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Papanicolau: o que é, qual importância e quem deve fazer?

A ginecologista e obstetra Ligia Santos explica tudo sobre o exame de Papanicolau

Maria Cunha* Publicado em 01/12/2021, às 10h56

Dra. Ligia Santos, colunista do Papo de Mãe
Dra. Ligia Santos, colunista do Papo de Mãe

O Papanicolau é um exame conhecido, comum de ser feito e também essencial. Apesar disso, muitas pessoas acabam colhendo o Papanicolau como só mais um exame protocolar e nem sabem o porquê ele existe ou confundem sua função, acreditando que o teste é para descobrir alergias, secreções e corrimentos, o que não está correto.

De acordo com a Dra. Ligia Santos, ginecologista e colunista do Papo de Mãe, o Papanicolau, que tem esse nome devido a uma homenagem ao médico que o desenvolveu, é um exame para rastreamento de câncer de colo uterino, ou seja, descobrir precocemente os casos de câncer de colo que podem surgir em mulheres na faixa etária, especificamente, dos 25 aos 65 anos, que são as mulheres na idade reprodutiva.

“O exame de Papanicolau é muito simples de ser feito, é feita a coleta na posição ginecológica e é utilizado um aparelhinho que se chama espéculo vaginal, também chamado popularmente de bico de pato. A gente coloca o espéculo dentro da vagina e abre pra poder enxergar o colo do útero. Isso tem que ser feito, porque a vagina ela é um tubo fechado, uma cavidade virtual, e eu quero justamente enxergar esse colo, ver como é que está lá dentro”, explica a médica.

Assista ao vídeo completo da Dra. Ligia Santos, colunista do Papo de Mãe:

Depois disso, a Dra. Ligia Santos conta que o ginecologista irá pegar uma espátula, para passar na parte de fora, e uma escovinha, que é introduzida no canalzinho do colo do útero pra colher as células dessa região.

“Dependendo do lugar onde você estiver colhendo, pode ser que esse material seja depositado em lâmina ou em citologia líquida. Esse material é levado para laboratório e avaliado. Se ele tiver células neoplásicas, as células de câncer, elas são poucas, em pequena quantidade e, geralmente, as pessoas que são diagnosticadas com alterações nessa fase tem 96% de chance de sobrevida e de cura”.

A colunista completa ao dizer que quando se espera aparecer alguma coisa, ou seja, quando fazemos exame e o médico já vê algum tipo de lesão no colo do útero, a chance de cura cai para 65% ou até menos, dependendo de como está.

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A doença

O câncer de colo de útero é causado pelo vírus do HPV e é desenvolvido como uma má resposta imunológica, ou seja, é uma infecção persistente pelo HPV que faz com que o câncer aconteça. A Dra. Ligia relata que maioria das pessoas que tem contato com o HPV, resolve, não fica doente e não desenvolve lesões. Entretanto, existe uma parcela pequena, mais ou menos 10% das pessoas, em que a infecção não é curada e não melhora, o que pode acontecer com qualquer mulher.

Em razão disso, não há como dizer que um comportamento ou outro possa piorar a chance de ter câncer de colo de útero, porque depende de uma interação entre hospedeiro e o vírus.

“Se eu tenho um vírus muito forte, de alto grau, muito ativo, pode ser que eu desenvolva esse HPV, esse câncer de colo de útero. Da mesma forma que se eu sou uma hospedeira que até encontra esse vírus ativo e forte, mas eu tenho um sistema imunológico muito eficiente, eu posso eliminar e não ter nenhum tipo de sequela, nenhum tipo de problema, em relação ao câncer de colo de útero”, pontua a ginecologista.

A colunista do Papo de Mãe ainda lembra que é possível, enquanto o citologista enxerga lâmina ou análise do meio líquido, que ele veja algum tipo de secreção, mas não há necessidade de fazer o Papanicolau se estiver com um corrimento, por exemplo, é preciso ser examinada, o que é totalmente diferente.

“Algumas pessoas acabam confundindo o fato da gente colocar o espéculo dentro da vagina com coleta de Papanicolau. O espéculo vaginal é usado sempre que for examinar o colo de útero e a vagina, porque não existe uma outra forma de se fazer isso. Já o Papanicolau é quando a gente colhe a secreção e manda pra análise”.

Quem faz o exame

É importante ressaltar que o ideal é que o Papanicolau seja feito a partir dos 25 anos, pois, antes, a chance de uma pessoa ter contato com HPV e resolver o problema sozinha é muito alto.

O Ministério da Saúde recomenda que a partir dos 25 anos seja feita a primeira coleta do Papanicolau e ela vai se repetir no ano seguinte. Eles afirmam que, se você tiver duas ou mais coletas normais, pode ampliar esse intervalo para até três anos. Isso é feito até o 65 anos.

“É claro que cada caso tem que ser individualizado, então pode ser que o seu médico recomende que você faça uma vez por ano, uma vez a cada seis meses, que você faça antes ou depois da idade recomendada”, explica a Dra. Ligia Santos.

Ainda é preciso lembrar que o Papanicolau é necessário de ser coletado, inclusive, para mulheres lésbicas e homens trans.

“O fato de você ter uma vagina, ter colo de útero, significa que você tem que colher o Papanicolau também, da mesma forma como qualquer outra mulher. O HPV não é Vídeo nãoVídeo não é exclusividade deé exclusividade de pênis, ele não é exclusividade de homem, então o fato de eu me relacionar ou não com homens não significa que eu não vou ter contato com o vírus. Isso pode acontecer.”

O HPV está espalhado em toda a população. 99% da população sexualmente ativa tem ou teve contato com o vírus em algum momento.

Se o Papanicolau tiver alteração

Feito o Papanicolau, a médica explica que se ele der algum tipo de alteração, e as alterações podem ser inúmeras, o médico irá conversar com a paciente e orientar a respeito do que é preciso fazer. Pode ser que tenha que fazer uma investigação a mais, chamada de coposcopia, um exame direcionado pra ver aonde é que está essa lesão, porque o Papanicolau é como se fosse o primeiro alerta.

“O citologista olha ele fala: ‘tem alguma coisa errada, mas eu não sei dizer aonde’. A coposcopia já vem pra complementar isso, a gente consegue enxergar, mais ou menos, onde é que está essa lesão e, se precisar, o médico vai fazer uma biópsia que vai poder elucidar melhor qual que é o tratamento que se faz”.

A ginecologista reforça que, se for descoberto algum tipo de câncer nessa fase, fazendo um exame de rotina, sem sentir nada demais, sem sentir uma lesão visível, a chance de você ser curada é praticamente 100%, sem precisar fazer quimioterapia ou radioterapia, basta fazer uma cirurgia simples de retirada dessa parte que está com alteração e fica tudo bem.

“Então, é importante que você procure fazer o exame de Papanicolau, porque ele é incômodo, mas salva muitas vidas. Quando a gente consegue detectar esse câncer, que é a terceira causa de morte entre mulheres no Brasil, a gente salva milhões e milhões de pessoas, tanto que é um exame que existe há muitos anos e não foi mexido até agora, porque ele é muito eficaz. É simples, fácil de fazer, é baratinho e vale a pena”, conclui a Dra. Ligia.

*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe

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