Papo de Mãe
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Sim, é importante ter o dia da mulher

Enquanto houver violência contra a mulher, o dia da mulher é necessário

Mariana Kotscho* Publicado em 08/03/2018, às 00h00 - Atualizado em 15/01/2021, às 12h11

Mariana Kotsho é jornalista e apresentadora
Mariana Kotsho é jornalista e apresentadora

Enquanto houver desigualdade e enquanto mulheres ainda sofrerem agressões (sendo até assassinadas) pelo fato de serem mulheres, este dia deverá existir. E não me venha falar em “dia do homem”….

Sei que na internet ninguém quer ler texto longo. Mas eles são necessários. Você sabia que segundo o IBGE mais de um milhão de mulheres são vitimas de violência doméstica por ano no Brasil?

Uma moça que conheci e era casada vivia sendo humilhada pelo marido. Ele dizia que se ela se separasse, ele iria quebrar os dentes dela e voltar para matá-la. Ela se separou. Foi assassinada alguns dias depois, por ele, a facadas, na frente da filha, de 4 anos. Eu pergunto: quando que um homem que “só ameaça” pode virar um assassino de verdade? Acho que a população ainda não acordou para a gravidade dessas situações de violência que se espalham pelo país.

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Outra moça também apanhava e era xingada. Mas ele dizia que se ela se separasse ele ia ficar com os filhos. Ela separou. Ele sequestrou a filha mais velha e sumiu com ela. Mãe e filha só se reencontraram 11 anos depois (aliás, graças ao programa Papo de Mãe que divulgou fotos dela. Assistiram ao programa em Icó, sertão cearense, e entraram em contato com a produção pra dizer que ela morava lá com o pai. O pai, por sinal, era procurado pela polícia porque tinha matado a segunda mulher).

Neste dia Internacional da Mulher é preciso falar sobre as que apanham dos seus companheiros e ainda sofrem caladas. Das que foram assassinadas por namorados, maridos e ex-maridos – eles as calaram e muitos continuam soltos por aí. E tem ainda as que sofrem uma violência velada, do companheiro que xinga, humilha, faz pressão psicológica. Uma violência que não deixa manchas roxas, mas que fere por dentro.

Muitos vão dizer “ah, que mulheres burras, se continuam com esses homens é porque gostam de apanhar”. E eu vou dizer que NÃO. Que há muitos motivos para elas continuarem. Porque elas se tornam reféns da própria vida, porque não tem coragem, porque ainda não se sentem seguras em relação à justiça, porque muitas são ameaçadas como as moças acima. Os homens ameaçam matar, tirar os filhos, deixar na miséria, infernizar para sempre, provar que elas são loucas…. Essas mulheres precisam de ajuda, apoio e proteção para sair desses relacionamentos. E esses homens devem ser punidos. Mas o que garante a proteção e a punição? Aos poucos isso está mudando. A Lei Maria da Penha passa a ser mais conhecida e aplicada com rigor. E há trabalhos primorosos como o do Gevid em São Paulo (Grupo de Enfrentamento à Violência Doméstica do Ministério Público de SP). Mas pelas estatísticas assustadoras, ainda é pouco.

Quem não sabe o que é isso chega a duvidar das vítimas. É preciso falar e denunciar. Chega de homens que se acham donos das mulheres. Posso parecer chata, mas sempre vou tocar neste assunto aqui. Mulheres que sofrem, tomem coragem. Mulheres que sabem, deem apoio.

No Facebook criei, com algumas amigas, o grupo de apoio às vítimas da violência doméstica. Lá há depoimentos assustadores do que acontece diariamente em muitos lares brasileiros. Todas recebem apoio e orientação.

Ligue 180 para denunciar

Participe do grupo violência doméstica – grupo de apoio no Facebook

https://www.facebook.com/groups/1741293742823826/?fref=ts

#embrigademaridoemulhertemquemeteracolher

#naofalecomumagressor

*Mariana Kotscho é mãe, jornalista, apresentadora do Programa Papo de Mãe da Tv Cultura e colunista do Portal Papo de Mãe

Confira a entrevista exclusiva de Maria da Penha ao Papo de Mãe:

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