Papo de Mãe

Doença do refluxo gastroesofágico – DRGE – o que é?

Roberta Manreza Publicado em 14/07/2016, às 00h00 - Atualizado em 04/08/2016, às 23h10

Imagem Doença do refluxo gastroesofágico – DRGE – o que é?
14 de julho de 2016


Federação Brasileira de Gastroenterologia

O QUE É?

A doença do refluxo gastroesofágico ou DRGE ocorre quando o esfíncter inferior do esôfago (EIE) não se fecha apropriadamente e o conteúdo do estômago extravasa de volta para o esôfago. O EIE é um anel de músculo na parte inferior do esôfago que age como uma válvula entre o esôfago e o estômago. O esôfago transporta o alimento da boca para o estômago.

Quando o ácido refluído do estômago toca a parede do esôfago, ele causa uma sensação de queimação no tórax ou garganta denominada pirose (azia). O gosto do líquido pode até ser sentido na parte de trás da boca e é chamado de indigestão ácida. A azia que ocorre mais que duas vezes numa semana pode ser considerada DRGE e ela pode, eventualmente, conduzir a problemas mais sérios de saúde.

Qualquer um, incluindo bebês, crianças e mulheres grávidas, podem ter DRGE.

É um problema comum?

Trata-se de um dos problemas mais comuns relacionados ao aparelho digestivo. Estima-se que cerca de 45% da população ocidental relate a ocorrência de um episódio de refluxo por mês e que 5 a 10% destes indivíduos façam referência diária ao sintoma. O refluxo é mais comum em idosos e em gestantes.

SINTOMAS

Quais os sintomas da DRGE?

Os principais sintomas de DRGE são azia persistente e regurgitação de ácido. Algumas pessoas têm DRGE sem azia. Ao invés, elas apresentam dor no tórax, rouquidão pela manhã ou dificuldades para engolir. Você pode sentir como se tivesse comida engasgada na sua garganta ou como você estivesse afogado ou sua garganta apertada. A DRGE também pode causar tosse seca e mau hálito.
Seu médico pode solicitar exames complementares para avaliar seus sintomas, quando não está claro se eles são de fato causados por refluxo ácido; ou se você estiver sofrendo complicações da doença como disfagia, sangramento e engasgos; ou ainda se seus sintomas não estiverem melhorando com o uso da medicação. Muitas vezes também são solicitados exames para se avaliar o grau de agressividade da doença para adequar o tratamento àquilo que é necessário no seu caso.

Esofagograma com bário ou Seriografia Esôfago-Estômago-Duodeno: este é um teste em que você recebe um líquido branco para tomar (o contraste) enquanto são realizadas radiografias para delinear a anatomia do trato digestivo superior.

Endoscopia: o exame compreende a inserção de um tubo flexível com iluminação e uma microcâmara na ponta, o qual é introduzido pela boca em direção ao estômago. Assim pode-se ver diretamente eventuais lesões (por exemplo a inflamação do esôfago decorrente do refluxo – a “esofagite”). O exame, para maior conforto, é feito geralmente sob sedação.

Manometria e pHmetria esofágicas: estes exame envolvem a inserção de um pequeno tubo flexível através do nariz em direção ao esôfago e estômago, com o objetivo de medir as pressões e a função do esôfago. Com o exame, o grau do refluxo de ácido pode ser medido. É indicado em alguns casos, como por exemplo naqueles com má resposta ao tratamento, no caso de manifestações atípicas da DRGE e na avaliação pré-operatória.

CAUSA

Quando consultar um médico devido à DRGE?

Ninguém sabe porque as pessoas têm DRGE. Uma hérnia de hiato pode contribuir. A hérnia de hiato ocorre quando a parte alta do estômago está acima do diafragma, a parede muscular que separa o estômago do tórax. O diafragma ajuda o EIE a manter o ácido no estômago, impedindo que suba para o esôfago. Quando uma hérnia de hiato está presente, é mais fácil do ácido subir. Desta maneira, uma hérnia de hiato pode causar refluxo. A hérnia de hiato pode ocorrer em pessoas de qualquer idade; muitas pessoas sadias acima de 50 anos têm uma pequena.

