Papo de Mãe
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A adolescência e a vaidade

A pedagoga Larissa Fonseca fala sobre a vaidade saudável e necessária para o desenvolvimento dos jovens, e dos exageros que os pais precisam ficar atentos e impor limites

Larissa Fonseca* Publicado em 09/06/2021, às 16h11

Ser vaidoso é algo positivo quando está relacionado ao cuidado e bem-estar
Ser vaidoso é algo positivo quando está relacionado ao cuidado e bem-estar

É importante ressaltar que a vaidade é algo útil e saudável, no entanto, há um limite entre o cuidado consigo mesmo (necessário) e a excessiva preocupação com a aparência.

Na adolescência, o corpo e a mente sofrem inúmeras mudanças. É nessa etapa da vida que começamos a nos preocupar mais com o que pensam de nós e a nos interessar pelas outras pessoas. Para o adolescente, o corpo e a aparência representam um bem precioso e acreditam que é a partir dele que vão expor aquilo que são e possuem para serem aceitos admirados, desejados, etc.

A vaidade na criança e nos adolescentes está chegando mais cedo do que antigamente.

Sem dúvida, hoje em dia, há uma atenção maior e preocupação com a vaidade mais precoce e até mesmo uma sexualidade mais precoce do que antigamente. As referências e influências de mídia, e principalmente sociais, são o que mais se destacam dentre as razões por essa precocidade.

É importante ressaltar que a vaidade é algo útil e saudável, no entanto, há um limite entre o cuidado consigo mesmo (necessário) e a excessiva preocupação com a aparência.

O perigo está no exagero!

Para entender melhor e diferenciar as situações em que a vaidade está aparecendo mais como um estímulo a sexualidade do que propriamente um exercício útil ao desenvolvimento, é importante atentar-se para algumas questões: cuidar-se, atentar-se para a higiene, preocupar-se com a saúde, buscar opções mais saudáveis de vida, tudo isso faz parte da vaidade e é positivo. O problema aparece quando esse cuidado e atenção que são construtivos, dão lugar a um culto à beleza e aparência que, não só limitam as vivências dos adolescentes como também impedem que eles realizem atividades fundamentais para o seu desenvolvimento físico e motor saudáveis. Se a ou o adolescente para de realizar as atividades da rotina porque está preocupada(o) em sujar ou amassar a roupa, se ela(e) deixa de sair e se divertir para ficar se arrumando e cultuando sua aparência, se no dia a dia, suas conversas e assuntos giram em torno de sua aparência ou aparência dos outros ao invés de interessar-se por assuntos diversos principalmente os do universo adolescente, se ela(e) para de se relacionar e trata com desprezo e desrespeito aquele que julga fora de seu padrão de aceitação, se sua alimentação passa a ser mais restrita, excluindo determinados alimentos comuns, demonstrando demasiada preocupação com sua alimentação e as conseqüências da mesma para a sua aparência (pele, cabelo, peso, celulite, etc), está na hora de prestar atenção e intervir!

A família e os responsáveis devem apresentar limites a interferências estéticas (como maquiagem e tintura de cabelos) de acordo com a idade e maturidade dos filhos. As mães e os pais são os parceiros mais experientes e possuem mais conhecimentos para estabelecer o limite levando em consideração a saúde física e emocional dos filhos.

Pais e mães são os responsáveis pela integridade dos filhos e devem ter firmeza (com amor e respeito) para instruí-los, guiá-los e educá-los em todas as áreas. Também devem ficar atentos para não exagerar reprimindo as manifestações de feminilidade, masculinidade e das personalidades em geral, fazendo com que a/o adolescente sinta-se culpada(o) por cultivar qualquer hábito ligado à vaidade. Lembre-se de que cultivar a saúde é positivo e deve ser incentivado!

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Observe atentamente e diariamente o comportamento de seus filhos, sempre dialogando, intervindo quando julgar relevante e mostrando quais são as coisas mais importantes que devem valorizar, como a saúde ao invés da beleza física e a aceitação de como são.

