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O uso do celular

Em mais um episódio de sua série, Stella Azulay fala sobre o uso do celular por crianças e adolescentes e como os pais devem agir em relação a isso

Maria Cunha* Publicado em 19/12/2021, às 06h00

Stella Azulay é colunista do Papo de Mãe
Stella Azulay é colunista do Papo de Mãe

É comum que os pais tenham o sentimento de estar sempre competindo com o celular dos filhos. A colunista do Papo de Mãe, Stella Azulay, fundadora e diretora da Escola de Pais e Adolescentes XD, conta que ao passo que os filhos estão colados com a cara no celular, isso vai gerando uma aflição. 

“Ao mesmo tempo, nós, pais, também estamos ali grudados nos celulares e aí a gente se sente com aquela síndrome de impostor, porque a gente não quer que os nossos filhos fiquem no celular e, ao mesmo tempo, nós também ficamos no celular”, explica Stella Azulay.

A colunista pontua que isso acaba deixando o discurso, o posicionamento e a postura dos pais, enfraquecidos, porque como é que eles podem pedir ou exigir algo dos filhos que eles mesmos não conseguem? A solução de Stella é olhar, primeiro, para as diferenças de fases dos filhos. 

“A gente pega aquelas crianças que estão na fase do período crítico, de zero a oito, nove anos de idade, onde o cérebro está com mil conexões neuronais acontecendo e, ainda, nós temos o poder maior de controle do uso de celular dos nossos filhos. É importante a gente entender que nós temos que aprender a lidar com aquilo que existe, é acessível e todo mundo usa, sabendo que a gente tem que fazer isso de uma forma inteligente, consciente e, principalmente, com regras”. 

Assista ao vídeo da Stella Azulay sobre o uso das telas pelos mais novos

Crie uma regra de quanto tempo a criança pode usar o celular 

A primeira dica da diretora para os pais é que já exista, desde que os filhos são pequenos, um limite de tempo para o uso do celular. O objetivo é criar uma cultura de regras em relação aos aparelhos, tendo uma diferença entre o uso dos filhos e dos pais, pois Stella reforça que pai é pai e filho é filho. 

“Tudo bem a criança querer mexer no celular, e não existe uma regra ‘A partir de que idade é aconselhável’. Eu diria que quanto mais tarde, melhor, mas tudo depende da realidade de cada família, de cada criança, de cada pai e mãe, de cada responsável”. 

A colunista explica que atrasar ao máximo o uso do celular é uma prática saudável, porque a criança vai estar desenvolvendo outras habilidades que, depois, vão ficar bem mais escassas. 

“Quanto mais deixar a criança usar a criatividade dela, mexer com as mãos - às vezes você dá um presente para a criança, como um carrinho, e a criança nem brinca com o carrinho, brinca com a caixa, desmonta a caixa de papelão, gosta de montar -, estimular bastante, o máximo que puder, esses usos sensoriais diferenciados, que utilizem bastante a criatividade da criança fora das telas”, reflete Stella. 

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Quando a criança começa a ter contato com o celular 

O celular é um objeto leve e pequeno. Stella Azulay conta que, ao ver todo mundo mexendo, a criança quer mexer também. Assim, rapidíssimo, ela começa a descobrir muitas coisas, o que os pais até acham engraçadinho, mas é muito importante que esse período seja colocado, primeiro, para a criança usar e entender que ela tem o horário com acesso ao celular e, também, que existe um controle sobre o que ela está vendo. 

“Isso é muito importante, porque os pais já criam essa autoridade desde sempre, entendendo que eles que colocam os limites”. 

Sobre os pais sempre estarem observando o que a criança olhou, algumas dúvidas são recorrentes, como o uso, ou não, de filtros. Mais uma vez, Stella reforça que irá depender de cada família. 

“É claro que o perigo existe e é sempre bom ter algum tipo de filtro no celular, mas tem pais que preferem usar o diálogo e a confiança. Se você tem esse domínio, é muito bom. Se você não tem, é importante um filtrinho, sim”. (Stella Azulay)

O pré-adolescente e o uso descontrolado do celular 

A adolescência é uma fase popularmente conhecida por ser um pouco mais complicada. Em relação aos celulares, a diretora da Escola de Pais e Adolescentes XD pontua que o pré-adolescente e o adolescente vão se tornando muito viciados. Se eles vão para os lugares ou saem em público, por exemplo, eles parecem que não tiram a cabeça do celular. 

“Quando você chegar para seu filho e falar: ‘Você está usando muito o celular! Para! Sai desse celular!’, que opções você está oferecendo fora do celular? A gente tem que se preocupar com isso. Que tipo de estímulos ele vai receber e que outras atividades ele tem acesso? Quanto você pode se dedicar a isso? Quanto você pode oferecer pra ele? É importante, porque ele vai desenvolvendo, também, outras áreas do cérebro, onde ele vai usar a escrita, onde ele vai usar as mãos, onde ele vai ter que raciocinar de uma outra forma, usando um outro lado”, explica Stella Azulay. 

A colunista do Papo de Mãe ainda detalha que é essencial poder abrir um diálogo sobre o uso excessivo do celular e fazer com que os filhos entendam que existe um mundo com o qual eles vão precisar interagir. Fazê-los pensar sobre o assunto. 

“A conversa é essencial na hora de lidar com o uso de tecnologia dos nossos filhos. O Mundo está avançando cada vez mais no que se trata de tecnologia, que tem que ser uma aliada nossa. O celular é uma janela para o Mundo. Com o celular você paga conta, interage com as pessoas, trabalha, estuda, o celular está ali para tudo e você carrega aonde quer que seja, então ele tem que se tornar amigo, não inimigo”. 

Para ele se tornar amigo, então, Stella relembra a importância de uma conscientização prévia e um autocontrole dos pais, já que dão exemplo para os filhos. Uma sugestão é, por exemplo, a adoção de um ou dois dias da semana em que se faça uma refeição sem o celular na mesa para estimular a conversa. 

“Temos que conseguir aliar tudo para a família conseguir caminhar no mesmo ritmo, na mesma sinergia, com aquelas regras, dentro daqueles padrões. E a conversa, o diálogo aberto explicando os motivos pelos quais você não acha saudável que ele continue o tempo todo naquele celular e poder dedicar um pouco do seu tempo, da sua disposição interna e externa, o tempo real com seus filhos”. 

Isso é muito importante, segundo a colunista, na construção da decisão de quanto tempo aquela criança, aquele pré-adolescente e aquele adolescente vai ficar no celular. Com isso, é possível que ele tenha autonomia e, sozinho, decida que chega, que está demais, que já não está saudável, e que ele pode ter prazer em outras atividades, interagindo de outras maneiras com o mundo.

“Então fica essa dica para que os pais mudem um pouquinho essa chave e entendam que a tecnologia e o celular não são, necessariamente, inimigos, mas alguém com quem você tem que aprender a conviver, quase uma entidade dentro da família, dentro da casa, com quem você tem que aprender a conviver e tratar de forma amigável para que seja um aliado seu na educação dos seus filhos e não seu arqui-inimigo”. 

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*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe

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