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Ela aprendeu libras com a Xuxa e topou o desafio de ensinar surdos a "falar" inglês

Dia 26 de setembro é o Dia Nacional do Surdo. Entenda a como lidar com a deficiência auditiva a importância da língua brasileira de sinais

Raphael Preto Pereira* Publicado em 26/09/2021, às 14h45

26 de setembro, Dia Nacional do surdo
26 de setembro, Dia Nacional do surdo

O primeiro contato da professora Aline Nunes de Sousa com a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) foi ainda na infância, mas não na escola. A primeira vez que ela conheceu essa forma de comunicação, foi assistindo ao programa da Xuxa, na década de 80: “Via o programa com os meus irmãos e a Xuxa sempre cantava aquela música do Abecedário: “A de amor, B de baixinho, C de coração. E enquanto ela cantava fazia com as mãos o alfabeto em LIBRAS, foi assim que eu aprendi.” Lembra a professora.

Ela também se recorda que na sua vizinhança havia um menino surdo com uma idade próxima a dela e até hoje ela acha que o garoto não sabia LIBRAS, ela nunca o viu utilizar essa forma de comunicação.

Anos depois, Aline entrou na Universidade Estadual do Ceará para cursar uma licenciatura em inglês e português - pois sempre teve a intenção de lecionar. Seu primeiro emprego, ainda na graduação, foi numa gráfica que prestava serviço para uma escola. Essa gráfica contratou como digitadora uma mulher surda.

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“Eu me lembro que fui a pessoa que mais interagia com ela. Porque sempre a perguntava como dizer as coisas em LIBRAS sempre perguntava os sinais, a gente foi interagindo e, com o básico que eu sabia do alfabeto, fui descobrindo outras coisas. Se eu queria saber como escrevia alguma coisa, por exemplo, eu soletrava com os sinais, ou escrevia no papel",  lembra a educadora, que não descarta a possibilidade de que a colega tenha sido contratada por causa da lei de cotas, que já estava em vigor na época.

A convivência no trabalho durou pouco tempo porque Aline acabou arrumando outro trabalho e seguiu com a faculdade, até que ficou sabendo que uma escola bilíngue, que é como são chamadas as escolas que atendem apenas pessoas surdas, procurava professores com conhecimento mínimo em Língua Brasileira de Sinais para dar aulas do idioma para os estudantes.

Ela pôde assumir as classes mesmo estando no sexto semestre da licenciatura, já que faltavam educadores com conhecimento em inglês e na língua da comunidade surda. Isso só começou a mudar com um decreto editado em 2005 que obrigou o ensino da língua nos cursos de licenciatura do Brasil.

O documento afirma que:  “A LIBRAS deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

Quando Aline  começou a dar aulas, ainda sem a legislação específica, foi a amiga que ela conheceu na gráfica em que trabalhava que serviu como “avalista” do seu trabalho. "Foi ela que garantiu para a diretora da instituição naquela época que eu saberia trabalhar com os surdos”, comemora Aline. 

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A partir das suas experiências na sala de aula e depois, em cursos de extensão em universidades pelas quais passou, ela diz que nunca duvidou da capacidade da Língua Brasileira de Sinais no processos de ensino.

“A comunidade surda tem facilidades e dificuldades no aprendizado de inglês, como acontece com todo mundo”, explica.

“Mas os surdos ficam muito felizes quando veem, por exemplo, que não há muita variação dos verbos no inglês porque essa estrutura é muito parecida com a LIBRAS.” Comemora a educadora.          

*Raphael Preto Pereira é repórter do Papo de Mãe

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