É normal ficar descontente com alguma parte do corpo ou querer ter algo diferente. Já dizia o mais famoso psicanalista da história Sigmund Freud: “O ser humano é um eterno insatisfeito”. Essa insatisfação é característica de todas as fases da vida do ser humano. É preciso ter uma base e saber lidar com aquilo que se tem de melhor e satisfatório, com aquilo que se considera desafiador. Ninguém é perfeito até porque não existe perfeição. Valorizar mais que se tem saúde, que é capaz, que possui todas as funções motoras, inteligência, bons valores, etc, mais do que se o cabelo é liso ou enrolado, se é mais baixo ou mais alto, enfim.

E como perceber o limite entre a normalidade e o exagero nessa insatisfação, para que os adolescentes não desenvolvam transtornos psicológicos e alimentares?

Sempre que a insatisfação for limitadora, ou seja, quando a/o adolescente deixa de viver, participar de situações, se concentra excessivamente naquela característica, passa a ficar triste e até deprimido, então passa-se do limite da insatisfação normal e vale á pena oferecer mais atenção para que isso não se agrave e se torne um transtorno.

Uma outra dica importante aos pais que têm filhos com transtorno de alimentação é que eles ensinem aos filhos que o ato de comer não engorda. Comer faz bem e até emagrece. Hábitos alimentares destrutivos é o que determina o ganho negativo de peso. Em família, deve-se relacionar a comida com algo positivo. Não comer algo porque engorda é diferente de não querer comer algo porque não faz bem a saúde. Comer não engorda, o que se come é que pode engordar ou emagrecer ou manter o peso. Come-se pela saúde e não pelo peso e calorias.

A autoestima se forma desde criança. Quando a criança cresce em um ambiente que valoriza mais a saúde, é maior a possibilidade dela sentir-se segura com sua personalidade e características físicas, sem abalar-se com opiniões de terceiros que são irrelevantes em sua vida. Incentivar os filhos a conviverem com diferentes turmas e grupos de amigos é também algo que amplia as possibilidades do adolescente viver bem consigo mesmo.

 E que conselhos podem ser dados a adolescentes que estão em outro extremo, que não parecem não ter nenhuma vaidade?

Ser vaidoso é algo positivo quando está relacionado ao cuidado e bem-estar. A vaidade deve ser direcionada para o autocuidado e isso significa mostrar que o importante é manter sua higiene e cuidados com sua saúde física, mental e bem-estar e não as roupas que vai usar. Afinal, de nada adianta usar roupas de marcas famosas, maquiagens e cremes caríssimos ou comprar os sapatos da moda, se não se toma banho, não cuida da higiene bucal, assiduidade das unhas, limpeza dos cabelos, cuidados com os órgãos vitais e saúde do corpo.

O Brasil é um dos maiores mercados mundiais de cosméticos infantis, segundo a Anvisa e o sucesso do mercado dá-se ao fato do grande consumo e o grande consumo é conseqüência da valorização aplicada. Muitos pais gostam de ver seus filhos imitando-os, acham graça das filhas quererem usar saltos, maquiagens, perfume como os da mãe ou do pai, enfim. Mas deve existir um limite entre usar os vestidos e saltos do adulto em uma brincadeira e só sair de casa, até mesmo para brincar usando sapatinho de salto! A criança deve brincar de ser adulto e não viver como se fosse um!

Os responsáveis também devem estar atentos a inspiração em ídolos e famosos pois isso só é saudável até o ponto em que essas inspirações representem atitudes positivas para os filhos.

Mais uma vez, mães e pais são responsáveis pela integridade dos filhos. Seja o exemplo que você gostaria que eles seguissem. Oriente, dialogue e eduque com amor e repeito, para que seus filhos e filham aprendam a fazer suas próprias escolhas saudáveis e construtivas.

*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil.

Especialização em Parental Coaching pelo Professional Course Educational Corp. de Orlando/FL/EUA, no Universo do Brincar pelo centro de Estudos Filosóficos Palas Athena, em Psicanálise e Educação pelo Instituto de Psicologia da USP, em Comportamento e Desenvolvimento Infantil e em Principais Psicopatologias da Infância e Adolescência.

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