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Por faixa etária: como cuidar da saúde mental das crianças nas férias?

Psicóloga explica o que pode ser feito para evitar o impacto do isolamento social e do medo constante durante a pandemia

Sabrina Legramandi* Publicado em 08/07/2021, às 10h28

Psicóloga explica o que deve ser observado e quando procurar ajuda
Psicóloga explica o que deve ser observado e quando procurar ajuda

As férias de julho chegaram e, em circunstâncias normais, seria o momento para que as crianças encontrassem os amigos, viajassem e fizessem atividades sociais. Em 2021, sabemos que a pandemia trouxe várias restrições e, dentre elas, o isolamento social.

A falta de convivência, para muitos pequenos, traz também um problema: os riscos à saúde mental. Segundo um estudo realizado com crianças pela USP (Universidade de São Paulo), dentre 9 mil participantes, 9% apresentaram sintomas de ansiedade e 12%, de depressão.

Nas férias, o risco se torna ainda maior sem a convivência diária, mesmo que virtual, com os amigos. A psicóloga Alice Munguba, especialista em Clínica Psicanalítica Infantil, explica que a escola, além da família, é o lugar em que a criança aprende a conviver socialmente. “Nós dependemos do outro para aprender a viver em sociedade. E, sem a escola, a criança sente o efeito de não ter uma criança para brincar”, afirma.

Foi pensando nisso que ela deu algumas dicas, ao Papo de Mãe, do que pode ser feito – e do que pode ser permitido – para que as crianças não sintam o impacto do isolamento na saúde mental. Além disso, Alice também acende o alerta para quando algumas práticas devem virar motivo de preocupação.

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Confira, a seguir, as orientações divididas por faixa etária.

Para crianças até 5 anos, estar ao ar livre é essencial

Alice explica que, até os 5 anos, a criança está tendo o seu primeiro contato com o mundo. Para ela, tocar, sentir a textura das coisas, sentir a grama faz parte do desenvolvimento para que a criança veja como o mundo funciona.

Mas como colocar isso em prática em um mundo pandêmico? A psicóloga dá dicas: ir a lugares abertos, como praças e parquinhos, e manter a distância entre as outras pessoas. “Mesmo que ela não possa estar em contato com outras crianças, o seu corpo deve estar em movimento”.

Ela também dá opções para evitar o excesso de tempo gasto nas telas. Brincar de massinha, reciclar caixas de leite e criar um robozinho são opções para que a criança estimule a sua criatividade, tão importante nessa faixa etária.

“No momento de isolamento, quanto mais a gente puder criar e inventar, mais a gente sai dessa coisa de um medo iminente, desse risco que está lá fora. Assim, as crianças deixam de ver o mundo como algo perigoso” (Alice Munguba)

Incentive as crianças mais velhas a entrarem no mundo dos livros

Alice Munguba explica que incentivar a leitura a partir do momento em que a criança aprende a ler é muito importante para o desenvolvimento e para a saúde mental. Ela dá algumas opções de livros: Diário de um Banana, Pollyanna Menina, Pollyanna Moça ou Harry Potter sempre agradam aos pequenos.

A psicóloga afirma que, nessa faixa etária, algumas já jogam online: esconde-esconde ou pega-pega são opções disponíveis na internet. Para ela, é uma forma de interação e de colocar algo em movimento, mesmo que seja um avatar virtual.

Andar de bicicleta ou jogar bola ao ar livre, seguindo todos os protocolos, também são alternativas. Além disso, incentivar que elas brinquem com as crianças que já convivem com elas, como irmãos ou primos, também é importante.

Na adolescência, as interações virtuais ganham força

Quando a criança se torna um adolescente, ela passa a querer interagir socialmente. Em tempos de distanciamento social, plataformas como o aplicativo de mensagens WhatsApp, as de chamada de vídeo ou o Discord, ferramenta de comunicação para jogos, passam a ser muito usadas.

Alice, porém, afirma que adolescentes introvertidos podem estar mais propensos ao isolamento e a desenvolver ansiedade. Ela lembra, de novo, que é necessário incentivar interações, mesmo que virtuais.

“O que eu tenho percebido é que eles não têm conversado tanto com colegas da escola, mas têm feito amizades virtuais, com pessoas do Brasil todo. Eles se unem pelo mesmo interesse: o gosto pela cantora Taylor Swift, por exemplo. São “tribos” online que acabam suprindo emocionalmente a carência deles”, relata a psicóloga.

Mas eu posso permitir que meus filhos passem tempo jogando virtualmente?

Alice Munguba diz que muitos pais, ou até profissionais, têm muita reticência com a questão dos jogos virtuais. Para ela, o excesso de uso, quando retira a convivência social com a família, pode ser danoso. Nas circunstâncias em que estamos, porém, para muitos, jogar virtualmente é a única forma de interação com os amigos.

“Eu atendo um menino que não vê outras crianças há mais de um ano. Ele marca encontros online com os amigos, porque é a única forma que ele têm de brincar e interagir”, ela exemplifica.

Alice afirma que, enquanto para alguns os jogos servem como uma “anestesia” do mundo real, para outros, pode ser uma saída criativa.

“Os pais devem estar atentos, às vezes até jogando junto, vendo como é. É algo que os adultos podem ter uma tolerância maior e, em cada caso, ir avaliando.” (Alice Munguba)

Quando acender o alerta e procurar ajuda profissional?

A psicóloga resume a resposta em uma afirmação: quando algo que chama a atenção muda na rotina da criança. “Se ela dormia bem e parou de dormir bem, se ela dormia sozinha e passou a dormir com os pais, se ela tinha rotina de alimentação estável e não está querendo comer ou está comendo demais”, ela exemplifica.

Alice relata também que há casos de crianças que passam a ter tiques nervosos, como morder os dedos, arrancar os cabelos e vários outros. Também há crianças que adquirem a “mania” de lavar a mão constantemente, com medo de sujeira.

“O limite sempre é: quando há uma mudança de comportamento da criança.” (Alice Munguba)

*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe

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