Papo de Mãe

Todo filho é perfeito

Roberta Manreza Publicado em 24/04/2015, às 00h00 - Atualizado em 04/08/2016, às 17h14

Imagem Todo filho é perfeito
24 de abril de 2015


Por Carolina Ambrogini*, obstetra e sexóloga

exame, pé, bebê (Foto: Getty Images)

Há 38 anos, minha mãe, aos oito meses de gravidez, não fazia a menor ideia do sexo do bebê que gestava e muito menos se era portador de alguma malformação. Fico imaginando as angústias e as incertezas que ela carregava e o alívio que foi quando eu nasci, grande e saudável. Um pré-natal inteiro sem nenhum exame de ultrassom, fato inimaginável nos dias de hoje.

Há seis anos, com meu primeiro teste de gravidez nas mãos, eu também fiquei angustiada, ainda mais sendo obstetra. Meu bebê seria perfeito? Sim, queridas leitoras, não vamos negar, muito mais do que saber o sexo do bebê, queremos ter certeza absoluta de que ele ou ela será saudável e que tudo correrá bem, conforme planejamos e sonhamos desde crianças, lá com as nossas bonecas.

Idealizamos nossos filhos e qualquer lampejo de pensamento de que algo errado possa acontecer já nos leva à taquicardia. Hoje em dia, a medicina nos disponibiliza inúmeros exames. Eu soube que esperava uma menina com dez semanas de gestação, por meio de um exame de sangue: a sexagem fetal.

Confesso, não aguentei de curiosidade e logo me vi sonhando com laços e frufrus, mas, antes de cada ultrassom morfológico, perdia a noite de sono. Seria ela perfeita? Pensava nas mil e uma possibilidades de erro e acerto dos exames, totalmente neurótica. Não vivenciei, como grávida, a nova geração de exames que detectam, com 99% de acerto, as principais síndromes com apenas nove semanas de gestação, os NIPT testes, sigla para teste pré-natal não invasivo.

Calma, não penso que precisamos viver uma histeria coletiva em busca de síndromes, porém, acho absolutamente fantástico que a medicina nos proporcione tamanha tecnologia (a um preço caro, por enquanto) em prol das mulheres de alto risco, que são as com idade maior do que 35 anos, histórico de mal formação ou síndrome e as que tiveram aborto de repetição.

Hoje, depois de outra gravidez na bagagem e de cuidar de muitas grávidas, posso dizer: todo filho é perfeito, mesmo com todos os seus defeitos, com a trabalheira que dá. E se não vier tão perfeito assim, como no script que sonhamos? Aí vem uma reflexão: vale a pena sabermos de tudo antes? A detecção de um problema vai mudar alguma coisa no nosso sentimento?

Na minha opinião, não muda, até intensifica, além de trazer um amadurecimento, um preparo, uma aceitação. Gera uma pesquisa, uma busca por informações, uma rede de apoio, uma conversa com outras mães que têm filho em situação semelhante. Fácil não é nem nunca será. Mas que garantia as mães de filhos “normais” têm de que eles serão saudáveis para sempre?

A única certeza que a maternidade nos traz é que teremos eternamente nossos corações nas mãos, não importa o diagnóstico que nossos filhos recebam. A questão é aprender a conviver com essas angústias e incertezas da vida, fazendo o nosso melhor em prol da felicidade dos nossos pequenos. Isso, sim, está em nossas mãos.

Este texto foi publicado na edição 247 (junho, 2014), na Revista Crescer

*Dra. Carolina Ambrogini é obstetra, sexóloga e mãe de 2 filhos. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo e é colaboradora do Portal Papo de Mãe. 



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