Outros fatores que podem contribuir para a DRGE incluem:
ingestão de bebidas alcoólicas
sobrepeso
gravidez
fumo

Certas comidas também podem estar associadas com eventos de refluxo, como:
Frutas cítricas
Chocolate
Bebidas com cafeína
Frituras e comidas gordurosas
Alho e cebola
Essências de menta
Alimentos apimentados
Comidas baseadas em tomate, como molho de espaguete, pimenta e pizza


IR AO MÉDICO

Quando consultar um médico devido à DRGE?

Quando os sintomas do refluxo não são controlados com as medidas comportamentais e os remédios para alívio de sintomas são necessários é importante que se procure seu gastroenterologista.

DRGE em Crianças

Os estudos* mostram que a DRGE é comum e pode ser ignorada em infantes e crianças. Ele pode causar vômitos repetidos, tosse e outros problemas respiratórios. O sistema digestivo imaturo das crianças são usualmente os culpados, e a maioria dos infantes livram-se da DRGE quando completam um ano de idade. Ainda, você deve falar para o médico do seu filho se o problema ocorre regularmente e causa desconforto. Seu médico pode recomendar estratégias simples para evitar o refluxo, como fazer a criança arrotar várias vezes durante a alimentação ou mantendo o infante na posição elevada por 30 minutos após comer. Se a sua criança é mais velha, o médico pode recomendar evitar:

Bebidas gasosas que contém cafeína
Chocolate e hortelã
Comidas apimentadas como a pizza
Alimentos ácidos como laranjas e tomates
Frituras e alimentos gordurosos
Evitar se alimentar 2 a 3 horas antes de se deitar também pode ajudar. O médico pode recomendar que a criança durma com a cabeceira da cama elevada. Se estas alterações não funcionarem o doutor pode prescrever medicamentos para a sua criança. Em casos raros, a criança pode necessitar de cirurgia.

*Jung AD. Gastroesophageal reflux in infants and children. American Family Physician. 2001;64(11):1853-1860. 

TRATAMENTO

Quais são os tratamentos para DRGE?

Se você vem tendo azia ou qualquer um dos outros sintomas por alguns momentos, você deveria procurar seu médico. Visite um gastroenterologista, o médico que trata doenças do estômago e dos intestinos. Dependendo da gravidade da sua DRGE, o tratamento compreende uma ou mais das seguintes alterações do estilo de vida, medicamentos ou cirurgia.
Alterações do estilo de vida:

Se você fuma, pare
Não tome bebida alcoólica
Emagreça, se necessário
Faça refeições pequenas
Vista roupas bem folgadas
Evite deitar-se até 3 horas após uma refeição
Eleve a cabeceira da cama cerca de 15 a 20 centímetros, colocando blocos de Madeira debaixo dos pés da cama. O uso de travesseiros extras não ajudará.

Medicamentos

Seu médico pode recomendar o uso de antiácidos quando necessário, que você pode comprar sem uma receita, ou medicamentos que interrompem a produção de ácido ou ajudam os músculos que esvaziam seu estômago.

Antiácidos são geralmente a primeiras drogas recomendadas para aliviar a azia e outros sintomas leves da DRGE. Muitas marcas no mercado usam combinações diferentes de três sais básicos – com íons de hidróxido ou bicarbonato para neutralizar o ácido no seu estômago. Os antiácidos, entretanto, tem efeitos colaterais. Os sais de magnésio podem ocasionar diarréia e os sais de alumínio constipação. Os sais de magnésio e alumínio são freqüentemente combinados num único produto para balancear estes efeitos. Os antiácidos de carbonato de cálcio podem ser uma fonte suplementar de cálcio. Eles também podem causar constipação intestinal.

