Papo de Mãe
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Consequência da culpa materna na vida dos filhos

A psicóloga Kênia Braga fala como a culpa materna acaba afetando as crianças de variadas formas e dá dicas para lidar com esse sentimento

Kênia Braga* Publicado em 30/06/2021, às 15h28

O sentimento de culpa e a saúde metal de mães e filhos
O sentimento de culpa e a saúde metal de mães e filhos

A busca pela maternidade perfeita, as crenças sociais a respeito das mães, pressionam as mulheres e promovem a culpa, exaustão, medo, raiva, entre outros sentimentos negativos como a defectividade, a inferioridade, incapacidade e impotência. Essa sensação de confusão e ineficácia afeta o bem-estar físico, a saúde mental da mãe e compromete a modelação do filho, contribuindo para uma relação de espelho e impossibilitando que seus filhos cresçam seguros e satisfeitos.

Na verdade a culpa materna acaba afetando as crianças de variadas formas, um exemplo disso é quando as mães passam a ser permissivas demais e ambivalentes com relação a limites quando se sentem culpadas. Estudos baseados na teoria de autodeterminação sugerem que o ser humano possui três necessidades psicológicas básicas: de sentir-se competente, ter relacionamentos saudáveis e senso de autonomia; quando os pais não possuem conexões saudáveis, eles são mais propensos a serem vulneráveis referente as experiências de separação. Muitas mães tendem a manipular as emoções da criança para que se sinta dependente de amor e atenção e com isso seus filhos tendem a permanecer mais presentes.

Alguns estudos mostraram que quando as mães se sentem erráticas e falhas em suas funções maternas, elas adotam mais frequentemente estratégias coercitivas, que funcionam a curto prazo, como a punição, a chantagem, autoritarismo... e quando as mães se auto compreendem, e satisfazem suas necessidades psicológicas básicas, elas conquistam mais recursos, energia para serem menos controladoras, impacientes e mais conscientes das necessidades emocionais de seus filhos.

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Um estudo em psicologia, mostrou que mulheres mais auto compassivas, que não possuem falsas culpas excessivas, têm menos medo de errar e acabam transmitindo essa auto compaixão aos filhos, promovendo uma maior saúde mental a ambos. Mães auto compassivas possuem um repertório maior para seguirem em frente,  sentem menos medo de errar e testam novos caminhos sem culpa.

Os adolescentes precisam aprender o auto amor incondicional para entenderem que não precisam se comparar com ninguém ou atingir nenhuma expectativa para saberem que têm valor. Os adolescentes estão deprimindo cada vez mais devido ao aumento da comparação social acerca do desenvolvimento das crianças. A sensação de ter que atingir expectativas altíssimas para se sentir bom o suficiente é um dos fatores que contribui para o aumento da depressão nesta faixa etária. Jovens auto compassivos se enxergam para além dos seus defeitos porque sabem que todos somos imperfeitos. Eles lidam melhor com o estresse, deprimem menos, vão melhor na escola, se comparam menos, e sabem que têm valor pelo que são... mães auto compassivas têm filhos mais auto compassivos e estas crianças se sentem mais conectadas às suas mães.

Ensinar pelo exemplo, o que acontece quando somos gentis com as nossas imperfeições e nos tratamos com cuidado é que nos tornamos mais saudáveis emocionalmente, menos reativas, conseguimos nos conectar com a criança de uma forma mais profunda. Ao abrir mão da expectativa de nos tornarmos perfeitas, conseguimos aceitar que nossos filhos também têm defeitos. A criança que se sente aceita por quem ela é, que não acha que precisa mudar para receber amor, desenvolve um autoconceito mais positivo e maior auto compaixão.

