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Setembro Amarelo: a autocompaixão como importante antídoto contra o sofrimento

O porquê de adolescentes estarem deprimindo cada vez mais e como os pais podem ensinar os filhos a terem autocompaixão motivaram pesquisa de Adriana Drulla

Adriana Drulla* Publicado em 05/09/2021, às 07h00

Sensação de ter que atingir expectativas altíssimas para se sentir bom o suficiente
Sensação de ter que atingir expectativas altíssimas para se sentir bom o suficiente

Autora da pesquisa “Transmissão Intergeracional da Autocompaixão”, Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, explica que uma das motivações de seu estudo foi buscar entender porque adolescentes se deprimem cada vez mais. Uma das grandes questões na adolescência hoje é o aumento da comparação social, tanto por conta das redes sociais quanto porque hoje os pais, a escola e a sociedade têm maiores expectativas com relação às crianças. Essa sensação de ter que atingir expectativas altíssimas para se sentir bom o suficiente é um dos fatores que contribui para o aumento da depressão nesta faixa etária. 

Uma segunda pergunta que motivou Adriana foi o que os adolescentes precisam aprender para entenderem que não precisam se comparar com ninguém ou atingir nenhuma expectativa para saberem que têm valor. Como fazer para que eles aprendam que têm valor intrínseco. E foi quando ela descobriu trabalhos que apontam a autocompaixão como um antídoto para este foco excessivo na competição e destaque. 

Adriana destaca a importância da autocompaixão na etiologia dos pensamentos suicidas e de automutilação. “Jovens com baixa autocompaixão, são mais propensos a terem sofrimento psicológico, como por exemplo depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. Eles também reportam maior uso de álcool, automutilação e ideação suicida em comparação com aqueles que têm maior autocompaixão”. 

Mas o que seria a autocompaixão e como praticá-la?

A autocompaixão, é mais do que a ausência de autocrítica. Em vez disso, é um processo no qual os indivíduos têm a intenção e motivação para adotar e aplicar uma mentalidade compassiva em relação a si mesmos. “Por exemplo, a aceitação das falhas/dificuldades pessoais em vez de criticá-las; ter uma consciência clara sobre pensamentos, emoções e experiências que são emocionalmente dolorosas; e adotar ativamente uma postura gentil e de apoio com relação a si mesmo, em vez de se julgar severamente por esses eventos. Além disso, implica reconhecer que o fracasso é algo que todos experimentam, em vez de se sentirem isolados, sozinhos ou inferiores”, explica a especialista.  

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E como será que os pais podem ensinar os filhos a serem autocompassivos?

“Na minha pesquisa, feita nos Estados Unidos com 246 pares de mães e filhos,  descobri que mães autocompassivas têm filhos mais autocompassivos e estas crianças se sentem mais conectadas às suas mães. Além de ensinar pelo exemplo, o que acontece quando somos gentis com as nossas imperfeições e nos tratamos com cuidado é que nos tornamos mais saudáveis emocionalmente, menos reativos, conseguimos nos conectar com o jovem de uma forma mais profunda. Por exemplo, conseguimos usar a nossa própria experiência para mostrar ao jovem que às vezes também temos dúvidas, é normal nos sentirmos inadequados e inseguros. A partir desta conexão, normalizamos para o adolescente as suas dificuldades, facilitando o entendimento de que imperfeições são naturais e esperadas, não sinais de inferioridade. Como consequência, o jovem consegue se aceitar e entender que tem valor pelo que ele é, defeitos inclusos. Por isso fica mais fácil ser gentil consigo mesmo diante do sofrimento”. 

Quando o adolescente se apoia diante da dificuldade, ele se sente mais confiante e corajoso para lidar com os desafios e superá-los. É por isso que as pesquisas mostram que jovens autocompassivos lidam melhor com o estresse, se automutilam menos, têm melhor performance acadêmica, e melhores relacionamentos. “Pelo contrário, quando o jovem se ataca pelos seus erros, ele conclui que é inadequado e incompetente. Isso rouba a coragem e autoconfiança necessários para superar obstáculos. A forma que os pais vêem os próprios erros serve como exemplo para o adolescente. Mais do que isso, o relacionamento que os pais têm consigo influencia a capacidade de ajudar seus filhos a lidar com as dificuldades naturais da idade. A autocompaixão envolve a capacidade de fornecer suporte emocional a si mesmo, enfrentando desafios e adversidades com maior perspectiva e com a compreensão de que as dificuldades são comuns a todas as pessoas.” 

*Adriana Drulla: Adriana Drulla é Mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA), e pós graduada em Terapia Focada em Compaixão pela Universidade de Derby (Inglaterra). Estudou com Martin Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva e com Paul Gilbert, psicólogo criador da Terapia Focada em Compaixão. Formada em Conscious Parenting por Shefali Tsabary, psicóloga referência em parentalidade, é também especialista em Mindfulness pela Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). Adriana é autora de um estudo que correlaciona autocompaixão de pais e filhos adolescentes em publicação nos Estados Unidos. É autora dos podcasts Crescer Humano, onde fala sobre psicologia, e Mente Compassiva, onde publica meditações para o desenvolvimento da autocompaixão.

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