pelas coisas mais simples e aos poucos vai percebendo como essa nova comunicação pode ser transformadora.

Por Debora Matalon e Veronica Cattan

Mediadoras de Conflito com foco na melhora da comunicação através das técnicas e ferramentas da mediação.

@vamosconversar_mediaçao 

https://www.vamosconversarmediacao.com/




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