Papo de Mãe
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O que será que estamos comendo?

Já parou para ler a descrição de um produto alimentar e teve dificuldade? Te convido a aprender a decifrar os rótulos, para saber o que estamos comendo

Ariela Doctors* Publicado em 12/11/2021, às 12h23

Cocada de forno
Cocada de forno

Minha história pessoal sempre esteve ligada ao alimento e à cozinha.
Aprendi a cozinhar porque sou fruto de duas famílias onde a maioria das pessoas cozinham e gostam de comer. O assunto ficou sério, formei-me Chef de Cozinha e tive um restaurante por 17 anos.


No começo, minha curiosidade era aprender as diferentes técnicas culinárias e brincar com as infinitas possibilidades, combinações de sabores e texturas. Porém, ao me tornar mãe, minha relação com o alimento começou a se aprofundar. Estava interessada em conhecer mais sobre os ingredientes, sua procedência, seu valor nutricional e como a alimentação impactaria a vida dos meus pequenos.

Me debrucei sobre o assunto, mergulhei em diferentes vertentes e ensinamentos e fui atravessada por diferentes reflexões.
 Hoje vejo nitidamente que o alimento é um caminho importante para uma série de transformações individuais e coletivas.
Descobri que a formação do gosto inicia na barriga de nossas mães e percebi a importância da alimentação na primeira infância, tanto para saúde dos meus filhos, quanto para formação de hábitos que eles levariam para vida toda.

Assista ao Papo de Mãe sobre alergia e intoxicação alimentar

Para além das quantidades e qualidades de nutrientes que um alimento tem, das possíveis combinações para uma rotina saudável, um bem estar corporal e espiritual, precisamos entender como a indústria alimentar vem transformando nossa alimentação. Ao irmos às compras, nos deparamos cada vez mais com uma profusão de produtos diferentes em embalagens incríveis onde estão gravadas promessas de mais sabor, nutrição, saudabilidade, etc.

É preciso ler e entender os rótulos dos produtos alimentícios   

A ciência da nutrição vem estudando progressivamente os efeitos dos alimentos no nosso corpo. Já sabemos por exemplo que, quando isolados, os nutrientes não têm as mesmas propriedades do que quando presentes num alimento in natura, onde eles estão “combinados naturalmente” com outros. Portanto, quando lemos que um produto é acrescido de cálcio ou vitamina A, não necessariamente ele agirá de forma benéfica em nossos organismos.

Os rótulos dos alimentos são importantes aliados para quem quer se alimentar melhor. Ele traz informações preciosas sobre a composição dos produtos que não podemos deixar passar.

Para que você possa praticar melhores escolhas, aqui vão algumas dicas e ferramentas importantes

Depois de verificada a data de validade do produto (nunca compre se estiver fora do prazo!), a primeira coisa a fazer é ler atentamente a lista de ingredientes na embalagem do produto. Eles aparecerão sempre por ordem decrescente em relação às quantidades. Ou seja, o primeiro ingrediente que aparece na lista é o que está presente em maior quantidade dentro do produto. Portanto, é importante evitar aqueles que contêm açúcar ou gordura entre os primeiros ingredientes.

Já os aditivos alimentares aparecem no fim da lista de ingredientes, independente das quantidades. Segundo a ANVISA, a definição de aditivos alimentares é: “Todo e qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos sem o propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento”.

Portanto, se aparecerem nomes complicados, às vezes até difíceis de ler, como propionatos e sorbatos, antiumectantes, edulcorantes, etc...corra! Estes são alimentos ultraprocessados, que passaram por maior processamento industrial. Geralmente eles possuem alta adição de açúcares, gorduras, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente, conservantes.

