Therezinha Topa Todas
11 de setembro de 2016Por Luis Cosme Pinto*, jornalista, autor do Livro de Crônicas Ponte Aérea.
– Qual o irmão do seu irmão que não é seu irmão?
– hum…dá uma pista.
-Que pista, bota a cachola para funcionar, garoto.
Ela adorava as adivinhações. Trunfos para dias de chuva, às vezes de escuridão, numa época em que os blecautes eram tão comuns. Era preciso acalmar os três peraltas naquele sala e dois quartos, de pouco mais de 60 metros quadrados.
Com amor e humor, minha mãe sabia encantar os 3 filhos. Se um de nós estava doente e por isso não podia brincar na rua, ela cobria a cama com almofadas e travesseiros, depois jogava um cobertor e transformava aquilo numa cordilheira, alisava com as mãos outra parte da manta e surgiam vales, colinas. Aí espalhava pelo terreno acidentado soldadinhos de chumbo e cavalos. Ao lado, carroças com mantimentos e armas. Do outro lado, no alto das montanhas, índios prontos para a batalha sangrenta! A preparação nos consumia de um jeito que o desfecho do combate pouco importava.
Minha mãe sabia brincar. Gostava de brincar.
Jogava futebol de botão, sinuca, totó, pingue pongue, dominó, cartas, dama, varetas…
Batalha Naval, Banco Imobiliário, Mico Preto, ela também sabia e como sabia.
Era afiada na Forca, no Pontinho, no Jogo da Velha
Therezinha nunca desanimou com filho que não estudava, tomava a lição de todos. Repetia, repetia. Incansável. Como numa brincadeira.
Os afluentes da margem direita do Amazonas. Purus, Juruá…
A tabuada.
A raiz quadrada.
Sinônimos, antônimos e coletivos.
Você, leitor desprevenido, sabe o coletivo de borboletas?
Minha mãe sabia.
Tinha uma didática só dela, que nos fazia decorar os tais “Conhecimentos Gerais”, os conteúdos de hoje.
Antes das provas de Geografia tínhamos que dizer as capitais, do Rio Grande ao Amapá, do Acre ao outro Rio Grande. Por exemplo, se você esquecia a capital dos gaúchos vinha uma dica, “quem não está triste, está,,,” Se a dúvida fosse no Pará, lá vinha ela, “qual o som dos sinos?” Em Roraima, “quem usa óculos é porque não tem?”
Que adolescente ou criança não adora receber os amigos em casa? Minha mãe gostava mais do que a gente. E eles amavam a anfitriã. Dependendo da compra do dia no supermercado Mar e Terra, de Vila Isabel, tinha misto quente com Nescau, cachorro quente com Grapette, pastel de queijo com Ki Suco. Não importava se era trabalho em grupo, tira teima no War, ou reprise do Campeonato Carioca. O cardápio estava garantido.
Uma noite, depois da novela, quando achou que dormíamos, ela foi pra janela com os olhos molhados. Mirava longe, lá depois da Aldeia Campista, sem nada ver. Chorou de soluçar. A gente teve medo, até rezou, mas no dia seguinte, ela e meu pai estavam novamente falando dos vizinhos, da mensalidade escolar, do gosto da carne assada.
Neste Setembro fariam 62 anos de casados. Meu pai se foi e ela esqueceu. Dele, da gente, da família, de tudo. Logo ela.
A gente vai amar e lembrar por toda a vida da Therezinha, a mamãe sabe tudo.
Em tempo, lá na adivinhação do início, se você tiver mais de um irmão, como eu, a resposta é você mesmo!
Borboletas voando em grupo formam um panapaná.
E nas capitais, não custa anotar.
Quem não está triste, está alegre, de Porto Alegre. O som dos sinos, Belém. Quem usa óculos é porque não tem Boa Vista.
*Luis Cosme Pinto, jornalista, autor do Livro de Crônicas Ponte Aérea.
