Papo de Mãe

É preciso ter um olhar atento às mulheres e aos homens que sofrem com a depressão pós-parto

Segundo a Fiocruz, percentual de mães atingidas pelo problema chega a 25%. Já o índice paterno tem estatísticas variáveis, por conta da dificuldade de diagnosticarem-se os casos.

Roberta Manreza Publicado em 03/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 13h57

Imagem É preciso ter um olhar atento às mulheres e aos homens que sofrem com a depressão pós-parto
3 de setembro de 2020


Por Dra.  Mariana Rosario*, ginecologista, obstetra e mastologista

Setembro Amarelo, mês da prevenção ao suicídio. Segundo a Fiocruz, percentual de mães atingidas pelo problema chega a 25%. Já o índice paterno tem estatísticas variáveis, por conta da dificuldade de diagnosticarem-se os casos

Setembro Amarelo é o nome da campanha de prevenção ao suicídio, realizada por meio de uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP e o Conselho Federal de Medicina – CFM. Estima-se que sejam computados mais de 12 mil suicídios no Brasil ao ano – número superior à média mundial.

Uma das principais patologias que leva uma pessoa a cometer o suicídio é a depressão. A doença, multifatorial, pode também atingir mulheres que deram à luz, na conhecida depressão pós-parto. “Trata-se de uma doença que pode iniciar-se na gestação, com sintomas culminando até um ano depois do nascimento do bebê”, diz a Dra. Mariana Rosario, ginecologista e obstetra.

Segundo um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, em cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê (dados disponíveis em: https://portal.fiocruz.br/noticia/depressao-pos-parto-acomete-mais-de-25-das-maes-no-brasil)

Mas, não são apenas as mulheres que sofrem com este mal: os pais também podem passar pela depressão pós-parto, por motivos emocionais variados. As estatísticas sobre o número de homens que tem o problema é muito variável, até porque o diagnóstico da doença é difícil. “Os homens são mais resistentes a procurar um médico e a depressão, no caso deles, dificilmente é ligada ao fato de terem sido pais, mas a fatores paralelos”, diz a Dra. Mariana. Uma pesquisa publicada no The Journal of American Medical Association, em 2010, mostrou que a DPP masculina acomete 10,4% dos pais, sendo seu ápice entre o 3º e o 6º mês do pós-parto, período no qual sua ocorrência sobe para 25% (disponível em: http://institutogerar.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Iaconelli-V-Artigo-DEPRESS%C3%83O-POS-PARTO-MASCULINA.pdf).

Sinais e sintomas

Os sintomas da depressão pós-parto materno são caracterizados como tristeza, apatia, desalento, insônia ou excesso de sono, alterações no apetite, sentimento de culpa, dificuldade de concentração, ansiedade, entre outros quadros tipicamente depressivos. As causas fisiológicas mais comuns do quadro depressivo pós-parto são as alterações hormonais bruscas que ocorrem com a mulher ou casos apenas emocionais. Pode haver ou não a rejeição ao bebê.

O avanço da doença pode criar um quadro chamado de psicose pós-parto, condição mais susceptível em mulheres com distúrbio bipolar. Os sintomas, que começam geralmente durante as três primeiras semanas do puerpério, incluem desconexão com os familiares e o bebê, confusão mental, mudanças de humor drásticas, alucinações e desejo de fazer mal a outras pessoas, a si mesma e ao bebê.

Quando e como tratar a depressão pós-parto

É comum que as mulheres passem pelo Baby Blues, um sentimento melancólico no período pós-parto, que pode durar poucas semanas. Ele é diferente da depressão pós-parto e não precisa de medicação ou tratamento, porque apenas um desequilíbrio hormonal momentâneo, que o próprio organismo feminino conseguirá solucionar.

Porém, se o quadro evoluir para a depressão pós-parto, é necessário que a mulher passe por uma consulta com seu obstetra, que poderá encaminhá-la ao psiquiatra e psicólogo. A ideia é fazer um acompanhamento multidisciplinar, porque ela pode precisar de medicamentos e terapia. “A depressão pós-parto geralmente é ocasionada por problemas que a mulher carrega consigo. Medos gerados na gestação – como o do abandono, violência doméstica, de problemas financeiros, desemprego, entre outros – , dificuldades de relacionamento, quadros depressivos anteriores à gravidez, morte na família, entre outros aspectos, devem ser investigados, para que os profissionais tenham clara a origem do problema”, explica a Dra. Mariana.

O tratamento é o mesmo de uma depressão, envolvendo terapia e medicamentos, se necessário. “O suporte familiar é imprescindível, neste momento, porque a mulher é muito julgada e dificilmente consegue dar conta desses sentimentos, sozinha. Se ela tiver uma boa rede de apoio, certamente será mais fácil enfrentar esse difícil momento”, comenta a médica.

Obstetra pode ajudar no diagnóstico, mesmo antes do parto

Dra. Mariana Rosario comenta que muitas mulheres têm quadros depressivos antes mesmo do parto, ainda que leves, e é importante comentarem com seus obstetras. “Quanto mais aberta for essa relação, mais cedo elas obtêm ajuda e conseguem livrar-se do problema. É importante que conversem com seus médicos sobre medos, dúvidas e tristezas, porque eles podem ajudar no diagnóstico de depressão, mesmo antes do parto, conseguindo até mesmo evitar uma complicação futura”, finaliza a médica.

*Dra. Mariana Rosario

Formada pela Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP), em 2006, a Dra. Mariana Rosario possui os títulos de especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela AMB – Associação Médica Brasileira, e estágio em Mastologia pelo IEO – Instituto Europeu de Oncologia, de Milão, Itália, um dos mais renomados do mundo. É membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e especialista em Longevidade pela ABMAE – Associação Brasileira de Medicina Antienvelhecimento. É médica cadastrada para trabalhar com implantes hormonais pela ELMECO, do professor Elcimar Coutinho, um dos maiores especialistas no assunto.

Possui vasta experiência em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia, tanto em Clínica Médica como em Cirurgia Oncoplástica. Realiza cursos e workshops de Saúde da Mulher, bem como trabalhos voluntários de preparação de gestantes, orientação de adolescentes e prevenção de DST´s. Participou de inúmeros trabalhos ligados à saúde feminina nas mais variadas fases da vida e atua ativamente em programas que visam ao aprimoramento científico. Atualiza-se por meio da participação em cursos, seminários e congressos nacionais e internacionais e produz conteúdo científico para produções acadêmicas. É médica cadastrada para trabalhar com implantes hormonais pela ELMECO, do professor Elcimar Coutinho, um dos maiores especialistas no assunto.

Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.



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