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Adultocentrismo, já ouviu falar? Será que você pratica com o seu filho?

O ator e escritor Vinicius Campos fala sobre adultocentrismo, uma prática social que estabelece o poder aos adultos, deixando jovens e crianças com menos liberdade

Vinicius Campos* Publicado em 01/10/2021, às 08h51

Bebês fantasiados para satisfazer o desejo dos pais
Bebês fantasiados para satisfazer o desejo dos pais

Dia desses vi nas redes sociais de uma revista que fala de parentalidade as fotos dos filhos gêmeos de um famoso. Os bebês estavam dentro de umas fantasias de animal. Uma belezinha. Então me lembrei de todas essas fotos onde bebês são fantasiados, ou colocados dentro de cestas de palha, ou até mesmo de baldes, ou uma variedade enorme de situações engraçadas que enchem os adultos de ternura.

Meu pensamento também foi às apresentações que as escolas montam com crianças pequenas. Dia das mães, dia dos pais, fim de ano, Páscoa. Tem algumas que são coreografias com fantasias caras, a maioria, ou aquelas onde os pequenos desenvolvem atividades mostrando tudo aquilo que aprenderam nos últimos tempos. Aplausos e mais aplausos.

Assista ao Papo de Mãe sobre como lidar com os filhos nas redes sociais. 

Lembrei-me também dos campeonatos de futebol, basquete, vôlei, ou qualquer esporte, onde crianças tão novas correm numa quadra e colocam todo o esforço sob o olhar atento dos pais e familiares, e muitas vezes acompanhados de gritos daqueles familiares mais competitivos, para no final, quem sabe, conquistar uma medalha.

Pensei nos concursos de miss, nos realitys da tv, e até mesmo nos influencers que exibem diariamente os passos do desenvolvimento de seus filhos. Pode ser um dentinho que caiu ou uma crise de choro da criança que servirá de exemplo para que o pai mostre como é compreensivo e está sempre disposto a cuidar de sua cria. 

Será que alguma dessas situações citadas tem como prioridade a criança? 

O bebê está feliz dentro do balde pra sair numa foto? Será que ele se importa com a tal da foto? A criança gosta de fazer aquela coreografia sem sentido na festinha da escola na frente de um monte de gente? Será que se as crianças fossem questionadas entrariam numa quadra para competir contra seus colegas? 

Minha questão é: quando escolhemos coisas para nossos filhos ou alunos, estamos escolhendo para eles e por eles, ou para saciar as nossas expectativas como adultos? Quando educamos, da forma que educamos, estamos tentando entender e atender as necessidades dos pequenos ou seguindo a lógica que nos foi imposta? Meu filho se diverte na festinha da escola, ele está feliz fazendo a coreografia que durante semanas o fizeram praticar, ou é meu desejo de tirar fotos ou mostrar aos avós como o meu pequeno é sensacional?

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Ultimamente tenho pensado muito numa palavra: adultocentrismo.

Sim, o mundo é criado e pensado por nós adultos, mas será que quando estamos definindo coisas importantes aos nossos filhos não deveríamos fazer o exercício de tentar entender o mundo a partir de sua perspectiva?

É injusto que nossos pequenos sejam submetidos a situações para satisfazer os nossos desejos sem que se coloque no panorama aquilo que eles querem ou precisam. 

E isso serve para coisas pequenas, todos os dias tomamos decisões que afetam os nossos pequenos sem nos perguntar se são importantes para eles. 

Façamos o esforço de entender o mundo através de sua perspectiva, é possível que percebamos que muitas das coisas que nos tiram tempo, e inclusive até o sono, são apenas necessidades nossas, dos adultos, e que não têm nenhum impacto positivo na vida dos nossos filhos. E pode ter certeza, a mudança será um ganho de qualidade no dia a dia deles e inclusive, pensando em saciar os nossos desejos, nos trará um alívio enorme.

Estamos todos juntos. Nenhuma solução é individual. Só o pensamento e o acolhimento coletivo vão nos tirar dessa.

*Vinicius Campos, escritor e pai de 3 adolescentes – Colunista do Papo de Mãe.
Instagram: @viniciuscamposoficial

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