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Crianças que matam: o que está acontecendo com elas?

Stella Azulay comenta os recentes casos de assassinatos cometidos por crianças, questiona o que está acontecendo com elas e influência dos familiares nisso

Maria Cunha* Publicado em 04/04/2022, às 10h30 - Atualizado às 10h31

Stella Azulay é colunista do Papo de Mãe
Stella Azulay é colunista do Papo de Mãe

Um tema extremamente preocupante vem ocupando com frequência a mídia nos últimos tempos. Cada vez mais, nós vemos crianças e adolescentes extremamente agressivos assassinando pais, parentes e amigos.

Os mais recentes acontecimentos foram no último mês, em que um menino, de 13 anos, matou a mãe, o irmão mais novo e quase matou o pai, alegando que sofria violência psicológica e agressões em casa, e que a gota d’água teria sido proibições dos pais e a limitação do uso de celular. Outro caso ocorreu com um adolescente, de mesma idade, que está no oitavo ano e matou com 10 facadas e em plena sala de aula uma colega de classe, de 12 anos, numa escola particular da Zona Leste de São Paulo. Uma outra criança veio até tentar ajudar e acabou se ferindo também.

Nos noticiários, saiu também que uma adolescente, de 15 anos, matou o pai com golpes de machado e a madrasta a facadas, em Betim, Minas Gerais. Ela disse que sofria tortura psicológica do pai. Por fim, outra notícia, também neste ano, no Acre, foi a confissão de uma menina de 14 anos que revelou ter assassinado a tia com vários golpes de faca. Foi encontrado o diário da menina, onde o crime já estava premeditado e, segundo a família e pessoas conhecidas, os familiares viviam em plena harmonia.

Em mais um vídeo de sua coluna, Stella Azulay traz perguntas e respostas importantes que pais e responsáveis devem se fazer para que não sejam surpreendidos amanhã com comportamentos indesejáveis de seus filhos.

“O que isto tem a ver com a gente? Que tipo de mensagem a gente precisa refletir ouvindo este tipo de notícia? De onde vem tanta agressividade no pensamento?”

Assista ao vídeo completo:

Segundo a colunista, a agressão começa no pensamento, começa no coração e até chegar à ação teve um processo interno. Por isso, é necessário questionar aonde as crianças e adolescentes, os nossos filhos, estão absorvendo agressividade e de onde vem a falta de sensibilidade com pessoas próximas.

“Onde se ultrapassa a linha tênue do limite da sensibilidade? Onde a hierarquia e o respeito foram completamente abandonados por estas crianças e adolescentes? O que está acontecendo com elas? E a pergunta traz a gente para uma outra pergunta mais profunda, mais séria ainda. O que está acontecendo com a gente como pais?” (Stella Azulay). 

Esta, para Stella, é a grande questão,pois, por mais que se possa pensar em casos em que estejam falando de distúrbios psicológicos, o que existe, é possível e foge do nosso alcance, temos responsabilidade sobre isso.

“Nós somos os adultos, nós temos que entender o que está acontecendo ao nosso redor. Hoje, cada vez mais famílias são surpreendidas. Eu recebo pais, em aconselhamentos e mentorias que eu dou, que chegam apavorados, porque foram surpreendidos por atitudes dos filhos que eles jamais imaginariam que os filhos seriam capazes, em diversos níveis, em diversas direções”.

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A partir disso, a colunista traz como dica aos pais, em primeiro lugar, que observem como eles mesmos vêm se comportando. Se os filhos estão mentindo, será que não são os pais que estão passando mensagens onde os pequenos veem que a mentira, paraos adultos, não tem importância? Se os filhos estão agressivos, respondendo com agressividade, usando de violência física e verbal, será que os pais não estão fazendo uso deste tipo de comunicação, sendo agressivos e aquilo é a resposta? Será que os filhos não estão aprendendo com os pais este tipo de linguajar, de comportamento, de sentimento?

“Tem pais que, em uma frase, já demonstram ódio, rancor, raiva, este tom de agressividade, até mesmo que não seja diretamente com os filhos, mas que seja comentando de outra pessoa, falando de outra pessoa”.

Assim, o primeiro convite que a colunista faz aos pais, educadores, tios, quem quer que seja que esteja educando uma criança, é perceber como você vem se comportando, que mensagem você está passando para aquela criança, para aquele adolescente, como você vem se comunicando com ele, com ela.

“Esta é a primeira reflexão, porque os filhos são reflexos nossos. Eles escancaram quem nós somos e, às vezes, isto é uma dor muito dura, uma verdade muito difícil de ser encarada pelos pais. Depois, fiquem atentos ao que seus filhos estão assistindo, a que tipo de conteúdos eles estão tendo acesso. Que tipo de videogames, de informações? Eles estão sendo alimentados de quê, com o quê”, explica. 

A terceira pergunta que Stella indica que precisamos nos fazer, em relação aos nossos filhos, é: com quem eles andam? É de extrema importância saber com quem as crianças e adolescentes andam e quais são as pessoas que os influenciam, já que eles podem estar sendo influenciados por pessoas e grupos, da idade deles ou adultos, que sejam desconhecidos, que estejam ensinando para eles coisas que fogem completamente do padrão de valores daquela família. Para isso, é necessário o diálogo, a conversa aberta, os pais precisam saber o que os filhos pensam e sentem.

“Nós não podemos ter medo de abrir conversas que escancarem nossa vulnerabilidade, precisamos pôr temas na mesa que, por vezes, temos medo de lidar. Nós precisamos abrir os nossos corações para os nossos filhos, falar sobre as nossas fragilidades para que a gente descubra as deles”.

Stella ainda reforça que é preciso dizer que a raiva existe e todos a sentimos, mas é necessário explicar o que fazemos com a nossa raiva, como a controlamos e lidamos. Isso se aplica até mesmo quando se sente raiva dos próprios filhos. Ela exemplifica: “Filho, eu estou com raiva, isso me deixou com raiva de você, mas não é por isso que eu vou te agredir. Mas isso me magoou, me feriu. E como nós vamos reagir com isso?”. Assim, a colunista do Papo de Mãe lembra a importância de verbalizar e não fugir daquilo que a gente e sente que existe, sendo mais fácil lidar com o que é necessário no momento.

“Às vezes a gente sabe que tem um problema, que existe um sentimento negativo, às vezes a gente vê com os nossos olhos da alma, mas a gente fecha os olhos, finge cegueira, vira o rosto para aquele tema, para aquele assunto, para não ter que encarar, fingir que ele não existe e isso não pode acontecer. Um dia a conta chega, vai chegar para os nossos filhos, vai chegar para a gente e às vezes chega muito alta”, pontua a colunista do Papo de Mãe. 

Stella conclui ao lembrar que as pessoas precisam de ajuda, com elas mesmas, com seus comportamentos e para evoluir a relação com os filhos. E elas devem reconhecer isso.

“Precisamos usar esses casos trágicos e muito tristes, como uma oportunidade de reflexão e transformação, para que a gente olhe para dentro das nossas casas, da nossa família e para os nossos filhos. O assunto é muito sério e precisamos falar sobre isso: violência não é brincadeira e, normalmente, ela começa dentro de casa ou por omissão, ou por exemplo pessoal, ou por medo de se encarar alguns fatos”.

*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe

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