Sou caçula de 3, minha mãe, a Therezinha de Miranda Pinto, tem 86 anos. Ela está com alzheimer por isso digo que ela esqueceu tudo, foi tudo mesmo. Sou pai da Luisa, 23, e da Lorena, 21.
Tags: colunistas, Luis Cosme Pinto
Que texto mais lindo. E que homenagem a sua mãe. Fiquei encantada. Você é muito feliz por ter tido uma mãe como está. Que Deus abençoe sua mãe neste estágio de vida..
Olá Celeste, fico felliz com sua resposta e estímulo, um abraço.
Me emocionei! Teresina perdeu a memória, mas não perdeu sua história e nem sua importância na vida de seus filhos..
Oi Mariangela, espero contar outras histórias. Obrigado pelo carinho
Me emocionei!Teresinha perdeu a memória… mas permaneceu sua história e a importância dela para os filhos..
Que lindo texto! Me emocionou! Vcs foram filhos felizes, tenho certeza!
Fomos, sim. Agradeço sua resposta e interesse. um abraço
Adorei o texto! Vcs foram crianças felizes… Tenho certeza!
Luis, parabéns pelo texto. Emocionante. Eu tenho a minha Terezinha, a caçula de 16 filhos, da terra de Padim Cicero. Ela está com 90 anos, com suas dores e dificuldades, mas com memória melhor que os três filhos juntos. Meu pai faleceu a mais de 30 anos e ela luta com todo amor para saber, cuidar e amar os filhos e netos.
Olá Humberto, que história bonita! Muitos anos de vida para a sua mãe e muitas alegrias para toda a família. Seu comentário é um estímulo para o Papo de Mãe, tenha a certeza. Abraço
Meu marido Tbem esqueceu tudo.E o que me encantou nele foi sua inteligecia,Bom humor
Eu entendo sua depcacao.
Mas presta bem atencao Na Terezinha,Eles Tem momentos de lucidez.Poucos Mas Tem.
Ele foi embora a um mes e pouco.
Mas q saudade do olhar dele para mim.,de ficar de mãos dadas,mesmo em silêncio.
(Decepcao)
Maria a gente torce para que você fique bem e guarde sempre as melhores do seu amor de tantos anos. Obrigado por dividir sua história com a gente. Um abraço
Bela crônica, Luis. Apesar de a Theresinha ter “esquecido” de vocês, ainda bem que vocês não esqueceram dela. Ela marcou de forma profunda as relações entre vocês, não dependeu de buscar a alegria instantânea com brinquedos e mais brinquedos. E nem de delegar a outras pessoas outras atividades.
Theresinha já viveu um jeito bonito. Agora vive de um outro jeito, só pra receber amor.
Vanira, muito legal o seu olhar sobre este estágio da doença e o estado da paciente. Obrigado pela participação e comentário, que são muito importantes para nós.
Parabéns pelo belíssimo texto.
Chorei muito! Emocionante!
Minha doce Jeannette se foi para outra dimensão a 2a e 6m.
Saudades eternas!
Parabéns pelo belíssimo texto.
Me emocionei muito!
Minha doce Jeannette foi para outra dimensão a 2a e6m.
Muitas saudades de minha “Therezinha”!
Linda história. Neste mundo louco de Hj é muito bom ver q a vida real tem amor, dedicação, momentos felizes e tristes. Abs
Fico feliz com seu comentário, Grace.
Que a sua “Therezinha” descanse em paz, um abraço e obrigado
Olá Luis, obrigado pela participação e incentivo.
Toda a equipe do papo de Mãe fica feliz com essa troca de mensagens.
Um abraço
Muito bom ver que nesses dias de tanta loucura a vida continua com muito amor, carinho, dedicação, momentos felizes e tristes. Abs
Lindo
Cosme , li sua bela história e me vi nela …
Minha mãe está com 89 anos.
Ela era professora do famoso Instituto Educação e sabe como é , para fugir de uma professora na sala de aula era fácil , mas para fugir da professora dentro de casa era quase impossível.