Bloqueadores-H2, tais como a cimetidina (Tagamet), famotidina (famoset, famox), nizatidina (Axid) e ranitidine (Antak), impedem a produção de ácido. Estas drogas dão um alívio temporário. Não devem ser ingeridas sem receita médica por mais que umas poucas semanas de tempo. Elas são eficeintes em metade daquelas que têm sintomas de DRGE. Muitas pessoas se beneficiam ao tomar bloqueadores-H2 ao se deitar em associação com um inibidor da bomba de prótons.

Inibidores da bomba de prótons incluem o omeprazol (Losec), pantoprazol (Pantozol), lansoprazol (Prazol), rabeprazol (Pariet) e esomeprazol (Nexium), os quais são disponíveis mediante receita médica. Os inibidores da bomba de prótons são mais eficientes que os bloqueadores H2 e podem, aliviar os sintomas em quase todos que têm DRGE.

Um outro grupo de drogas, os procinéticos, ajuda a fortalecer o esfíncter e faz o estômago esvaziar mais fácil. Este grupo inclui o betanecol, metoclopramida (Plasil), bromoprida (Plamet) e domperidona (Motilium). A metoclopramida também melhora a ação muscular no trato digestivo, mas estas drogas tem efeitos colaterais freqüentes que limitam a sua utilização.

Uma vez que as drogas agem por diferentes caminhos, a combinação de drogas pode ajudar a controlar os sintomas. As pessoas que têm azia depois de comer podem tomar antiácidos e bloqueadores-H2. Os antiácidos agem primeiro para neutralizar o ácido no estômago, enquanto que os bloqueadores-H2 agem na produção de ácido. Quando termina a ação dos antiácidos, os bloqueadores-H2 interromperão a produção de ácido. Seu médico é a melhor fonte de informação de como utilizar os medicamentos para DRGE.

O que fazer se os sintomas persistem?

Se a sua azia não melhora com alterações dos hábitos de vida ou medicamentos, você deverá fazer alguns exames, sempre com a orientação de seu gastroenterologista.

Endoscopia digestiva alta é um exame que pode ser realizado em consultórios médicos, clínicas ou hospitais. O médico ou enfermeira borrifará sua garganta para anestesiá-la e passará um tubo fino e flexível chamado endoscópio. Uma pequena câmara no endoscópio permite ao médico observar a superfície do esôfago e procurar por anormalidades. Se você tem sintomas acentuados a moderados e este procedimento mostra lesão do esôfago, nenhum outro exame é necessário, geralmente, para confirmar a DRGE. Nas formas mais leves de inflamação não há necessidade de fazer controle ao final do tratamento, sendo o mesmo reservado somente para as formas mais acentuadas.

O médico pode utilizar pinças através do endoscópio para retirar um pequeno pedaço de tecido de biópsia. A biópsia vista num microscópio pode revelar a lesão causada pelo refluxo de ácido e afastar outros problemas se organismos infectantes ou crescimentos anormais são encontrados.

No exame de pHmetria ambulatorial, o médico coloca um fino tubo no esôfago, onde permanecerá por 24 horas. Enquanto você realiza as suas atividades normais, ele mede quando e quanto de ácido volta para o seu esôfago. O teste é útil em pessoas com sintomas de DRGE mas sem lesão à endoscopia. O procedimento também é útil em detectar se os sintomas respiratórios, incluindo asma e tosse, são desencadeados pelo refluxo.

Cirurgia

A cirurgia é uma opção quando os medicamentos e alterações do estilo de vida não deram resultado. A cirurgia pode ser também uma opção razoável para o desconforto e a necessidade de tomar medicamentos por toda a vida.

Fundoplicatura, geralmente uma variação específica chamada Nissen, é o tratamento cirúrgico padrão para a DRGE. A parte alta do estômago é “engravatada” em torno do EIE para fortalecer o esfíncter e prevenir o refluxo de ácido e para reparar a hérnia de hiato. Nenhuma parte do estômago é cortada e retirada.

