Papo de Mãe

Nossa família nômade e o autismo

Roberta Manreza Publicado em 16/10/2015, às 00h00 - Atualizado às 17h37

Imagem Nossa família nômade e o autismo
16 de outubro de 2015


* Por Andréa Werner, jornalista e redatora do blog Lagarta Vira Pupa

Cá estou eu, diretamente de Arandelle (também conhecida como Suécia), escrevendo meu primeiro texto para o Papo de Mãe.  Foi com muito prazer que recebi o convite e gostaria de começar me apresentando pra vocês.

Meu nome é Andréa, sou jornalista e mineira de Belo Horizonte. Fui para São Paulo recém formada, pois havia passado em um programa de trainees de uma grande multinacional. E, lá, construí uma carreira, casei, e tive meu filho Theo, que hoje está com 7 anos.

Theo era um bebê lindo, risonho, esperto, adorava Pocoyo e cantava vários pedacinhos de músicas do Cocoricó. À medida em que o primeiro aninho se aproximava, ele foi començando a ficar mais sério, parecia que não ouvia quando era chamado, e desenvolveu uma estranha obsessão por rodinhas. Eu e meu marido estranhávamos, mas não tínhamos muito parâmetro pra nada e a pediatra sempre dizia que estava tudo normal. Eu costumava pensar que era uma questão de “personalidade difícil”.

Aos dois aninhos, após o primeiro mês na escola, recebemos um relatório bem preocupante das professoras e resolvemos procurar um neuropediatra. A palavra que caiu como uma bomba sobre nossas cabeças foi “autismo”.

A partir daí, meu garotinho ficou com a agenda mais cheia que a minha, imerso em protocolos e terapias. E eu, uma mãe que ainda vivenciava o processo de luto pela perda do filho idealizado, ao mesmo tempo precisava correr atrás de informação, entender se aquelas terapias faziam sentido, perceber se as melhoras estavam mesmo vindo conforme esperado. Não demorei muito a perceber que minha carreira no mundo corporativo estava em conflito com o mundo no qual eu havia acabado de ingressar. E optei por deixar o trabalho de lado, apertar o orçamento doméstico e acompanhar a jornada diária do meu filho pelos desafios e superações do autismo.

O blog veio logo em seguida, como uma tentativa de ocupar a mente de uma pessoa que estava acostumada a uma rotina puxada de trabalho semanal. Entre desabafos e vivências relatadas, conheci muitas outras mães, aprendi mais com elas do que com qualquer médico ou terapeuta, e fui ajustando a rota do meu garotinho.

Há dois anos, a surpresa: uma proposta repentina para que meu marido mudasse de empresa e assumisse uma posição em Londres. Após o choque inicial e o “não” quase instantâneo e defensivo, colocamos a mão na consciência, analisamos prós e contras, pesquisamos muito e muito na internet, e descobrimos que aquilo poderia ser, sim, uma experiência muito boa para nós e, principalmente, para o Theo. Afinal, o suporte – na escola e fora dela – em Londres para crianças autistas era incomparável com o que tínhamos. E lá fomos nós, de mala e cuia, para a terra da rainha! Foi lá que aumentamos a família: Lola, uma Golden Retriever adorável, amada e “figura”, veio ser a irmãzinha do Theo!

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Foto: arquivo pessoal

Eu costumo dizer que nossa vida em família é na base da emoção. Pois, menos de um ano após nos mudarmos pra Londres, já viemos pra Estocolmo. Onde o papai vai, eu, Theozão e Lola vamos também, claro! Da terra da rainha para a terra dos vikings, da língua estranha, das águas infindáveis e dos alces.

Pensando bem, acabamos seguindo, sem querer, as instruções do médico que diagnosticou o Theo: “a melhor família para uma criança autista é uma família de hippies, em que tudo muda o tempo todo e não há rotina”. Alguma rotina é importante para uma criança autista, sim. Mas tirá-la da rotina e da zona de conforto é que vai fazer com que ela cresça e se desenvolva. E temos visto isso acontecer com o Theo: já entende mais sueco que eu (apesar de ainda não falar), aprendeu a organizar as letras e fazer seu nome, e também já consegue organizar os números em sequência de 1 a 10.

Parece pouco para uma criança de 7 anos? Pra mim, é como uma medalha olímpica. Coisas que a gente aprende quando tem uma criança com deficiência: comemorar cada vitória, por menor que pareça. Ver graça naquilo que os outros acham banal e corriqueiro. Celebrar a vida nos pequenos detalhes. E sigo aprendendo com meu pequeno mestre muito mais do que ele aprende comigo.

Aqui na Suécia, em Londres, ou na nossa próxima parada (que ainda não sei qual será), o negócio é seguir catando limões e fazendo limonada, admirando os arco-íris depois das chuvas, procurando beleza em meio ao caos. Porque ela está lá! Basta saber procurar!

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Foto: arquivo pessoal

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* Andréa Werner é mãe, jornalista e redatora do blog Lagarta Vira Pupa

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