Estudar para prova do La Fayette eu ainda dava um nó nela , mas o dever de casa sem chance , ela marcava durinho . Que saudades desse tempo . Hoje tenho que lembra-la várias vezes de algumas coisas , até ela dizer que lembrou , mas nem tenho certeza se lembrou mesmo.
Meu pai se foi quando eu ainda era muito jovem , 19 anos …. Ela nunca mais se casou e viveu para me ajudar na vida com seus conselhos e orientações, as quais infelizmente não posso contar mais, apesar dela ainda estar aqui conosco nesse mundo muito corrido e cheio de indecisões .
Ela está com a mesma doença que a sua mãe.
Mas enfim , é a vida , que Deus abençoe a sua família e te dê sempre lucidez para caminhar com seu sucesso baseado nas grandes coisas que dona Terezinha de Miranda Pinto deixou para um garoto que se tornou esse homem ,pai de família , honesto e trabalhador .
Parabéns Luiz Cosme de Miranda Pinto.
Quie história bacana, Antonio.
Obrigado por dividir com a gente e enriquecer o Papo de Mãe.
Escreva sempre, abraço
Wow! Muito bonito mesmo! Me lembrou minha mãe tb! 🙂
Valeu Daniela, um prazer ter você conosco
Que bacana!!!! Legado rico que Therezinha deixa!!! Às vezes me pego pensando, pelo que seria eu lembrado!! Que marca deixaria eu nos meus filhos e amigos !!! Como é bom poder lembrar com carinho e saudades. Não creio que a vida termina com o nosso corpo nesta vida, acredito que só passamos por aqui e no cumprimento de nossa missão partimos. Therezinha está aqui, porém um pouco ausente, mas cumpriu com sua missão com muito amor carinho, e dê certo muito humor!!!
Grande abraço coisa pequena!!!
Um grande abraço para você, é um prazer ter o seu comentário aqui em nosso site.
Linda história, emocionante! !!!!
Um abraço e obrigado
Lindo texto, parabéns ao autor!
Escreva sempre, Henrique. Muito bom ter a sua participação.
Todos temos a nossa Therezinha.
Sua Therezinha, eu tive o carinho de conhecer, assim como seu Pai também.
La em casa eu a chamava carinhosamente de Dirce.
Nossas famílias certamente têm suas historias gravadas no coração de cada um.
A minha Dirce também foi acometida de alzheimer, nos deixando órfãos de suas pitorescas passagens até que nos deixou em julho de 2014. Mas entendi porque o maior órfão foi meu Pai. Fariam 65 anos, ou mais, nem eu e lembro ao certo de tantos anos …., sei apenas que se foi, em agosto seguinte, conversando comigo ….
Em 40 dias, aproximadamente, minhas referências se foram, mas cabia a mim continuar o que aprendi com meus Pais. Foi a hora de colocar em prática tudo me ensinaram.
Parece estranho e é mesmo porque Eles sempre participaram ativamente em minha vida. Tiveram voz ativa até nos deixar.
Seu texto, meu amigo, retrata o que significa uma família de verdade.
Como gostaria de ter o poder de voltar a “fita”, um pouquinho, e reviver momentos fundamentais, talvez quem sabe, para aproveitar muito mais do convívio, daquelas palavras que ouvíamos, cá para nos, com certa impaciência as vezes.
Ah ! Saudades!
Lendo seu texto, parece que tudo aconteceu ontem. Parece que vamos acordar e sentir que tudo não passou de um sonho … mas ….
Quando acordamos, vem aquele sentimento que …. vamos em frente pois nossos filhos também esperam nossas histórias …..
A vida é assim. É uma renovação.
Penso que ao renovarmos, somamos aos ensinamentos de nossos Pais os nossos próprios que, em última análise, devem formar um circulo virtuoso.
Parabéns meu amigo.
Escreva sempre e nos traga boas lembranças.
Faz bem ao coração !
