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Só amor na disciplina positiva

Educação sem castigos, gritos e revolta: o ator e escritor Vinicius Campos conta como a disciplina positiva, com diálogo e amor, mudou a relação com os filhos

Vinicius Campos* Publicado em 20/09/2021, às 09h54

Disciplina positiva: educação com diálogo, sem castigos, sem gritos, sem ódio.
Disciplina positiva: educação com diálogo, sem castigos, sem gritos, sem ódio.

Quando saiu a adoção e meus filhos chegaram, eu estava convencido que o melhor jeito de educá-los era usando regras claras e firmes. Sou um filho do rigor, minha mãe era bastante estrita e claro, como funcionou comigo e meus irmãos, estava convencido que seria o melhor caminho para obter resultados positivos com meus pequenos.

Só uma coisa era diferente. Meus filhos chegaram grandes, então eu tinha a sensação que precisava redobrar esforços para compensar o tempo perdido. Mais regras ainda mais estritas. Mas para não me sentir mal, tentava compensar sendo carinhoso e enchendo eles de beijos. E quando faziam tudo certinho ainda ganhavam prêmios.

Hoje escrevo isso e sinto vergonha.

No começo tudo ia bem. As crianças estavam felizes com a vida nova, querendo fazer tudo certinho, com medo de questionar. E iam aceitando essa maneira de educação. Não estavam felizes, mas calavam e aceitavam. É fácil ser mandão com crianças que não têm ferramentas para se defender. É covarde. Fui covarde. Hoje quando vejo pais abusando do poder com seus filhos, sendo agressivos como se fosse normal, sinto dor de estômago.

Meus filhos se tornaram adolescentes pouco depois de chegar em casa. E não demorou para que a aceitação da criança se tornasse a revolta do adolescente. Quanto mais eu apertava, quanto mais impunha regras, quanto mais era estrito na nossa relação, mais infelizes se tornavam, mais rebeldes, mais reagiam com gritos e as conhecidas batidas de porta. Nossa casa se transformou numa guerra. Voavam pratos, vidros eram destruídos, nossos corações estavam em frangalhos. Eu não conseguia dormir, nem comer. A situação estava chegando ao limite.

Um dia, já sem saber o que fazer, procurei informação sobre educação e parentalidade e encontrei um texto falando sobre disciplina positiva. Uma série de "métodos" ou conhecimentos que ajudam pais a educar seus filhos de outra forma. Com o olhar posto no diálogo, sem castigos, sem gritos, sem ódio.

Todos os vídeos e textos que encontrei falavam de crianças pequenas, mas para mim era possível trabalhar da mesma forma com adolescentes. Eu estava seguro de que ia funcionar? Claro que não. Mas no desespero achei que devía tentar. Falei com o Edu, passei pra ele textos, livros que comprei, vídeos, e propus que acabassem os castigos em casa.

-Ficou louco? - ele me perguntou. Acreditava que sem castigo tudo ia ficar ainda pior. Disse que precisávamos tentar.

Logo de cara, reunimos as crianças e começamos pedindo desculpas pelos nossos erros. Fomos o mais sinceros que podíamos ser. Contamos do método, eles estranharam. Para eles os gritos e castigos eram parte de ser educados e por mais que fosse ruim experimentar essa relação, até eles acreditavam que isso era ser pai.

Depois desse primeiro diálogo, começou a execução do plano. Cada vez que eles faziam algo de errado, conversa, amor e nenhuma consequência. O Edu, meu marido, ainda achava que eles iam abusar, que perderiam o respeito, que nunca entenderiam se não puséssemos consequências a seus atos.

No começo não foi fácil. Nossos filhos ainda estavam configurados para reagir às conversas com raiva e gritos. Não eram capazes de entender que as coisas tinham mudado, desconfiavam que tudo fosse diferente. Quando um dos irmãos fazia alguma coisa "errada" pediam que fossem punidos. E nós dois fazendo um esforço enorme para que esse clima tenso e cheio de raiva não nos contagiasse. 

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Não sei em que momento começou a funcionar, não sei quanto tempo levou para que as coisas fossem diferentes, mas hoje escrevo esse texto porque há meses sinto que vivemos em paz e em alegria com meus filhos. Não foi um passe de mágica, não foi de um dia para o outro, não acabaram todos os problemas de casa, mas mudou o nosso jeito de ver as coisas, de lidar com os problemas, e isso se percebe no olhar tranquilo e feliz dos nossos pequenos que estão cada vez mais enormes.

Aprendi que gritos e castigos não educam, domesticam. E não queremos filhos domesticados, queremos filhos livres e felizes para levar suas vidas adiante com plenitude e paz. Se você ainda não conhece a disciplina positiva, sugiro pesquisar. Tenho certeza que vai se maravilhar com uma nova maneira de acompanhar nossos pequenos, e ver que apesar da educação de nossos pais parecer ter funcionado, ela pode ser repensada, melhorada e trazer melhores resultados com os nossos filhos que nasceram em outra época e trazem com eles outras questões a serem resolvidas.

A resposta é sempre o amor. Disso estou convencido pela experiência própria. Quanto mais dificuldades, mais amor. E confie, uma hora o resultado aparece.

*Vinicius Campos, escritor e pai de 3 adolescentes – Colunista do Papo de Mãe.
instagram: @viniciuscamposoficial

Assista ao Papo de Mãe sobre educação não violenta. 

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