Uma pesquisa feita na Holanda com 900 pares de mães, pais e filhos, que mediu vários comportamentos parentais importantes como a qualidade da escuta, compaixão pelos filhos, a consciência dos pais sobre as emoções dos filhos e como os pais julgavam a própria atuação nos seus papéis de pais, mostrou que destes aspectos, a aceitação dos pais e das mães sobre a própria atuação enquanto pais, foi o fator mais fortemente associado a menores níveis de depressão e ansiedade nos filhos. Quer dizer, aceitar nossas imperfeições com naturalidade e abrir mão das expectativas irrealistas, é importante para a resiliência emocional dos nossos filhos.

Algumas estratégias para lidar com a culpa materna

  • Converse com as suas emoções e decida se você fez alguma coisa que realmente deveria se arrepender e além disso, separe as coisas as quais você pode controlar das quais você não possui controle;
  • Aprenda a priorizar a atenção com os filhos;
  • Cultive um ambiente seguro e motivador no qual o seu filho possa se desenvolver é algo fundamental, mas aprenda a priorizar é se perguntar de que forma seu filho será prejudicado se você não atuar  naquele momento ( é uma maneira de validar as crenças falsas de que você não poderá deixar para depois a sua assistência para com ele;
  • Não compare você ou seu filho com os filhos dos outros ou com seus irmãos);
  • Aprenda a respeitar suas história de vida, e a subjetividade de seu filho, aceite as inabilidades de vocês e procure valorizar o esforço e não o resultado final (o mais importante no desenvolvimento da autoestima é o amor incondicional, diferentemente da valorização por atributos e habilidades que só tem efeito na autoconfiança), é preciso uma profundidade de autovalor e entendimento de si mesma e do outro para contra condicionar as crenças do senso comum de invalidar-se mediante a grama do vizinho ser mais verde;
  • Observe os sinais das suas emoções e pause antes de reagir (perceba as emoções negativas ao invés de reagir a elas automaticamente, respire e responda com mais autocontrole. As mães estão sempre culpadas por reagir confrontando o filho num momento que foram provocadas ou perderam a capacidade de gerenciar suas emoções ao lidar com a birra, ou algum mau comportamento do filho);
  • Compreenda a natureza da culpa e a aceite, sentir culpa é um sinal de que você se preocupa e se importa em cuidar da melhor maneira de seu filho, então observe que este sentimento possa ser flexibilizado e compreendido como um desejo de cuidado, e seja gentil com sua mente;
  • Aceite e peça ajuda. Conseguir pedir ajuda é essencial, mas não  exija que seu ajudante proceda da mesma forma como você, o que importa é a tarefa feita com esforço e interesse em ajudar. O pai precisará adquirir habilidades de cuidar da mesma forma que você. O mais importante é  é ter uma rede de apoio, pessoas com as quais poderá contar;
  • Planeje um tempo de qualidade com seu filho e seja próxima afetivamente...Compensar com bens materiais é algo comum e não resolve a frustração da criança de não ter o tempo com qualidade na presença dos pais. Gratificar a criança com presentes ou dinheiro é algo que não deva ser ensinado para a próxima geração. Separe algumas horas no seu dia e desenvolva uma rotina que aproxime vocês, descobrindo algo que gostem de fazer juntos com consistência, tenha diálogos que permita trocas mais profundas e maior conectivas, compreenda natureza dos pensamentos e sentimentos de seus filhos sem julgamento prévio;
  • Resgate a sua essência e pratique o autocuidado, valorizando um tempo com você mesma, e pratique atividades que lhe despertam prazer, assim como é importante manter um eixo social, conversas com colegas de trabalho ou amigas e preservar tudo que considerar fundamental para você, segundo suas crenças e valores. Entre em com o que gostava de fazer, mesmo antes dos filhos e resgate o que é importante, considerando  suas vontades, desejos e emoções; se anular é algo que consome toda a energia de uma mãe.

*Kênia Braga é empresária e psicóloga pós-graduada em psicologia cognitivo comportamental.  Fundadora e diretora da Vivapleno, empresa de Saúde Mental e Desenvolvimento Humano Integrado - Psicologia Clínica e Organizacional.

Instagram: @vivapleno

Assista ao Papo de Mãe sobre maternidade sem culpa. 

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