Papo de Mãe
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É utopia pensar na ética médica na amamentação?

Riscos à saúde: o pediatra Moises Chencinski crÍtica uma pesquisa de leite em pó feita com recém-nascidos africanos de baixo peso

DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 16/03/2022, às 09h31

"Esse estudo está passando por sério questionamento mundial sobre sua ética e sua validação", Dr. Moises Chencinski
"Esse estudo está passando por sério questionamento mundial sobre sua ética e sua validação", Dr. Moises Chencinski

Quando foi publicado meu artigo sobre o “Lobo em pele de cordeiro” (BLOG da Editora Timo), achei que já tinha me indignado o suficiente. Aí, fui pesquisar algo que me incomodava mais ainda: O “novo” (de 2.019) Código de Ética Médica.

E pra que é que eu fui atrás? Já passei da indignação, mas para ser bem cuidadoso, diria que fiquei “prostituto da minha existência” (foi bom pra você?).

Assista ao Papo de Mãe amamentação.

E como nada acontece por acaso e nada é tão ruim que não possa piorar, recebi um textão (que nem costumo começar, mas com esse título...) do Luiz Felipe Pondé (A má medicina como ela é) e um artigo opinativo do BMJ - British Medical Journal (“When is the best time to teach medical ethics?” ou “Quando é o melhor momento para ensinar ética médica?”).

São 4 materiais que valem a leitura (sim, o meu também vale rsrs), e que poderiam, cada um deles, compor um livro sobre “mais do mesmo”, visto por focos distintos. Vou tentar não me alongar muito e trazer vocês comigo. Ao final, se tiver valido para uma reflexão... tô bem pago.

Sobre o artigo publicado no BLOG da Editora Timo

Simplificando, sendo direto e sem meias-palavras.

Pesquisadores, entre os quais um deles que declara no estudo ter conflito de interesses com a Danone, propuseram uma experiência, que foi considerada ética pelo Conselho de Revisão Institucional da UCSF, pelo Comitê Nacional de Ética em Saúde da Guiné-Bissau, pelo Comitê de Graus Superiores, Pesquisa e Ética da Universidade Makerere e pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia de Uganda.

O “experimento” seria oferecer uma fórmula infantil da Abbot, que declara que só está vendendo o produto e não participa diretamente do estudo, para um grupo de recém-nascidos africanos (Guiné-Bissau e Uganda) de baixo peso, comparando com o grupo que recebe só leite materno, para comparar os ganhos de peso.

No próprio protocolo do estudo, está descrito, como riscos para o grupo de recém-nascidos que receberá fórmula, possibilidades de “diarreia, doenças infecciosas e interrupção do aleitamento materno” e “maior risco de eventos adversos, hospitalização ou morte em relação aos lactentes do grupo AME” e após algumas explicações absurdas conclui que “não se prevê que os riscos para os participantes do estudo infantil sejam diferentes dos riscos comuns da infância.”

Será que, se fosse dada a oportunidade a essas crianças africanas de opinarem sobre o estudo e suas possíveis consequências, elas optariam por um ganho maior de peso, mesmo que isso custasse sua saúde e até suas vidas?

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EMPATIA. Lembra disso?

África é uma realidade distante de nós, não é? Imagine esse estudo aqui, no Brasil. E imagine que seu filho, de baixo peso, estivesse em um grupo que pudesse ser incluído nessa “pesquisa”. Tenta dormir pensando nisso...

Esse “estudo” está passando por sério questionamento mundial sobre sua ética e sua validação, sendo solicitada sua suspensão imediata por vários órgãos e instituições, como a IBFAN.

Acompanhe as partes 2 e 3 dessa matéria. Dividi porque é grande, mas também para que não cause tantas sensações ao mesmo tempo e cada situação possa ser analisada e digerida da melhor forma possível.

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

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