Caro Rafael, todos temos nossas histórias e quando elas se encontram é sempre uma emoção. Fico feliz de ter despertado em você as boas lembranças da vida em família. Continue com a gente. Grande abraço e muito obrigado
Amigo Cosme,
Lindas as suas palavras e a demonstração do amor recebido, que frutificou no seu coração.
Também passo por um processo similar de senilidade de minha mãe, que muito me dói e entristece. Mas, infelizmente, temos de seguir em frente plantando nos corações de nossos filhos a mesma semente de amor que um dia recebemos. Parabéns pelo seu texto!!
Abraço forte e força na sua luta!!
valeu, ter você aqui como leitor é um prazer para todos nós. Um abraço para você e sua família, tudo de bom!
Prezado e querido amigo Luiz Cosme, ou apenas Cosme para os que com você estudaram no Lá Fayette.
É com inenarrável satisfação que parabenizo-o pelo texto. Impossível não nos lembrarmos dos tempos de infância/adolescência. Aproveito para externar minha sincera admiração pelo profissional competentíssimo que você se tornou. O texto é, ao mesmo tempo singelo, sucinto e terno. Parabéns meu amigo. Que possamos em breve relembrar outras histórias daquele maravilhoso tempo se colégio. Fraterno abraço.
OI Luiz, meu xará! Um abraço também para você e obrigado pelas palavras generosas. Muito bom ter o seu incentivo.
Lindo texto! A vida é mais bonita pelas suas palavras, emocionado!
Obrigado e tudo de bom
Lindo texto!
Cosme,
Que bom q guarda as melhores lembranças de sua mãe. Parabéns por isso e pelo texto.
Beth Pinto
Muito obrigado, seu comentário é um estímulo para futuros textos.
Therezinha, Pequena GRANDE Mãe, mais do que merecida em sua Homenagem, esse belo texto que retrata a Super Mãe que sempre foi!
Parabéns Cosme, Bela Homenagem!
Valeu Marvio, sua mensagem é muito bem recebida, por mim, e por toda a equipe do Papo de Mãe, contamos com você. Abraço
Cosminho, não podia esperar outra coisa de você. Nada mais justo que homenagear uma pessoa tão especial como Dona Therezinha, na qual tive o privilégio de também poder conviver. Um forte abraço do seu amigo Diniz
Cosminho, não podia esperar outra coisa de você. Nada mais justo que homenagear uma pessoa tão especial como Dona Therezinha, na qual tive o privilégio de também poder conviver.
Um forte abraço do seu amigo Diniz
Para você também, obrigado pelo carinho e atenção.
Muito bom .👏👏👏👏👏
Linda homenagem para uma história de vida muito rica e bonita, desde a infância, juventude e fase adulta. Dona Therezinha e Seu Edgar deram um exemplo de vida 👏
Valeu e muito sua participação. Um abraço para você e família.
Tudo de bom e obrigado pelas palavras de estímulo. Grande abraço
Luis Cosme, linda história contada de maneira simples, envolvente e encantadora. Não consegui identificar o que é mais encantador, a história cativante ou o carinho delicado da dona THEREZINHA. Saber que quando chegamos ao mundo o primeiro anjo que nos recebe é nossa mãe, a dona Therezinha poderia dar aulas para os Anjos Mães com sua maneira de ajudar, de confortar e de abraçar os filhos e a Vida !! Obrigado e parabéns por compartilhar a doçura do anjo guerreiro dona Therezinha. Muita Luz, Paz e boas energias para família Pinto. Winarto
Winarto, obrigado pelas palavras. Críticas, sugestões e comentários são sempre bem vindos e nos ajudam a aprimorar o trabalho.
Querido amigo!!
Terezinha gente boa! Parece que foi ontem, que lindo essa sua maneira de homenageala com carinho, com sua memória!!!
Parece que foi ontem!! Ainda consigo escutar ao longe o ” vamos brincar de dormir”””
Ou a chuvas repentinas dos copos e panelas de água vindo da janela do primeiro andar.
Tempo bom pequeno grande amigo!!!
Saudades!!!
Beijo do cô!!!