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É utopia pensar na ética médica na amamentação? Parte 2

O pediatra Moises Chencinksi fala sobre a ética médica e experiências com vidas de recém-nascidos que importam

DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 17/03/2022, às 09h45

"O Código de ética Médica estabelece questões éticas que justificariam suspender ou nem aprovar esse estudo". Dr. Moises Chencinski
"O Código de ética Médica estabelece questões éticas que justificariam suspender ou nem aprovar esse estudo". Dr. Moises Chencinski

Só recapitulando. São 4 artigos para analisar o tema. A parte 1 foi aquela do meu artigo sobre o “Lobo em pele de cordeiro”, mostrando a “experiência com vidas humanas que importam”, de forma que foi considerada ética. Então... já que o tema é a ética...

Assista ao Papo de Mãe sobre rede de apoio à amamentação.

O Código de Ética Médica

Em sua versão mais recente, princípios estabelecem questões éticas que justificariam suspender ou nem aprovar esse estudo. Vou citar alguns (tem mais).

Capítulo I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

  • XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção, independência, veracidade e honestidade, com vista ao maior benefício para os pacientes e para a sociedade.
  • XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa.

Capítulo III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

  • Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.
  • Art. 20. Permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou do financiador público ou privado da assistência à saúde, interfiram na escolha dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento disponíveis e cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do paciente ou da sociedade.

Capítulo XII - ENSINO E PESQUISA MÉDICA

É vedado ao médico:

  • Art. 104. Deixar de manter independência profissional e científica em relação a financiadores de pesquisa médica, satisfazendo interesse comercial ou obtendo vantagens pessoais.
  • Art. 109. Deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações apresentadas, bem como deixar de declarar relações com a indústria de medicamentos, órteses, próteses, equipamentos, implantes de qualquer natureza e outras que possam configurar conflitos de interesse, ainda que em potencial.

Em uma análise muito interessante, foram avaliados 4 princípios da Ética Médica:

  • Não-maleficência: O médico deve tomar decisões que causem o menor dano ao seu paciente.
  • Autonomia: Direito do paciente de emitir sua opinião, rejeitar ou aceitar o que o médico lhe propõe, de forma livre, voluntária e esclarecida e do médico, de emitir sua opinião, podendo rejeitar solicitações que sejam contrárias à sua consciência e ao seu conhecimento.
  • Beneficência (diferente de não-maleficência): Praticar o bem para o outro, de acordo com o melhor interesse do paciente (aumentar os benefícios e reduzir o prejuízo).
  • Justiça: Princípio da equidade como condição essencial da Medicina, com imparcialidade de nortear os atos médicos, impedindo que aspectos discriminatórios interfiram na relação entre médico e paciente.

Precisa desenhar? Se precisar, me avisa. Sou muito paciente para isso.

Veja também: 

Pondé, Pondé

Normalmente, não termino alguns textos do Luiz Pondé de forma “feliz”. E, dessa vez, ele foi cirúrgico (nenhuma intenção de trocadilho sobre a má medicina como ela é).

Ele traz todo o “glamour” que acompanhava a carreira médica, com seus sacrifícios desde a dificuldade do vestibular, do curso, da dedicação da própria vida em prol do aperfeiçoamento e do paciente.

Claro que a medicina continua sendo uma grande carreira, cheia de profissionais grandiosos, responsáveis e que salvam vidas, como vimos na pandemia...

Mas, se aqui ele assopra, a seguir ele morde muito... abordando “a "democratização" das faculdades de medicina inundou o mercado da formação na carreira. Esse fato, por sua vez, inundou o mercado com profissionais medíocres e mal formados.”

E segue: “O que essas faculdades que custam de R$ 10 a 15 mil mensais têm a ver com os escândalos recentes de operadoras de saúde de baixo custo?

De partida, elas indicam que a única seleção nessas faculdades de medicina de ocasião é quem pode pagar essa grana. Nem a qualidade do curso nem a qualidade de quem entra nele importa muito”.

Como deixar esse parágrafo de fora?

Essa parceria reúne investidores no mercado da saúde, médicos mal formados em busca de carreiras e salários, agências reguladoras e associações de classe de comportamento duvidoso e muito marketing mentiroso - pura redundância. A saúde sempre foi uma área de exploração do grande capital e da grande corrupção, que costumam andar lado a lado.

E o fechamento deixando essa cicatriz para sempre: “A vida não vale nada em quase nenhuma parte do mundo, apesar do heroísmo de alguns.”

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

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