Este procedimento pode ser realizado usando um laparoscópio e requer somente pequenas incisões no abdome. Para realizar a fundoplicatura os cirurgiões usam pequenos instrumentos que levam uma pequena câmara. A fundoplicatura laparoscópica tem sido usada de maneira segura e eficiente em pessoas de todas as idades, inclusive bebês. Quando realizada por cirurgiões experientes, o procedimento é tão bom quanto a cirurgia padrão (aberta). E mais, as pessoas podem deixar o hospital em 1 a 3 dias e retornar ao trabalho em 2 a 3 semanas.

Em 2000, foi aprovado nos Estados Unidos dois dispositivos endoscópicos para tratar a azia crônica. Um é chamado sistema Bard EndoCinch que põe uma costura no EIE para criar pequenas pregas que ajudam a fortalecer o músculo. O sistema Stretta usa eletrodos para criar pequenos cortes sobre o EIE. Quando os cortes cicatrizam, o tecido cicatricial ajuda a apertar o músculo. Os efeitos a longo prazo destes dois procedimentos são desconhecidos.
Implante

Recentemente foi aprovado nos Estados Unidos um implante que pode ajudar as pessoas com DRGE que desejam evitar a cirurgia. O Enterix é uma solução que torna-se esponjosa e fortalece o EIE para manter o ácido do estômago e não extravasar para o esôfago. Ele é injetado durante a endoscopia. O implante está aprovado para pessoas que têm DRGE e que requerem e respondem aos inibidores da bomba de prótons. Os efeitos a longo prazo do implante são desconhecidos.


COMPLICAÇÕES

Quais são as complicações a longo prazo da DRGE?

Algumas vezes a DRGE pode causar complicações sérias. A inflamação do esôfago pelo ácido do estômago causa sangramento ou úlceras. E mais, as cicatrizes da lesão tecidual podem estreitar o esôfago e tornar a deglutição difícil. Algumas pessoas desenvolvem esôfago de Barrett, onde as células da parede do esôfago tomam uma forma e cor anormal, o qual com o tempo podem levar ao câncer.

Também, estudos mostram que a asma, tosse crônica e fibrose pulmonar podem ser agravados ou mesmo causados pela DRGE.

Ultimamente foi demonstrado que a DRGE pode se apresentar de forma atípica e ser a causa inaparente de problemas como tosse persistente, rouquidão e asma, por exemplo.
Este material foi desenvolvido pela National Digestive Diseases Information Clearinghouse (EUA), revisado e adaptado pela CCSFBG , sob autorização. No caso de dúvidas, favor entrar em contato conosco.


PESQUISAS

Esperança na Pesquisa

Ninguém sabe porque algumas pessoas que têm azia desenvolvem DRGE. Vários fatores podem estar envolvidos e as pesquisas estão em andamento sobre muitos níveis. Os fatores de risco – o que faz algumas pessoas terem DRGE mas não outras – estão sem do exploradas, assim como o papel da DRGE em outras condições como a asma e a bronquite.

O papel da hérnia de hiato na DRGE continua a ser debatido e explorado. É um assunto complexo porque algumas pessoas têm hérnia de hiato sem ter refluxo, enquanto outras têm refluxo sem ter hérnia de hiato.

Muita pesquisa ainda é necessária sobre o papel da bactéria Helicobacter pylori. Nossa habilidade em eliminar o H. pylori tem sido responsável pelas baixas taxas de doença ulcerosa péptica e alguns cânceres do estômago. Ao mesmo tempo, a DRGE, esôfago de Barrett e os cânceres do esôfago têm aumentado. Os pesquisadores questionam se ser portador do H. pylori auxilia na prevenção da DRGE e outras doenças. O tratamento futuro será grandemente afetado pelos resultados destas pesquisas.
Este material foi desenvolvido pela National Digestive Diseases Information Clearinghouse (EUA), revisado e adaptado pela CCSFBG , sob autorização. No caso de dúvidas, favor entrar em contato conosco.

*Informações do National Digestive Diseases Information Clearinghouse (EUA), revisado e adaptado pela CCSFBG , sob autorização.

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