Diabulimia: uma combinação que pode ser fatal. Conheça a história da jovem que morreu vítima deste transtorno que associa diabetes e bulimia

Roberta Manreza Publicado em 14/09/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h05

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14 de setembro de 2016


Clarissa Meyer

Lisa Day foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 14 anos. Para controlar a doença, ela precisava de injeções diárias de insulina e controle alimentar. Acontece que, além do diabetes, Lisa sofria de um outro distúrbio, a diabulimia, um transtorno alimentar onde o paciente diabético associa a bulimia (ingestão descontrolada de alimentos em um curto espaço de tempo, seguida de métodos compensatórios como vômitos, uso habitual de laxativos e pratica excessiva de atividade física) à diminuição ou supressão das doses de insulina com o intuito de provocar emagrecimento.

Lisa com a mãe, Doreen.

“Com o tempo, ela se deu conta de que podia aumentar o açúcar em seu sangue, não tomar insulina, comer o que queria e perder peso de todo o jeito. Ela não estava se entupindo de sobremesas ou refrigerantes, mas quando se tratava de comer, comia literalmente o que queria”, contou Katie Edwards, a irmã mais velha de Lisa, em entrevista à BBC. “Ela desenvolveu um problema estomacal e, quando comia, seu estômago não processava o alimento. Tinha dores terríveis e foi internada algumas vezes entre janeiro e abril do ano passado. Os médicos disseram que isso foi causado pelo uso incorreto da insulina, e isso a deprimiu”.

De acordo com a irmã Katie, as bochechas rosadas de Lisa eram um sinal de que ela não estava tomando a insulina.

Foram longos anos de muito sofrimento que culminaram na morte prematura de Lisa, no ano passado, aos 27 anos. Recentemente, os pais descobriram um diário, onde Lisa registrava trechos da sua luta contra a doença. A família resolveu torná-lo público como forma de chamar atenção para o problema. 

O diário foi uma recomendação dos médicos para que Lisa controlasse sua alimentação

“Odeio ser diabética. Não posso comer quando quero porque não quero ganhar mais peso”.
Um dia sem uniforme na escola. Sinto-me tão GORDA. Todo mundo estava bem hoje, menos eu. Vomitei minha comida hoje. Preciso fazer rapidamente meu dever para a aula de artes“.

“Hoje jantei ovos, bacon e salsichas e depois provoquei o vômito”

Tenho feito exercícios para o estômago e o bumbum, indo à academia todos os dias. Não posso fazer mais, ou vou morrer de esgotamento, mas de repente seria bom, porque estou tão gorda”. 
Estou muito contente e me sinto muito bem. Não como chocolate faz 4 dias e 6kg. Mike me enviou uma mensagem nesta noite e tudo está bem. Preciso aprender a não ficar vermelha (de vergonha). Estou pesando 55,8 kg.

 “Me sinto tão gorda. Me odeio. Amanhã começo a trabalhar em um petshop. Há uma discoteca no FC amanhã. Vou com Holly“.
Tive uma ‘hipo’ (hipoglicemia) terrível na hora do almoço. Estava sentada com Mike e sua namorada. Não acho que ele ache que eu estou em boa forma”.

“Vou ficar sem insulina pela manhã (digo, eu tenho o bastante até esta noite), então eu tenho tenho que tomar 1/2 da quantidade que eu normalmente tomo”

“Sinto que vou conseguir usar meu vestido vermelho outra vez e perder de seis a nove quilos até setembro”.

Melhor é queimar (as calorias do) meu jantar fazendo polichinelos. Por favor,  me deixem morrer”

Lisa morreu em setembro de 2015

Entenda a diabulimia

A diabulimia é um transtorno alimentar em que o paciente diabético, além de apresentar todas as características da bulimia, reduz as doses ou deixa de tomar a insulina (hormônio necessário para controlar os níveis de açúcar no sangue) com a finalidade de perder peso. Com a elevação dos níveis de açúcar no sangue, ocorre um aumento da excreção urinária e uma consequente perda de peso, acompanhada de sintomas como dores de cabeça, visão turva e enjoos. A longo prazo, esse descontrole pode refletir em retinopatias, problemas renais graves, cegueira, impotência e outras sequelas. O paciente pode entrar em estado de cetoacidose diabética, condição que pode levá-lo à morte.

Para a endocrinologista, Dra Cláudia Pieper,  autora do livro Diabulimia – uma combinação perigosa, a natureza crônica do diabetes poderia predispor ao desenvolvimento de distúrbios alimentares, especialmente na adolescência. Dados revelam que adolescentes e jovens adultas com diabetes tipo 1 têm aproximadamente 2 vezes e meia mais chances de desenvolver um transtorno alimentar em relação às não diabéticas.A correlação entre transtornos alimentares e diabetes está provavelmente relacionada à insatisfação com a imagem corporal e a um desejo de perder o peso eventualmente adquirido com o uso de insulina.

De acordo com um trabalho recente publicado no International Journal of Eating Disorders, a prevalência da omissão intencional da dose de insulina para perder peso poderia aumentar com a idade. Em adolescentes e adultas jovens com 16 a 22 anos, este percentual seria de 34%, enquanto que em mulheres na faixa etária entre 18 a 30 anos, este número poderia alcançar  40%.

Organizações como a britânica DWED (Diabéticos com Transtornos Alimentares) estão fazendo campanha para que a diabulimia seja reconhecida oficialmente como um transtorno alimentar e psicológico. “Ninguém sabe o quanto esse problema é grave nem como diagnosticá-lo”, diz a professora Khalida Ismail, que lidera a maior clínica de diabetes e distúrbios mentais britânica, na Universidade King´s College.

Fique atento aos sinais e procure ajuda caso perceba que seu filho ou filha apresenta os seguintes comportamentos

Com informações da BBC e Diabetes.org.brFotos: Divulgação BBC.

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