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É preciso falar sobre fake news com as crianças

Devemos estar atentos a todas as informações que chegam até nossos filhos e filhas e ensiná-los a identificar desde cedo aquilo que é uma fake news, assim como os danos disso

Marcelo Duarte* Publicado em 22/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h11

Se as crianças não começarem a ser treinadas agora, que tipo de cidadãos estaremos formando para liderar o mundo no futuro?
Se as crianças não começarem a ser treinadas agora, que tipo de cidadãos estaremos formando para liderar o mundo no futuro?

“Papai, olha só a notícia que eu recebi!”. Antonio, o caçula, então com 11 anos, estava ansioso pela minha chegada em casa para contar as novidades. Na tela do computador, a notícia estampava a manchete: “Cheirar o pum do parceiro prolonga vida e evita doenças”. Mostrou aquilo como um orgulho, como se tivesse se tornado com seus flatos um benfeitor do lar.  “Isso não pode ser verdade, filho!”, joguei um balde de água fria. Ele bateu o pé, dizendo que era verdade. A notícia trazia o nome do cientista e a universidade em que a pesquisa tinha sido feita. Lá fomos nós procurar a tal pesquisa. O que encontramos foi algo bem diferente. O tal cientista existia, sim, mas estava trabalhando com uma substância fedorenta, que, segundo informação da assessoria de imprensa da universidade, tinha cheiro igual ao do pum. Ou seja: não tinha nada a ver com o que dizia o título da reportagem, escrito por alguém que só queria conseguir cliques e compartilhamentos.

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Naquela noite, eu percebi como as crianças estavam vulneráveis na era da informação e da desinformação. Passaram a ser alvos também das notícias falsas. De fato, meses depois começaríamos a ouvir histórias assustadoras, como o do jogo suicida da baleia azul ou da boneca Momo. Se as crianças não começarem a ser treinadas agora, que tipo de cidadãos estaremos formando para liderar o mundo no futuro? Decidi parar o livro que estava escrevendo para criar uma história que alertasse as crianças sobre os riscos das fake news. Nasceu assim o livro “Esquadrão Curioso – Caçadores de Fake News” (Panda Books), lançado em outubro de 2018.  Na trama, Isabella, Pudim, Leo e Débora enfrentam uma “Organização Mentirosa” criada por Fake Nilson. A aventura logo chamou a atenção de professores e eu me vi visitando várias escolas ao longo de  2019. Foram conversas incríveis com as crianças. Falamos de pensamento crítico e dos impactos que as notícias falsas causam nas nossas vidas.

Esquadrão Curioso: caçadores de fake news. Livro de Marcelo Duarte pela Panda Books
Esquadrão Curioso: caçadores de fake news. Livro de Marcelo Duarte pela Panda Books

Nesse mesmo ano, tive a oportunidade de conhecer a educadora americana Esther Wojcicki em sua escola, em Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos. Ela é uma das maiores referências de educação midiática no mundo, autora de “Moonshots na Educação – Ensino Híbrido e Aprendizagem Colaborativa na Sala de Aula”. Ela ensina como aproximar as crianças do jornalismo pode ser a solução. E está cada vez mais claro que não temos muito tempo a perder. Uma fake news tem 70% mais chance de ser compartilhada do que uma informação verdadeira, segundo o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT). Apenas em 2019, o Brasil teve cerca de 9 bilhões de cliques em notícias falsas. Tem mais: o Instituto Ipsos, que faz pesquisa de mercado, mostrou que somos o número 1 entre os povos que mais caem em fake news.

Caçadores de fake news

Diante desses números assustadores, senti que eu poderia fazer mais. O “Esquadrão Curioso” precisava ir mais longe e atingir mais alunos. Crianças têm a força até de levar essa formação para dentro de casa e influenciar positivamente pais, avós, tios. Acredito nisso. Então, no meio da pandemia, escrevi cinco episódios de um podcast chamado “Caçadores de Fake News”, que podem ser baixados gratuitamente nas principais plataformas de áudio. Os quatro personagens são interpretados por atores profissionais. Eles interagem com 11 jornalistas e formadores de opinião de verdade, como Patrícia Campos de Melo, Gilmar Lopes, Januária Cristina Alves, Cristina Tardáglia, Edgar Matsuki, Filipe Vilicic, Rodrigo Ratier, entre outros. A própria Esther topou fazer parte da história, que teve também a participação de outros três jornalistas estrangeiros (sim, fake news é um problema mundial!).  O resultado do podcast ficou instrutivo e, ao mesmo tempo, divertido e emocionante.

Para se “alistar” nesse time de caçadores de fake news, o projeto “Esquadrão Curioso” ganhou um site, com sugestões pedagógicas, e um jogo de cartas para ser usado em sala de aula ou com a família já está no prelo. Que tal começar a pesquisar notícias suspeitas junto com seus filhos? Crianças curiosas podem nos ajudar a ter um mundo bem melhor.

Saiba mais

O podcast “Caçadores de Fake News” está disponível gratuitamente nas seguintes plataformas: Apple Podcast, Breaker, Castbox, Deezer, Google Podcasts, Overcast, Pocket Casts, Radio Public, Soundcloud e Spotify.

O site do projeto é o www.cacadoresdefakenews.com.br
O site  de Marcelo Duarte é o www.guiadoscuriosos.com.br
Marcelo Duarte

*Marcelo Duarte é jornalista e escritor

Confira o debate do Papo de Mãe sobre o documentário "O Dilema das Redes":


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