Juiz Rodrigo de Azevedo Costa se manifesta

O juiz Rodrigo de Azevedo Costa, que teve audiências divulgadas pelo Papo de Mãe no UOL nos últimos dias,  divulgou uma nota numa rede social

Mariana Kotscho* Publicado em 23/12/2020, às 00h00 - Atualizado em 15/01/2021, às 12h20

O juiz Rodrigo de Azevedo Costa -

Até agora foram reveladas três audiências da Vara de Família da Nossa Senhora do Ó, zona noroeste de São Paulo, conduzidas pelo juiz Rodrigo de Azevedo Costa. Na primeira delas, o juiz desdenhou da Lei Maria da Penha dizendo que não estava nem aí para a lei nem para medidas protetivas e que “ninguém agride ninguém de graça.

Nas outras duas, divulgadas na última terça, o juiz segue o mesmo padrão de desrespeitar as mulheres presentes. Para uma delas chega a sugerir dar o filho para adoção.

Veja também:

Foi a primeira manifestação do juiz desde que as audiências começaram a ser divulgadas na última quinta-feira.

Leia a íntegra da nota de Rodrigo de Azevedo Costa: 

Nota Pública

Venho esclarecer que a Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo instaurou apuração sobre os fatos relatados recentemente pela imprensa envolvendo a minha conduta em um processo. Em razão disso, não vou me pronunciar antes do término dessa apuração para evitar o risco de qualquer nulidade do procedimento.

Esclareço ainda que a juízes é vedado pela Loman (Lei Orgância da Magistratura Nacional) comentar processos em andamento sob as suas competências.

Entenda o caso

Na noite da última quinta-feira, o Papo de Mãe publicou reportagem revelando a conduta de um juiz numa audiência de Vara de Família em São Paulo.  Sem levar em consideração que um das partes é vítima do ex-companheiro num inquérito que apura violência doméstica, o juiz afirmou que não está nem aí para a Lei Maria da Penha e fez outras afirmações inaceitáveis. Veja abaixo algumas transcrições de momentos retirados da audiência, que durou 3 horas e meia.

Juiz : “Vamos devagar com o andor que o santo é de barro. Se tem lei Maria da Penha contra a mãe(sic) eu não tô nem aí. Uma coisa eu aprendi na vida de juiz: ninguém agride ninguém de graça”. (Advogadas tentam interromper e ele não deixa)

Juiz : “Qualquer coisinha vira lei Maria da Penha. É muito chato também, entende? Depõe muito contra quem…eu já tirei guarda de mãe, e sem o menor constrangimento, que cerceou acesso de pai. Já tirei e posso fazer de novo”.

Juiz : “Ah, mas tem a medida protetiva? Pois é, quando cabeça não pensa, corpo padece. Será que vale a pena ficar levando esse negócio pra frente? Será que vale a pena levar esse negócio de medida protetiva pra frente?

Juiz : “Doutora, eu não sei de medida protetiva, não tô nem aí para medida protetiva e tô com raiva já de quem sabe dela. Eu não tô cuidando de medida protetiva.”

Juiz: “Quem batia não me interessa”

Juiz: “O mãe, a senhora concorda, manhê, a senhora concorda que se a senhora tiver, volto a falar, esquecemos o passado….”

Juiz: “Mãe, se São Pedro se redimiu, talvez o pai possa…..”

F.: “Eu tenho medo”

(vamos lembrar aqui que F. já sofreu violência doméstica e o juiz insiste numa reaproximação dela com o ex)

Juiz: “Ele pode ser um figo podre, mas foi uma escolha sua e você não tem mais 12 anos”

(No trecho acima, ele insinua mais uma vez culpar a vítima pelas agressões sofridas, reafirmando a declaração de que “ninguém apanha de graça”)

Veja a repercussão do caso aqui.

Maria da Penha, em carta, disse estar estarrecida.

“É estarrecedor que numa Vara de Família no contexto de uma audiência sobre processo de alimentos com guarda e visitas aos filhos um Juiz faça declarações tão constrangedoras e vexatórias como essa! Para além do lamentável, a questão nos causa indignação e, ao mesmo tempo, agrava a preocupação que eu já trago desde o momento que eu iniciei a minha militância. Da violência doméstica à violência institucional, após 37 anos do meu caso e dos 14 anos da Lei 11.340/06, observamos que ainda falta sensibilidade jurídica, consciência cidadã e respeito por parte de muitos magistrados no sistema de justiça no Brasil. Destaco que há sim profissionais desse mesmo sistema que são profissionais humanos, coerentes, justos e leais à causa dos direitos humanos das mulheres.”

*Mariana Kotscho é jornalista

Veja a parte 1 de 3 da audiência, que foi divulgada pelo Papo de Mãe:

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