Papo de Mãe
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Que escola queremos para nossas crianças?

Um novo olhar: o escritor e ator Vinicius Campos faz uma convite para pais e mães repensarem as escolas dos filhos

Vinicius Campos* Publicado em 02/07/2021, às 10h33

Precisamos urgentemente repensar nossas escolas
Precisamos urgentemente repensar nossas escolas

A educação brasileira sempre deixou a desejar. Se olhamos os números que mostram o desempenho de nossas crianças comparado ao de outros países, percebemos que estamos longe de ser uma nação que aposta no melhor ensino para seus filhos. Impulsionados por esse pensamento, acreditando que o problema está no sistema público, nós pais, sempre que podemos, fazemos um esforço para pagar as caríssimas mensalidades das escolas particulares.

A oferta é gigante. Escolas com pensamentos progressistas, algumas religiosas, outras com métodos desenvolvidos com o único intuito de que no futuro, nossos jovens, aprovem no vestibular e consigam uma vaga em alguma universidade gratuita, que apesar de serem públicas, só conseguem estudar nelas os filhos da burguesia.

Mas será que escola particular é garantia de uma boa educação?

No começo do ano, uma escola católica de Fortaleza me cancelou de um evento para seus alunos porque não queria que eu contasse às crianças que estou casado com um homem e que temos três filhos. Virou até notícia.

Esses dias uma mãe me contou que na escola de seu filho de quatro anos havia duas atividades extras: ballet e judô, e que as crianças não podiam escolher. Se respeitava a mesma lógica de antigamente, meninos praticam judô e meninas ballet.

Ontem, saiu uma matéria aqui no Papo de Mãe, de uma mãe que ao tentar matricular sua filha com Síndrome de Down numa escola de Cuiabá, foi encorajada pelas cinco escolas que visitou, a levar a garota a uma escola pública. Por telefone as vagas estavam disponíveis, mas ao conhecer a garotinha, sua síndrome e suas necessidades, as vagas desapareceram. 

Há alguns anos levei uma proposta de livro para uma editora e na minha história havia um romance entre dois príncipes. A resposta? “Vini, não podemos publicar isso. Nas escolas, por causa das famílias mais conservadoras, não querem nem livros com bruxa ou vampiro. O conservadorismo está pegando”.

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Que escola queremos para nossas filhas e filhos?

Uma escola que reforça estereótipos de gênero e sociais? Uma escola que forma pessoas capazes de responder perguntas que caem no vestibular, mas sem a capacidade de olhar para o outro?

Escola deveria ser um ambiente de crescimento pessoal, onde os valores básicos de convivência, respeito e amor encontram espaço para ser discutidos e vividos. Escola deveria questionar nossas crianças inclusive quando esses questionamentos põem em xeque nossas convicções de pais, afinal nossas filhas e filhos devem ser independentes e se possível com um olhar de mundo mais amplo que o nosso. Escola deveria ser livre para adotar livros que os façam pensar, escola deveria questionar estruturas, mostrar o mundo e todas as suas variáveis, deveria ampliar o pensamento, fazê-los crescer, ensinar a importância do respeito ao outro. Na escola todo garoto deveria se sentir seguro para experimentar ballet e toda menina de conhecer o judô.

Mas as escolas se tornaram, em muitos casos, empresas que atendem clientes. E os pais, em sua insegurança, pagam para que as instituições mantenham seus filhos dentro de uma bolha de cristal, um microuniverso que seja o mais parecido àquele que a criança já tem em casa.

Nas escolas particulares abundam as salas de aula cheias de crianças brancas, bem vestidas, boazinhas, sentadas em fileiras, cumprindo aquilo que os adultos esperam delas. Salas de aula sem diversidade, sem material que questione, sem um novo olhar, onde meninas e meninos cumprem o papel para eles designados, e se repetem estruturas arcaicas, incapazes de se propiciar a reflexão e a transformação. 

Se esperamos que nossas crianças sejam o futuro da nossa sociedade e que o futuro seja diferente do momento que estamos vivendo, se queremos que a sociedade se torne um lugar mais justo, amoroso e seguro, precisamos urgentemente repensar nossas escolas. Senão vamos continuar repetindo erros e excluindo no lugar de incluir, vamos continuar limitando no lugar de ampliar, vamos continuar domesticando no lugar de educar.

*Vinicius Campos, escritor e pai de 3 adolescentes – Colunista do Papo de Mãe.
instagram: @viniciuscamposoficial

Assista ao Papo de Mãe sobre o papel social da escola. 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Papo de Mãe. 

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