Praticamente sem nutrientes na sua composição, o alimento ultraprocessado propicia o consumo excessivo de calorias e tem efeitos negativos sobre nossa saúde, se consumidos por muito tempo. Entre esses efeitos estão a obesidade, a alta pressão arterial e a diabetes, devido ao consumo excessivo de gordura, sódio e açúcares; problemas nos ossos, como a osteoporose, devido ao uso de corantes; e problemas na flora intestinal, principalmente pela presença de organismos modificados em laboratório.

É importante sermos críticos em relação à adição de vitaminas, fibras e minerais nos alimentos. Sem dúvida, são nutrientes importantes para uma alimentação saudável. Porém, um alimento que contenha vitaminas adicionadas, mas, simultaneamente, muitas calorias e gorduras, não é dos mais saudáveis e pode ser prejudicial a nossa saúde.

Também é bom estarmos atentos aos tipos de gordura dentro de um produto alimentar. Existem três tipos de gordura: a total, a saturada e a trans. A total, como o próprio nome diz, refere-se à soma de todos os tipos de gorduras presentes no alimento. As saturadas merecem atenção, pois em excesso aumentam o risco de doenças do coração. Mas, a que devemos evitar ao máximo é a trans. Além do nosso corpo não precisar deste tipo de gordura para nenhuma função, ela traz prejuízos para o nosso organismo. Esse tipo de gordura é comum em alimentos ultraprocessados como margarina, biscoitos, sorvete e salgadinhos.

O pior é que a legislação permite que seja declarado como zero teor se houver até 0,2 g de gorduratrans por porção do alimento. Então, para descobrir se um alimento não contém de fato a gordura trans, é preciso ler a lista de ingredientes e verificar se existe adição de gordura vegetal hidrogenada, gordura vegetal parcialmente hidrogenada ou o óleo vegetal hidrogenado, pois isso significa que tem. Complicado não?

Além de tudo isso, temos de estar atentos à publicidade, principalmente em produtos direcionados aos nossos filhos e filhas. Os produtos destinados ao público infantil usam personagens, promoções, jogos e brindes colecionáveis para atrair a molecada, aumentando o risco para o desenvolvimento de doenças relacionadas ao consumo de alimentos ultraprocessados que, no Brasil, é crescente nestes últimos anos e começa em idades cada vez menores.

No entanto, não só de más notícias sobrevivem os rótulos. Se você quer valorizar a produção local, colaborando com a sustentabilidade do planeta, uma dica importante é verificar a origem do produto. Que tal fomentar o comércio local dos pequenos produtores e as cadeias mais curtas de abastecimento?

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Aprender a ler os rótulos e a consumir com consciência e passar esses conceitos para as crianças faz toda a diferença na transformação que nosso planeta precisa!
Aqui vai mais uma receita fácil e gostosa para fazer com as crianças!

Receita Cocada de forno

cocada
Receita de cocada

Ingredientes

● 2 1⁄2 xícaras (chá) de coco fresco ralado (1 coco - cerca de 200 g)

● 3 ovos (de preferência de galinhas soltas!)


● 2 xícaras (chá) de açúcar (mascavo, demerara ou refinado)


● 1 colher (sopa) de manteiga derretida

Modo de Preparo

1. Pré aqueça o forno a 180 oC.


2. Unte com manteiga um refratário raso (500 ml)


3. Numa tigela pequena, coloque os ovos. Junte a manteiga e misture com o batedor de arame. Adicione o açúcar, aos poucos, mexendo bem. Acrescente o coco ralado e misture com uma espátula para incorporar

4. Transfira a massa para o refratário e leve ao forno para assar por cerca de 40 minutos, ou até ficar bem dourada. A ideia é a cocada ficar com uma casquinha crocante mas cremosa no meio

5. Retire do forno e deixe esfriar. Pode ser servida em temperatura ambiente ou geladinha! Para comer de colher e lamber os beiços ;)

Fontes:

https://idec.org.br

Você pode acessar outras receitas no site Comida e Cultura e conhecer mais do nosso trabalho no @projetocomidaecultura e no canal de youtube Comida e Cultura.

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Ariela Doctors

*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe

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